Do presidente Jair Bolsonaro e do paraguaio Mario Abdo Benítez, ambos de direita, aos esquerdistas Gustavo Petro (Colômbia), Luis Alberto Arce (Bolívia) ou Pedro Castillo (Peru), os mandatários latino-americanos pediram negociações para acabar com o conflito (Eduardo Munoz/Getty Images)
AFP
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 08h16.
Última atualização em 21 de setembro de 2022 às 09h13.
Quase todos os presidentes latino-americanos que discursaram nesta terça-feira (20) na Assembleia Geral da ONU pediram negociações para acabar com o conflito causado pela invasão russa da Ucrânia, que aprofundou a crise alimentar mundial, disparou os preços da energia e desencadeou a inflação.
Do presidente Jair Bolsonaro e do paraguaio Mario Abdo Benítez, ambos de direita, aos esquerdistas Gustavo Petro (Colômbia), Luis Alberto Arce (Bolívia) ou Pedro Castillo (Peru), os mandatários latino-americanos pediram negociações para acabar com o conflito que, como disse o presidente francês, Emmanuel Macron, está "fraturando" o mundo inteiro.
"Cessar-fogo imediato" e "diálogo" foram alguns dos pedidos e exigências mais ouvidos na tribuna da ONU da boca dos líderes latino-americanos, assim como críticas às sanções impostas pela comunidade internacional para enfraquecer a determinação do presidente russo, Vladimir Putin, de dominar a Ucrânia.
"Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa", afirmou Bolsonaro, antes de alertar que "a estabilidade, a segurança e a prosperidade da humanidade correm sério risco se o conflito continuar".
O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, não concordou com essas afirmações: "As sanções não são a causa do problema", afirmou, acrescentando que o importante é que Putin "não se safe".
Diante da intenção da Europa de que a América Latina se junte à sua cruzada contra a Rússia, o presidente colombiano, Gustavo Petro, pediu que "não nos pressionem a nos alinharmos nos campos de guerra (...). Deixem os povos eslavos conversarem entre si".
Petro, assim como seu colega chileno Gabriel Boric, participou pela primeira vez do fórum diplomático mundial. O jovem presidente chileno pediu para que todas as medidas necessárias fossem tomadas para "parar a guerra injusta da Rússia contra a Ucrânia".
"Sempre defendemos a solução pacífica de qualquer disputa", disse o presidente argentino, Alberto Fernández. "É imperativo que todas as hostilidades desencadeadas cessem. Por isso, precisamos trabalhar juntos para impor o diálogo e restaurar a paz na disputa que começou com o avanço militar da Federação Russa no território da Ucrânia."
Soma-se à opção de diálogo o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, ausente desta reunião, que em 16 de setembro propôs a criação de uma comissão de diálogo e paz composta pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o Papa Francisco e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Segundo López Obrador, a missão pacífica buscaria um cessar-fogo imediato e o início de conversas diretas entre os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que participará da Assembleia Geral da ONU por vídeo nesta quarta-feira, e seu colega russo, Vladimir Putin, ausente da reunião mundial.
A posição da América Latina e de outros países em desenvolvimento que sofrem as consequências do conflito contrasta com a determinação de europeus e americanos, que não poupam ajuda para a Ucrânia expulsar os invasores russos.
Em um discurso inflamado, Macron assegurou que a invasão da Ucrânia pela Rússia causou um "retorno ao imperialismo".
"Aqueles que estão em silêncio agora sobre esse novo imperialismo, ou são secretamente cúmplices dele ou mostram uma nova forma de cinismo que está quebrando a ordem global, sem a qual a paz não é possível", disse Macron.
Os ocidentais reagiram indignados nesta terça-feira ao anúncio de Moscou de organizar referendos em várias regiões sob seu controle nos próximos dias.
Os Estados Unidos garantiram que "nunca reconhecerão" as anexações russas de território ucraniano, enquanto o chanceler alemão, Olaf Scholz, classificou o projeto russo de "farsa".