Exame Logo

Crise leva a mais ocupações de imóveis na Itália

Desemprego e a crise econômica no país fizeram muitos habitantes se mudar para imóveis ocupados ilegalmente

Desemprego, Henok Mulugeta joga futebol com seus amigos em prédio onde vive com sua namorada em Roma, na Itália (Tony Gentile/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 09h45.

Roma - Quando Mariangela Schiena se mudou do sul da Itália para Roma, há 11 anos, queria apenas uma vida simples, um teto sobre sua cabeça e um lar onde pudesse começar uma família.

Mas ela e seu namorado, Henok Mulugeta, de 28 anos, perderam há seis meses seus empregos em lojas, devido à crise econômica no país, e então ela decidiu que só havia uma alternativa: se mudar para um imóvel ocupado ilegalmente.

"Tudo estava ficando mais caro, não só as contas, e não conseguíamos chegar ao fim do mês", disse Schiena, de 31 anos, tremendo de frio junto a um aquecedor portátil, num arquivo público abandonado, na periferia romana.

"Na primeira noite que dormi aqui, acordei de manhã e pensei: que legal! Não preciso mais pagar aluguel. Não preciso mais me preocupar em chegar ao fim do mês." A solução radical desse casal reflete os crescentes problemas vividos por jovens, imigrantes e outras pessoas assoladas pela recessão do último ano na Itália -- um assunto crucial na campanha para a eleição nacional que deve acontecer em fevereiro.

O primeiro-ministro Mario Monti já elevou impostos e cortou gastos públicos para tentar reduzir a enorme dívida pública. Essas medidas agradaram aos investidores, mas aprofundaram a crise econômica na terceira maior economia da zona do euro, com grandes efeitos para as empresas e os consumidores.

O desemprego juvenil supera atualmente os 35 por cento, o triplo da taxa geral, e as empresas geralmente oferecem aos jovens apenas contratos temporários, com benefícios limitados, o que significa que eles precisam morar com os pais ou emigrar.


Por causa de tudo isso, gente como Schiena diz ter perdido a fé nos políticos. "Eu costumava votar, mas nos últimos dois anos estou me abstendo em protesto. Todos os nossos políticos são corruptos", disse ela.

A prefeitura de Roma diz saber de cerca de 2.850 imóveis ocupados ilegalmente na capital, mas reluta em fazer comparações com as cifras de anos anteriores. Uma porta-voz limitou-se a dizer que o número de desocupações saltou de 157 em 2007 para 176 em 2011.

Schiena disse que de início se desanimou com as acomodações improvisadas, de um tipo antes usado apenas por grupos muito desesperados, como imigrantes ilegais.

Ela e Mulugeta, que é etíope, dividem o labirinto de corredores com 140 famílias, principalmente imigrantes de países como Tunísia e Equador. Eles dizem que cada vez mais pessoas estão participando de reuniões e protestos nos últimos meses, e pedindo para se mudar para o local.

O casal diz que foi difícil se adaptar às infiltrações no teto, aos banheiros compartilhados e aos vizinhos barulhentos, mas que o ambiente comunitário também tem benefícios. "Você não precisa se preocupar em passar fome", disse Mulugeta. "As pessoas checam seus vizinhos e se ajudam se eles precisam de algo." Há uma sala de recreação infantil no imóvel, um grande salão para festas e reuniões, um rodízio para a limpeza dos banheiros e árvores de Natal nos corredores. Schiena e Mulugeta aproveitaram o dinheiro ganho em faxinas esporádicas para mobiliar seu espartano quarto com eletrodomésticos, estantes e uma cama de casal. Eles têm até TV a cabo e videogame.

Embora não pretenda participar da eleição, o casal torce pela formação de um governo de esquerda, mais solidário com o drama dos jovens. "Ouvi algo sobre a Itália sair da crise. Mas todos os meus amigos estão perdendo seus empregos de um dia para o outro, não acho que a crise tenha acabado", disse Schiena. "Só queremos uma vida simples, uma vida tranquila, para criar um filho. Mas meu medo é que as coisas não mudem, e eu não possa viver a vida que queria." (Reportagem adicional de Tony Gentile)

Veja também

Roma - Quando Mariangela Schiena se mudou do sul da Itália para Roma, há 11 anos, queria apenas uma vida simples, um teto sobre sua cabeça e um lar onde pudesse começar uma família.

Mas ela e seu namorado, Henok Mulugeta, de 28 anos, perderam há seis meses seus empregos em lojas, devido à crise econômica no país, e então ela decidiu que só havia uma alternativa: se mudar para um imóvel ocupado ilegalmente.

"Tudo estava ficando mais caro, não só as contas, e não conseguíamos chegar ao fim do mês", disse Schiena, de 31 anos, tremendo de frio junto a um aquecedor portátil, num arquivo público abandonado, na periferia romana.

"Na primeira noite que dormi aqui, acordei de manhã e pensei: que legal! Não preciso mais pagar aluguel. Não preciso mais me preocupar em chegar ao fim do mês." A solução radical desse casal reflete os crescentes problemas vividos por jovens, imigrantes e outras pessoas assoladas pela recessão do último ano na Itália -- um assunto crucial na campanha para a eleição nacional que deve acontecer em fevereiro.

O primeiro-ministro Mario Monti já elevou impostos e cortou gastos públicos para tentar reduzir a enorme dívida pública. Essas medidas agradaram aos investidores, mas aprofundaram a crise econômica na terceira maior economia da zona do euro, com grandes efeitos para as empresas e os consumidores.

O desemprego juvenil supera atualmente os 35 por cento, o triplo da taxa geral, e as empresas geralmente oferecem aos jovens apenas contratos temporários, com benefícios limitados, o que significa que eles precisam morar com os pais ou emigrar.


Por causa de tudo isso, gente como Schiena diz ter perdido a fé nos políticos. "Eu costumava votar, mas nos últimos dois anos estou me abstendo em protesto. Todos os nossos políticos são corruptos", disse ela.

A prefeitura de Roma diz saber de cerca de 2.850 imóveis ocupados ilegalmente na capital, mas reluta em fazer comparações com as cifras de anos anteriores. Uma porta-voz limitou-se a dizer que o número de desocupações saltou de 157 em 2007 para 176 em 2011.

Schiena disse que de início se desanimou com as acomodações improvisadas, de um tipo antes usado apenas por grupos muito desesperados, como imigrantes ilegais.

Ela e Mulugeta, que é etíope, dividem o labirinto de corredores com 140 famílias, principalmente imigrantes de países como Tunísia e Equador. Eles dizem que cada vez mais pessoas estão participando de reuniões e protestos nos últimos meses, e pedindo para se mudar para o local.

O casal diz que foi difícil se adaptar às infiltrações no teto, aos banheiros compartilhados e aos vizinhos barulhentos, mas que o ambiente comunitário também tem benefícios. "Você não precisa se preocupar em passar fome", disse Mulugeta. "As pessoas checam seus vizinhos e se ajudam se eles precisam de algo." Há uma sala de recreação infantil no imóvel, um grande salão para festas e reuniões, um rodízio para a limpeza dos banheiros e árvores de Natal nos corredores. Schiena e Mulugeta aproveitaram o dinheiro ganho em faxinas esporádicas para mobiliar seu espartano quarto com eletrodomésticos, estantes e uma cama de casal. Eles têm até TV a cabo e videogame.

Embora não pretenda participar da eleição, o casal torce pela formação de um governo de esquerda, mais solidário com o drama dos jovens. "Ouvi algo sobre a Itália sair da crise. Mas todos os meus amigos estão perdendo seus empregos de um dia para o outro, não acho que a crise tenha acabado", disse Schiena. "Só queremos uma vida simples, uma vida tranquila, para criar um filho. Mas meu medo é que as coisas não mudem, e eu não possa viver a vida que queria." (Reportagem adicional de Tony Gentile)

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaEuropaImóveisItáliaPaíses ricosPiigs

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame