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Culpe os países desenvolvidos pela crise dos refugiados

A ONU informou que o número de refugiados em todo o mundo está em seu nível mais alto em mais de uma década, mas os países riscos têm se livrado desse problema

Criança síria refugiada: de cerca de 10 milhões de refugiados em 2004, o número subiu para mais de 14 milhões no ano passado (REUTERS/Umit Bektas)
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Da Redação

Publicado em 23 de junho de 2015 às 18h12.

A Organização das Nações Unidas informou na semana passada que o número de refugiados em todo o mundo está em seu nível mais alto em mais de uma década.

De cerca de 10 milhões em 2004, o número subiu para mais de 14 milhões no ano passado.

Isso está colocando uma carga considerável sobre alguns poucos – e extremamente pobres -- países de acolhimento, uma situação que pode durar décadas.

O relatório sugere que mais da metade dos refugiados do mundo tem menos de 18 anos, o que significa que muitos terão ultrapassado por muito a meia-idade quando deixarem a condição de refugiados.

Guerras e revoluções políticas podem criar refugiados, mas é hora de reconhecer que o sistema global que lida com o problema está quebrado -- e isso acontece em grande parte porque o mundo industrializado faz muito pouco para ajudar a consertá-lo.

O aumento nos números resulta, em grande parte, do conflito em andamento na Síria , que por si só gerou 32,9 milhões de refugiados.

Juntamente com o Afeganistão e a Somália, o país é a origem de mais da metade da população de refugiados do mundo.

A maioria daqueles que fugiram de seus países de origem estão abrigados em alguns poucos países em desenvolvimento.

Quênia, Jordânia, Etiópia, Irã, Líbano, Paquistão e Turquia abrigam, cada um, mais de meio milhão de refugiados e, coletivamente, mais da metade da população de refugiados do mundo.

Em alguns dos países que recebem a maioria dos refugiados, os recém-chegados são direcionados a acampamentos semipermanentes. No Quênia, por exemplo, os refugiados foram direcionados para o acampamento Dadaab, a cerca de 100 quilômetros da fronteira somali.

Eles são proibidos de trabalhar e obrigados a viver em barracas abastecidas com ração alimentar da ONU. O Quênia, assim como o Paquistão e a Etiópia, mantém mais de 500.000 pessoas em acampamentos.

Em todo o mundo, mais de 3 milhões de pessoas vivem nesses em agrupamentos de acomodação “temporária” que podem se tornar permanentes rapidamente: o tempo médio que uma pessoa deslocada permanece longe de casa é de 17 anos.

Muitos estão no acampamento Dadaab desde a crise da fome na Somália, em 2001, ou há ainda mais tempo.

Desperdício

O ócio forçado faz com que os moradores dos acampamentos dependam da caprichosa generosidade da comunidade internacional para seu sustento: devido à falta de fundos, o Programa Alimentar Mundial anunciou na semana passada que cortaria cerca de um quarto das rações para Dadaab, reduzindo o fornecimento de calorias per capita diário para 1.520 (a oferta de alimentos nos EUA é de 3.800 calorias por dia).

A ociosidade também representa um imenso desperdício de potencial humano e cria um ambiente propício para a violência -- embora as evidências sejam escassas, o governo queniano ligou recentes ataques terroristas no país ao acampamento Dadaab.

Os países ricos estão, em grande parte, livres dessas preocupações -- o que pode ser a razão pela qual eles fazem tão pouco para solucionar o problema. Os EUA, que abrigam 267.000 refugiados, têm a metade da população de refugiados do Quênia e menos de um quinto da do Paquistão ou da Turquia.

Em uma base per capita, a carga de refugiados dos EUA representa um décimo da do Paquistão e menos de 7 por cento da carga suportada pelo Quênia. Enquanto isso, o PIB per capita nos EUA é 11 vezes mais elevado do que no Paquistão e 19 vezes maior do que no Quênia.

Os EUA -- e o restante do mundo industrializado -- deveriam estar assumindo a liderança para resolver o problema dos acampamentos permanentes, mas, embora envie recursos para alimentos e barracas, o país raramente contribui com soluções.

O mundo industrializado deveria distribuir o ônus do número de refugiados.

Como muitos refugiados do Iraque estão em perigo porque trabalham com o Exército dos EUA ou para o governo provisório, os EUA têm sido relativamente generosos permitindo-lhes a possibilidade de morarem nos EUA. Mas o país poderia estender essa generosidade para outras situações dos refugiados.

Se os EUA se comprometessem a oferecer abrigo seguro para 10 por cento da população global dos acampamentos de refugiados nos próximos cinco anos, isso aumentaria em menos de 1 por cento a entrada bruta de imigrantes nos EUA no período.

Juntamente com um maior apoio aos países de acolhimento, a atitude representaria um ato de liderança que poderia ajudar a eliminar a mancha moral global do status de limbo permanente de algumas das pessoas mais privadas de tudo no mundo.

São Paulo – Nunca antes o mundo observou um número tão grande de pessoas que, seja por guerras , pela pobreza ou perseguição política, foram forçadas a abandonarem os seus lares e buscarem refúgio em outros países. Estimativas recentes da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) revelam que há hoje no planeta 60 milhões de pessoas nestas condições. Só no ano passado, informa a agência, 20 milhões tornaram-se refugiadas. Deste total registrado em 2014, pouco mais da metade são crianças. A Síria, país que vive uma dura, confusa e violenta guerra civil, é o local que produz o maior número de refugiados e deslocados internos: 11,5 milhões. Não faltam alertas de entidades internacionais quanto ao agravamento da situação. “Para uma era de deslocamentos em massa sem precedentes, precisamos de resposta humanitária também sem precedentes” considera a Acnur. Para a Anistia Internacional, a mobilização dos líderes globais para lidar com este problema é “um vergonhoso fracasso”. A Europa é o destino mais procurado por refugiados da África e do Oriente Médio. A forma como a maioria tenta chegar lá, contudo, não poderia ser mais perigosa: navegando pelo Mediterrâneo em embarcações precárias e muitas vezes operadas por traficantes, milhares arriscam suas vidas diariamente. Muitos morrem durante a viagem. Outros conseguem pisar em terra firme desembarcando, por exemplo, na Itália, na Espanha ou na Grécia. Ao chegar, entretanto, a situação tampouco melhora. Sem ter para onde ir e com a roupa do corpo, a maioria destas pessoas passa a viver nas ruas, esperando conseguir algum trabalho para finalmente se reerguer. No mês em que se comemora o Dia Internacional dos Refugiados, EXAME.com compilou fotos que mostram o drama diário enfrentado por estas pessoas ao desembarcarem na Europa. Confira nas imagens.
  • 2. Itália

    2 /18(Dan Kitwood/Getty Images)

  • Veja também

    Em Lampedusa, um refugiado do norte da África caminha por uma praia, enquanto uma turista toma sol.
  • 3. Itália

    3 /18(Jean-Pierre Amet / Reuters)

  • Um grupo de refugiados se protege com cobertores de emergência durante uma tempestade. Estas pessoas são de diferentes lugares, como Eritreia e Sudão, e haviam tentado atravessar da Itália para a França, mas não conseguiram.
  • 4. Itália

    4 /18(Patrick Aventurier/Getty Images)

    Refugiados são fotografados nas pedras em uma praia italiana que fica na fronteira com a França. Neste local, explica a Reuters, há cerca de 200 pessoas de locais como Líbia, Sudão e Eritreia que tentavam entrar em território francês, mas tiveram sua passagem negada pelas autoridades do país.
  • 5. Itália

    5 /18(Eric Gaillard / Reuters)

    Um refugiado se cobre com uma bandeira do Reino Unido em Saint Ludovic, fronteira entre a Itália e a França.
  • 6. Itália

    6 /18(Tullio M. Puglia/Getty Images)

    Um caixão de uma criança refugiada é fotografado dentro do carro que o transportaria ao cemitério. A criança, conta a Reuters, morreu durante um naufrágio de uma embarcação com mais de 200 pessoas que terminou com a morte de outras 16.
  • 7. Espanha

    7 /18(Borja Suarez / Reuters)

    Nas Ilhas Canárias, um casal de turistas observa um grupo de imigrantes na praia.
  • 8. Espanha

    8 /18(Alexander Koerner/Getty Images)

    No enclave espanhol de Melilha, norte da África, uma autoridade da fronteira ajuda um homem desidratado que tentava atravessar deixar o Marrocos. Todos os dias, dezenas de africanos tentam pular esta cerca divisória em busca de melhores condições de vida.
  • 9. Espanha

    9 /18(Jose Palazon / Reuters)

    Golfistas observam refugiados africanos que tentavam pular a cerca entre o enclave espanhol de Melilha e o Marrocos.
  • 10. Espanha

    10 /18(Juan Medina / Reuters)

    Nas Ilhas Canárias, um refugiado rasteja na praia e é observado por um grupo de turistas ao fundo.
  • 11. Grécia

    11 /18(Dan Kitwood/Getty Images)

    Uma turista observa a chegada de homens na praia da Ilha de Kos.
  • 12. Grécia

    12 /18(Dan Kitwood/Getty Images)

    Dezenas de refugiados se misturam aos turistas na Ilha de Kos, Grécia. A maioria destes refugiados chega ao país pela Turquia.
  • 13. Grécia

    13 /18(Dan Kitwood/Getty Images)

    Refugiados paquistaneses chegam na Ilha de Kos depois de deixarem a Turquia. Apenas em 2015, 30 mil pessoas desembarcaram no país.
  • 14. Grécia

    14 /18(Dan Kitwood/Getty Images)

    Refugiados paquistaneses chegam na Ilha de Kos depois de deixarem a Turquia. Apenas em 2015, 30 mil pessoas desembarcaram no país.
  • 15. Grécia

    15 /18(Dan Kitwood/Getty Images)

    Refugiados são fotografados em uma fila do lado de fora de uma delegacia na esperança de conseguir documentação que permitam que sigam viagem na Europa. De acordo com a Reuters, a Ilha de Kos, um dos locais que mais recebeu imigrantes, registrou uma queda no número de turistas por conta desta crise.
  • 16. Grécia

    16 /18(Ognen Teofilovski / Reuters)

    Imigrantes sírios caminham nos trilhos entre a Macedônia e a Grécia.
  • 17. Hungria

    17 /18(Bernadett Szabo / Reuters)

    Uma menina afegã é fotografada no meio de uma estrada entre a Hungria e a Sérvia. Apenas em 2015, o território húngaro recebeu mais de 60 mil refugiados, que entraram no país ilegalmente. Para conter esta onda, país planeja construir um muro de 4 metros de altura em toda a sua fronteira.
  • 18. Agora conheça as dimensões da crise mundial de refugiados

    18 /18(Massimo Sestini/World Press Photo/Handout via Reuters)

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