Cúpula do clima de Paris começa com apelo por 'choque de financiamento'; Lula participa do encontro
Quase 40 chefes de Estado, incluindo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, e líderes de organizações internacionais debaterão durante dois dias sobre apoiar os países mais vulneráveis diante do desafio duplo
Agência de notícias
Publicado em 22 de junho de 2023 às 08h04.
Última atualização em 22 de junho de 2023 às 08h04.
A reunião de cúpula de Paris que tem o objetivo de estabelecer um novo paradigma financeiro internacional começou nesta quinta-feira, 22, com um apelo para que os países em desenvolvimento não sejam obrigados a escolher entre financiar a luta contra a pobreza ou a mudança climática.
"Nenhum país deve ter que escolher entre reduzir a pobreza e proteger o planeta", afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron, no discurso de abertura do encontro, no qual defendeu um "choque de financiamento público" e mais investimentos privados.
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Quase 40 chefes de Estado, incluindo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, e líderes de organizações internacionais debaterão durante dois dias sobre apoiar os países mais vulneráveis diante do desafio duplo.
Em Roma, onde concedeu uma entrevista coletiva antes de viajar a Paris, Lula estabeleceu o tom ao afirmar que "os países desenvolvidos que desmataram suas florestas (...) e têm uma dívida histórica" devem agora "ajudar" financeiramente a América Latina e a África, "que precisam muito de investimentos e incentivos".
O objetivo do evento é revisar a arquitetura financeira internacional, que nasceu com os acordos de Bretton Woods em 1944, quando a prioridade era reconstruir a Europa, para adaptá-la aos desafios do século XXI, como a mudança climática.
A ideia, apresentada no fim de 2022 na reunião de cúpula do clima COP27 no Egito pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, parece ter ganhado força.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, insistiu na ideia durante a abertura da reunião em Paris ao destacar que "é necessário um novo Bretton Woods", que dependerá da "vontade política e não acontecerá da noite para o dia".
Os países em desenvolvimento consideram difícil obter acesso a financiamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), necessário para enfrentar ondas de calor, secas e inundações, assim como para combater a pobreza.
A jovem ativista Vanessa Nakate, de Uganda, pediu aos líderes reunidos na antiga sede da Bolsa de Paris, o palácio Brongniart, que respeitassem um minuto de silêncio por aqueles que "já sofrem fome, que foram deslocados, que abandonaram a escola".
Além de Guterres, a reunião conta com as presenças da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, do primeiro-ministro da China, Li Qiang, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Objetivo da cúpula
O objetivo da cúpula é ambicioso: criar musculatura financeira para enfrentar três crises interconectadas, a luta contra a pobreza, a descarbonização da economia e a proteção da biodiversidade, de acordo com Macron.
Embora o encontro tenha a aspiração de traçar um "mapa do caminho" para outras reuniões internacionais, já existem ideias sobre a mesa que incluem a ampliação da capacidade de empréstimo do FMI e dos bancos regionais de desenvolvimento, assim como o alívio da dívida dos países mais vulneráveis.
A França quer dar um "impulso político" à ideia de uma taxa internacional sobre as emissões de carbono do comércio marítimo, poucos dias antes de uma importante reunião da Organização Marítima Internacional (OMI). De acordo com especialistas, a taxa poderia arrecadar 20 bilhões de dólares por ano (96 bilhões de reais.
Entre as "ferramentas" há a ideia de reciclar 100 bilhões de dólares (480 bilhões de reais) em direitos especiais de saque, a moeda de reserva do FMI.
A secretária americana do Tesouro afirmou que Washington "pressionará" para que os credores dos países pobres e em desenvolvimento possam participar nas negociações de reestruturação de suas dívidas.
Show pelo planeta
A reunião acontece em um momento de desconfiança dos países em desenvolvimento, que criticam as nações ricas quando alegam não ter dinheiro para ajudar no combate à mudança climática e à pobreza, mas que apoiam a Ucrânia ou resgatam bancos norte-americanos.
As necessidades são imensas. Um grupo de especialistas independentes criado por iniciativa da ONU calculou que até 2030 os países em desenvolvimento, excluindo a China, precisarão investir mais de dois trilhões de dólares por ano (cerca de 9,6 trilhões de reais) para lidar com a crise climática.
A pressão da sociedade civil estará presente em Paris, onde jovens ativistas ecologistas, como a sueca Greta Thunberg e a equatoriana Helena Gualinga, participarão em um debate sobre o "poder do ativismo" no Teatro de Chatelet.
Durante a noite, artistas como Billie Eilish, Lenny Kravitz e Jon Batiste participarão de um show diante da Torre Eiffel, batizado de "Power our Planet", evento que também terá discursos de Lula e Thunberg.