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Crise humanitária em Mosul força saída de 15 mil pessoas

No acampamento de refugiados, centenas de civis chegam durante todo o dia a bordo de ônibus, e desembarcam com o olhar perdido

Mosul: a maioria dos que tiveram que deixar suas casas o fizeram durante a fase mais recente desta ofensiva (Andres Martinez Casares/Reuters)

Mosul: a maioria dos que tiveram que deixar suas casas o fizeram durante a fase mais recente desta ofensiva (Andres Martinez Casares/Reuters)

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AFP

Publicado em 6 de abril de 2017 às 14h46.

A batalha no oeste de Mosul levou 15.000 pessoas a abandonarem suas casas por dia, agravando a crise humanitária em meio a duras condições para os deslocados.

No acampamento de Hammam al Alil, destinado às pessoas deslocadas no sul de Mosul, centenas de civis chegam durante todo o dia a bordo de ônibus, e desembarcam com o olhar perdido, escoltados pelas forças de segurança.

A partir deste campo os refugiados são distribuídos em táxis e em outros ônibus para ser levados a outros acampamentos ou ser alojados por familiares na "libertada" parte leste de Mosul e em seus arredores.

Mas muitos deles, geralmente os mais necessitados, permanecem neste campo e são alojados em barracas, que às vezes abrigam até três ou quatro famílias em um pequeno espaço de 10 metros de comprimento por quatro de largura.

"Há quatro famílias nesta barraca, cerca de 30 pessoas estão dormindo em seu interior", afirma Marwan Nayef, um jovem de 25 anos procedente de Mosul ocidental, cercado por uma dezena de crianças.

"Às vezes, não são grandes o suficiente, e os homens costumam ir dormir na barraca de um amigo. Na verdade, eu estou dormindo na do meu irmão", conta.

Um pouco mais adiante, neste campo que abriga cerca de 30.000 pessoas, Shahra Hazem carrega no colo seu filho de 16 meses, com hidrocefalia.

"Meu filho precisa ser operado, há água em seu cérebro, mas não pode ser tratado aqui. Eu quis levá-lo a outro campo, mas não nos deixaram entrar", explica a mulher.

De acordo com as Nações Unidas, ao menos 400.000 pessoas foram deslocadas desde que o exército e as forças de segurança iraquianas lançaram no dia 17 de outubro sua grande ofensiva para recuperar Mosul, tomada pelo Estado Islâmico (EI) em 2014 e que se tornou o reduto do grupo jihadista no Iraque.

Civis cada vez mais expostos

A maioria dos que tiveram que deixar suas casas o fizeram durante a fase mais recente desta ofensiva, que começou em 19 de fevereiro para recuperar a parte ocidental de Mosul, ainda nas mãos do EI.

No acampamento de Hammam al Alil se formam grandes filas de civis que esperam receber comida diante de uma barraca dedicada à distribuição de alimentos. Entre eles há muitas crianças descalças que devoram, sentadas, o que receberam.

Algumas pessoas vão buscar comida fora do campo, outras o fazem em um pequeno e informal mercadinho aberto do outro lado da grade que cerca o lugar.

Uma mulher que fugiu de Mosul conta como sobreviveu a um bombardeio que destruiu sua casa.

"O Daesh (acrônimo em árabe do EI) colocou uma metralhadora diante de nossa porta, de modo que as forças de segurança responderam (...) Felizmente, estávamos todos no térreo", relata a mulher.

"Alguns de nossos vizinhos tentaram fugir ontem, mas as forças de segurança dispararam contra eles pensando que eram do Daesh. Isso é algo que ocorre frequentemente", acrescenta a mulher.

Muitos dos moradores do leste de Mosul, já reconquistado, permaneceram em suas casas na primeira fase da ofensiva. Mas desta vez a resistência dos jihadistas na parte ocidental e na cidade velha é feroz, razão pela qual os civis estão mais expostos que nunca nesta batalha. Segundo a ONU, 400.000 pessoas ainda estariam presas na parte antiga de Mossul.

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