Primeira a voltar, empresa suspende cruzeiros após 41 casos de coronavírus
A norueguesa Hurtigruten foi a primeira a retomar cruzeiros durante a pandemia. Havia ao menos 1,7 milhão de euros em reservas para as próximas viagens
Carolina Riveira
Publicado em 3 de agosto de 2020 às 12h06.
Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 15h54.
Primeira empresa a retomar os cruzeiros na pandemia, a norueguesa Hurtigruten cancelou todas as viagens planejadas após uma escalada de casos de coronavírus dentro de suas embarcações que veio a publico na semana passada.
Ao menos 41 passageiros e funcionários foram infectados em dois cruzeiros da empresa. As embarcações saíram da cidade norueguesa de Tromso rumo a um arquipélago no Ártico, no fim de julho.
O movimento da Hurtigruten de voltar a fazer cruzeiros já havia sido visto com desconfiança em meio ao drama particular que afetou o setor diante do coronavírus.
No começo da pandemia, os cruzeiros estiveram no centro do debate com casos emblemáticos de contaminação em cadeia dentro dos navios. O caso mais conhecido foi o do navio Diamond Princess, estacionado no porto japonês de Yokohama e que teve mais de 200 pessoas com o vírus. Outro foi o MS Westerdam, que, com mais de 2.000 pessoas a bordo, foi rejeitado por cinco portos até conseguir atracar no Camboja.
A Hurtigruten disse que, além de suspender suas próximas viagens planejadas, irá revisar todos os seus procedimentos. "Essa é uma situação muito séria para todos que foram afetados. Não fomos bons o suficiente e cometemos erros. Em nome de todos na Hurtigruten, sinto muito pelo que aconteceu", disse o presidente Daniel Skjeldam.
A empresa é controlada pela empresa de private equity do Reino Unido TDR Capital. Segundo uma investigação da polícia norueguesa, a companhia não cumpriu regras básicas de distanciamento e higiene dentro do navio, o que resultou na cadeia de contaminação.
As pessoas que saíram dos navios, posteriormente, se dirigiram para dezenas de cidades na Noruega e no exterior, o que alarmou a população do país -- que tem pouco mais de 9.000 casos de coronavírus e vem sendo apontado como um dos exemplos no combate à pandemia. Dentre os infectados, a maior parte são funcionários vindos das Filipinas.
A Hurtigruten foi ainda criticada por ter demorado a informar aos passageiros e funcionários que tinha encontrado um caso de coronavírus na embarcação em que eles estiveram, o que aconteceu na semana passada.
O setor de cruzeiros, com luxos a bordo que incluem até pista de kart e milhares de pessoas em uma única embarcação, transportaram em 2019 cerca de 30 milhões de pessoas, com faturamento de 45 bilhões de dólares.
A projeção para 2027, feita antes da pandemia, era que o setor chegasse a faturamento de 57 bilhões de dólares. Agora, não se sabe ao setor como o coronavírus vai impactar o segmento -- e a confiança dos passageiros -- no médio prazo.
O episódio envolvendo a Hurtigruten foi considerado um constragimento para todo o setor de cruzeiros, que vinha afirmando que já estava em condições de retomar as atividades e que cumpria regras rigorosas para evitar episódios como os do começo da pandemia.
Antes do episódio, a empresa disse que traria 14 de seus 16 navios de volta às atividades já nos próximos meses. Agora, o futuro fica incerto. Uma das subsidiárias da Hurtigruten disse ao jornal Financial Times que tinha acumulado 1,7 milhão de euros em reservas até outubro só para um de seus navios, que agora precisarão ser canceladas.