Mundo

Crescem tensões entre migrantes em centros na Alemanha

Mohammed Uzer, um adolescente de 15 anos que fugiu do Paquistão depois que os talibãs assassinaram seu pai, queixa-se da superlotação


	Centro de imigração na Alemanha: o confronto deste fim de semana em Kassel (centro) entre 70 paquistaneses e 300 albaneses que formavam uma fila para comer e que deixou 14 feridos foi noticiado em todos os jornais do país
 (Jochen Eckel/Bloomberg)

Centro de imigração na Alemanha: o confronto deste fim de semana em Kassel (centro) entre 70 paquistaneses e 300 albaneses que formavam uma fila para comer e que deixou 14 feridos foi noticiado em todos os jornais do país (Jochen Eckel/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2015 às 16h41.

Escassez, problemas logísticos e o medo de não obter o direito de asilo estão aumentando a tensão entre migrantes nos centros de acolhida na Alemanha, onde as autoridades temem incidentes violentos.

O confronto deste fim de semana em Kassel (centro) entre 70 paquistaneses e 300 albaneses que formavam uma fila para comer e que deixou 14 feridos foi noticiado em todos os jornais do país, que acolhe no total cerca de 500.000 imigrantes em seu território.

Na terça-feira, um confronto entre sírios e paquistaneses em Dresden deixou dois feridos. E há algumas semanas, um refugiado provocou enfrentamentos na cidade de Suhl (leste) quando arrancou uma página do Corão. O balanço foi de 17 feridos, entre eles seis policiais, e de 15 pessoas que estão sendo processadas por tentativa de homicídio culposo.

No bairro de Wilmersdorf de Berlim, onde 850 pessoas vivem no edifício da antiga prefeitura, os refugiados reconhecem que há tensões, provocadas pelo fato de que são tratados primeiro os pedidos de asilo dos sírios que fogem da guerra.

"Os árabes, os sírios, em uma semana ou duas já têm seus papéis. Os africanos não, não sei por que (...) Não há papéis, nada, só comer, dormir e estresse a cada dia", lamenta Bamba Jaiteh, um jovem de 19 anos da Guiné-Bissau.

Mohammed Uzer, um adolescente de 15 anos que fugiu do Paquistão depois que os talibãs assassinaram seu pai, queixa-se da superlotação.

"Tem gente demais, a comida não é boa. Quero ir embora (...) Nunca se sabe quem vai entrar nos dormitórios. Um amigo meu perdeu um telefone, roupa e 100 euros. E tem um sírio que me agrediu verbalmente em árabe, não entendi nada", explica.

Frente a esta situação, os sindicatos policiais pediram na segunda-feira que os demandantes de asilo se agrupem por sexo, idade, religião e nacionalidade com o objetivo de limitar os motivos de conflito.

Causas múltiplas

Segundo Rainer Wendet, do sindicato DPOLG, há grupos formados por pessoas do mesmo país que se organizam "para atacar com facas e armas artesanais".

"Não temos estatísticas sobre o número de intervenções policiais, mas estão se multiplicando pela saturação dos centros de acolhida de refugiados", denuncia Jorg Radek, do sindicato GDP.

As pessoas "de origens religiosas e étnicas distintas entram em confronto e provocam situações de conflito", assegura, e pede que "os refugiados sejam separados segundo sua religião".

A ideia tem sido debatida, mas este tipo de segregação poderia ser ilegal e até o momento o ministro do Interior, Thomas de Maizières, a considera "impossível de colocar em prática" porque não há estruturas adequadas.

Contudo, segundo as ONGs, as questões étnicas e religiosas são apenas marginais e só servem para alimentar o discurso dos partidos de extrema direita.

As tensões são o resultado de múltiplas causas "como a superlotação, a falta de vida privada e o fato de que pessoas de países diferentes não conseguem se comunicar entre si", afirma Jessica Karagoel, da ONG Fazit.

"O estresse adicional vem de estar condenado a esperar em um país estrangeiro sem poder fazer nada para influenciar no processo (de pedido de asilo), da perda de controle (sobre sua própria vida) e do fato que as pessoas não sabem quanto tempo pode durar", assegura.

Os pedidos de asilo podem demorar até seis meses antes de serem estudados.

O diretor do centro de acolhida de Wilmersdorf, Gerd Schickerling, que lidera uma equipe de 12 pessoas e 1.700 voluntários, assegura, contudo, que em geral a situação não é tão grave.

"Levando em conta que os que entram em confronto estão condenados a esperar, quero parabenizá-los por serem tão pacíficos", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaEuropaPaíses ricosRefugiados

Mais de Mundo

Companhia do Azerbaijão cancela voos para sete cidades russas após queda de avião da Embraer

Presidente do Panamá rechaça reduzir pedágio de canal após exigência de Trump

2024: o ano em que Elon Musk ficou mais rico e poderoso do que nunca

Ataque russo à rede elétrica deixa centenas de milhares de ucranianos sem aquecimento