Sussumu Fujita: “a reação dos sul-coreanos é continuar a viver como sempre e nos aconselham a não nos preocupar demais com as manifestações de Pyongyang", disse (Antônio Cruz/Abr)
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2013 às 09h55.
Brasília – Na Coreia do Sul há quatro anos, o embaixador do Brasil em Seul, Edmundo Sussumu Fujita, disse à Agência Brasil que “não se sente tensão” na região, apesar do agravamento das ameaças por parte da Coreia do Norte, que indica a disposição de deflagrar uma guerra nuclear. Segundo ele, as autoridades sul-coreanas têm mantido contato permanente com as representações estrangeiras e comprometem-se a transmitir orientações sobre “movimentações suspeitas”.
“A reação dos sul-coreanos é continuar a viver como sempre e nos aconselham a não nos preocupar demais com as manifestações de Pyongyang [capital da Coreia do Norte]”, ressaltou Fujita, que coordena uma equipe de quatro diplomatas, dois oficiais de chancelaria e um assistente. O cálculo é que 1.444 brasileiros vivam na Coreia do Sul.
A seguir, os principais trechos da entrevista do embaixador, concedida por e-mail, à Agência Brasil.
Agência Brasil (ABr) - O clima de tensão é presente no dia a dia do povo sul-coreano?
Edmundo Sussumu Fujita - Não se sente tensão na Coreia do Sul, pois o povo diz que já se acostumou às manifestações de Pyongyang [referência à Coreia do Norte], repetidas periodicamente há mais de 30 anos. As únicas vezes em que houve uma ação militar concreta foram no episódio do afundamento da Fragata Chonan por mina submersa não registrada perto da zona de limites e o bombardeamento da Ilha de Yeonpyeong pela artilharia norte-coreana. Em ambos os casos, não houve aviso algum ou ameaça prévia.
ABr - O senhor observou mudanças no comportamento das pessoas nas ruas?
Fujita - Não se nota atitude alguma de medo ou pânico por parte dos sul-coreanos, que levam o dia a dia normalmente. As atividades econômicas transcorrem como sempre, com altos e baixos nas bolsas de valores, que decorrem das operações rotineiras e sofrem pouca influência, se é que tem alguma, do "custo Coreia".
ABr – E, por parte dos estrangeiros que vivem na Coreia do Sul, há mudanças de rotina?
Fujita - Por parte da comunidade estrangeira sente-se alguma inquietação devido à preocupação dos parentes e amigos em seus países, influenciados pelas notícias que recebem das agências estrangeiras. Nesses casos, vêm pedir orientações às embaixadas, que procuram esclarecer as inquietações deles, colocando-as em suas devidas dimensões com base em consultas permanentes mantidas com as autoridades sul-coreanas.
ABr - Como o senhor e sua família estão se preparando para uma eventual guerra envolvendo a Coreia do Sul?
Fujita - Nossas famílias estão sempre em alerta para quaisquer mudanças de situação, em contato com as autoridades sul-coreanas, que se comprometeram a informar às embaixadas qualquer movimentação detectada por seus sistemas de segurança, evitando ações precipitadas com base em rumores vindos de fontes não identificadas ou de pessoas que dizem ter acesso a canais privilegiados.
ABr - Autoridades sul-coreanas procuraram o senhor para transmitir alguma recomendação ou instrução?
Fujita - Sim. Há um entendimento firme com as autoridades sul-coreanas de que entrariam em contato imediato com as embaixadas para a coordenação de ações diante da ocorrência de quaisquer anomalias ou movimentações suspeitas do lado norte-coreano.
ABr - O senhor se comunica como o ministro Antonio Patriota ou interlocutores dele com frequência, após o alerta do governo norte-coreano? Qual é essa frequência?
Fujita - Entrarei em contato pessoal imediato com a alta chefia em caso de informações recebidas das autoridades sul-coreanas sobre a evolução repentina da conjuntura para comunicar as ações de coordenação colocadas em execução e solicitar orientações adicionais avaliadas pelas instâncias diplomáticas e militares brasileiras, referentes a medidas extras de segurança específicas para a comunidade brasileira na Coreia de Sul. As informações e análises atualizadas da evolução da conjuntura política e militar na região são enviadas por relatórios regulares.
ABr - Como o senhor faz para driblar a tensão pessoal, dos funcionários e de sua família?
Fujita - Não tenho tomado nenhuma medida especial para fortalecer ainda mais a estabilidade psicológica de minha família ou dos funcionários brasileiros, pois eles mesmos podem ver pessoalmente a normalidade de comportamentos dos amigos e colegas coreanos e do povo em geral. A reação dos sul-coreanos é continuar a viver como sempre. Eles nos aconselham a não nos preocupar demais com as manifestações de Pyongyang.