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Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.
Desde junho do ano passado, o Federal Reserve (Fed) já reajustou a taxa básica de juros americana (a Fed Funds Rate) seis vezes, elevando-a de 1% ao ano para 2,5%. Mas, ao contrário do que supunham muitos economistas, as taxas oferecidas pelos títulos americanos de longo prazo não acompanharam a alta e permaneceram estáveis nesse período. Para a consultoria Tendências, o que tem segurado os juros de longo prazo, nos Estados Unidos, é a credibilidade e a previsibilidade da política monetária.
Alguns economistas atribuem os baixos juros de longo prazo à atuação dos bancos centrais asiáticos e europeus, que investiram pesadamente em treasures (títulos do Tesouro americano) no ano passado. Outros afirmam que as dúvidas em relação à economia dos Estados Unidos estariam levando investidores estrangeiros a desviar recursos da renda variável para a renda fixa, o que elevaria o preço dos papéis.
De acordo com José Márcio Camargo, sócio da Tendências, nenhuma dessas explicações é satisfatória. Para o economista, a demanda dos investidores por papéis de renda fixa já vinha crescendo desde a década de 90. O boom das ações de tecnologia, na Nasdaq, enfraqueceu esse interesse por um momento, mas quando a bolha estourou, por volta de 2000, o nível de investimento em renda fixa se fixou em patamares superiores ao do período pré-bolha. Ao mesmo tempo, o governo americano intensificou a emissão de títulos públicos para cobrir o crescente déficit fiscal, que hoje representa cerca de 4% do Produto Interno Bruto do país.
Segundo Camargo, não é razoável supor que a ação recente dos bancos centrais da Europa e da Ásia seja responsável pela manutenção de baixos juros de longo prazo, porque a demanda por papéis de renda fixa é anterior a esse fluxo de investimentos. Além disso, o sócio da Tendências afirma que não há indícios de que os investidores estejam pessimistas com a economia do país.
Previsibilidade
A melhor explicação para a pequena remuneração oferecida pelos treasures, segundo Camargo, é a confiança dos investidores na política econômica dos Estados Unidos. Pela primeira vez, o Fed estaria elevando a taxa básica de juros para se antecipar a possíveis pressões inflacionárias. Essa antecipação permite que os movimentos do Fed sejam lentos e graduais, dando tempo aos agentes para se adaptarem ao nível de juros reais.
"O principal efeito desta estratégia é o aumento da credibilidade e da previsibilidade da política monetária executada pelo Fed", afirma Camargo, em relatório divulgado nesta quarta-feira (9/3). É essa capacidade de antever as ações da autoridade monetária que reduz a expectativa de inflação futura e fortalece a aposta em uma alta suave dos juros. "O aumento da credibilidade e da previsibilidade da política monetária americana deverá resultar em menores taxas de juros reais de equilíbrio e uma curva de juros menos inclinada que no passado", diz.