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Crise de 2008 pode se repetir, diz OMC

A instabilidade nos mercados globais reflete temores crescentes de que as dificuldades persistentes da Europa com sua dívida vão provocar uma crise financeira mais ampla

Mercados instáveis refletem a realidade de falta de diálogo no enfrentamento à crise, dizem analistas (Getty Images)

Mercados instáveis refletem a realidade de falta de diálogo no enfrentamento à crise, dizem analistas (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2011 às 23h03.

São Paulo - Os ministros das Finanças e dirigentes de bancos centrais que se reuniram nos últimos dias em Washington por ocasião do encontro anual do FMI terão dificuldades para convencer os mercados de que têm como impedir que o mundo entre em recessão pela segunda vez em apenas três anos. A turbulência vivida pelos mercados globais reflete temores crescentes de que as dificuldades persistentes da Europa com sua dívida vão provocar uma crise financeira mais ampla e uma desaceleração mais acentuada no crescimento econômico.

"Estamos em uma zona vermelha. Arriscamos repetir o que aconteceu em 2008, por razões diferentes, mas por meio do mesmo canal: o sistema financeiro". Alertou o diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.

Nesta sexta-feira, representantes dos países que compõem o G-20, que inclui países avançados e em desenvolvimento, reuniram-se durante o dia todo para discutir quais medidas eles poderiam elaborar para alimentar a confiança nos mercados financeiros. Mas havia pouca expectativa de que eles produzissem algo concreto.

Entre os motivos para isso estão o fato de os problemas variarem bastante de região para região, o fato de as soluções envolverem disputas políticas domésticas e o fato de que a munição usada pelo G-20 no passado - reduções nas taxas de juro, cortes de impostos e consolidação fiscal - já ter sido gasta no combate à recessão anterior.

Para o ministro das Finanças da Rússia, Alexei Kudrin, o G-20 "não tem uma posição clara e coordenada. Mais importante do que isso, todos veem os riscos da mesma maneira. Mas ainda há diferenças".

Mohamed El-Erian, executivo-chefe da Pacific Investment Management Co. (Pimco), disse durante uma mesa redonda nesta quinta-feira que "é como uma orquestra com dois lados, cada um tocando uma música diferente e olhando para o maestro - só que não existe maestro".

Na noite de quinta-feira, os representantes do G-20 emitiram às pressas um comunicado destacando seu compromisso com medidas que solucionem a crise, mas o texto foi, em grande parte, uma reedição de promessas anteriores e incluiu poucas medidas específicas. O grupo disse que produzirá "um plano de ação coletivo e ambicioso, com todos fazendo a sua parte", e que esse plano deverá estar pronto para a reunião de cúpula do G-20, no começo de novembro em Cannes (França).


Depois da divulgação do comunicado, representantes de vários países explicaram que o G-20 não estava planejando uma iniciativa conjunta. Ao invés disso, cada país vai continuar a fazer o que já estava fazendo para resolver seus próprios problemas e buscar o endosso de outros países como forma de sinalizar aos mercados que todos estão trabalhando juntos.

Na melhor das hipóteses, esse esforço poderia intensificar as pressões para que a Europa apresente uma maneira de lidar com os problemas políticos na zona do euro, que incluem a aprovação de um fundo de assistência financeira de € 440 bilhões (US$ 592 bilhões), dando a ele a autoridade para comprar dívida de países europeus em dificuldades, e descobrir como alavancar os fundos de assistência de modo a aumentar sua eficácia.

Nesta semana, um acontecimento menor, como a queda do governo da Eslovênia, assumiu importância global ao levantar questionamentos sobre se o país terá como aprovar o novo plano de resgate financeiro europeu - que, para entrar em vigor, precisa da aprovação de todos os 17 países da zona do euro.

Na pior das hipóteses, se os mercados passarem a contar com uma solução em Cannes e o G-20 não entregá-la, isso poderá ser um golpe pesado na confiança.

Uma medida discutida nas reuniões de Washington é um compromisso do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de fazer empréstimos ao FMI, para deixar claro que a instituição tenha dinheiro suficiente para lidar com a escalada da crise na Europa e em outras regiões. Mas nenhum dos Brics fez uma oferta concreta de uma quantia específica de dinheiro. "Estamos prontos a agir via instituições internacionais", disse Kudrin.

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