Manifestantes em protesto pacífico em Baltimore: a confiança dos americanos na polícia caiu este ano a 52%, o nível mais baixo desde que o instituto de pesquisa começou a medi-la (Protesto pacífico em Baltimore 2/5/2015)
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2015 às 10h56.
Washington - Muito se fala do aumento da violência e dos homicídios em Baltimore, mas esse mesmo fenômeno está acontecendo em outras grandes cidades dos Estados Unidos como Chicago, Houston, Washington e Milwaukee, tradicionalmente marcadas por uma alta criminalidade, segregação e conflitos raciais.
Baltimore, no estado de Maryland, onde a morte em abril do jovem negro Freddie Gray enquanto estava sob custódia policial suscitou violentos distúrbios, registrou em julho 45 homicídios, o dado mensal mais alto desde 1972, quando a cidade tinha quase o dobro de população que a atual, e neste ano se elevam a 211, o mesmo número atingido em todo o ano de 2014.
Ao sul de Baltimore está Washington, a capital do país e que somou até o início de agosto 87 homicídios, frente aos 69 do mesmo período do ano passado.
Essas estatísticas ascendentes, recopiladas por autoridades locais e meios de comunicação, se repetem em Houston (Texas), cuja taxa de homicídios cresceu 44% entre janeiro e junho comparado com o primeiro semestre de 2014, e em Chicago, que registrou um aumento de 20%.
A porcentagem de aumento supera os 50% no caso de Milwaukee (Wisconsin), uma das cidades mais segregadas dos Estados Unidos.
Chefes policiais de todo o país se reuniram no início do mês em Washington para analisar o problema, qualificado recentemente pela prefeita de Baltimore, Stéphanie Rawlings-Blake, de "epidemia nacional".
Eugene O'Donnell, acadêmico da Universidade John Jay de Justiça Criminal de Nova York, afirmou à Agência Efe que é prematuro determinar se esse aumento dos homicídios e incidentes armados é uma tendência nacional.
O que este analista observa é que os picos de violência em diferentes cidades podem estar ligados a mudanças de comportamento nos corpos de polícia locais, submetidos a uma intensa vigilância durante o último ano por causa de vários casos de homens negros mortos por agentes da lei.
Na semana passada, um homem negro morreu em um enfrentamento com dois agentes em Saint Louis (Missouri), muito perto de Ferguson, onde há um ano o jovem afro-americano Michael Brown foi assassinado por um policial branco e surgia o movimento "Black Lives Matter" ("As vidas negras importam").
Segundo O'Donnell, agora alguns policiais pensam duas vezes antes de "serem pró-ativos" ou "deter pessoas suspeitas", já que sentem que podem pôr "em perigo" sua carreira.
Uma pesquisa recente do Gallup mostrou que a confiança dos americanos na polícia caiu este ano a 52%, o nível mais baixo desde que o instituto de pesquisa começou a medi-la há mais de duas décadas, o que se traduz, segundo os analistas, em menor cooperação dos cidadãos para resolver um crime, mais impunidade e maior violência.
A solução passa em parte, de acordo com O'Donnell, por "revisar os protocolos e o treinamento" que recebe a polícia.
Mas há outras causas, muito mais arraigadas, que contribuem para estes picos de violência e que têm a ver, por um lado, com o que resume O'Donnell: "Há muitas armas nas mãos das pessoas".
A própria prefeita de Baltimore afirmava na semana passada que são necessárias leis mais restritivas sobre a posse de armas em nível federal, já que não basta que estados como Maryland as tenham e as de outros sejam muito mais relaxadas.
Por outro lado, o número de bairros de "alta pobreza" localizados nas áreas metropolitanas das grandes cidades se triplicou e sua população se duplicou nos últimos 40 anos, segundo um estudo do City Observatory, e se transformam em foco para o desenvolvimento da atividade criminal.