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Coreia do Norte recebe enxurrada de críticas na ONU

Durante a primeira reunião do Conselho de Segurança dedicada à situação dos direitos humanos na Coreia do Norte, o país foi alvo de uma enxurrada de críticas

Reunião do Conselho de Segurança da ONU: Coreia do Norte rebateu as críticas, ameaçando adotar represálias (Stan Honda/AFP)
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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2014 às 22h54.

A Coreia do Norte foi alvo de uma enxurrada de críticas na reunião do Conselho de Segurança da ONU , nesta segunda-feira.

Durante a primeira reunião do Conselho completamente dedicada à situação dos direitos humanos na Coreia do Norte, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, liderou as acusações contra o regime comunista no poder em Pyongyang.

Com base em um relatório da ONU publicado em fevereiro passado, Power citou testemunhos de ex-prisioneiros de campos de trabalho norte-coreanos que relatam um sem-número de "atrocidades": presos obrigados a comer raízes, ou ratos, para sobreviver, sendo agredidos e submetidos a "castigos sádicos".

Coletados e reunidos por uma comissão de investigação da ONU, esses depoimentos "mostram que os norte-coreanos vivem um pesadelo", frisou Samantha.

Esses abusos representam, segundo ela, "uma ameaça para a paz e para a segurança internacional".

O Conselho "deve falar regularmente dos direitos humanos na Coreia do Norte" depois dessa primeira reunião, e "enquanto esses crimes continuarem", defendeu a embaixadora dos EUA.

A representante americana recomendou que o Conselho "examine a recomendação" da Comissão e da Assembleia Geral da ONU de julgar, no Tribunal Penal Internacional, os crimes contra a humanidade que estariam sendo cometidos pela Coreia do Norte.

O pedido contou com o apoio de outros países ocidentais como França, Austrália e Reino Unido. Segundo fontes diplomáticas da ONU, porém, a China - única aliada de Pyongyang - usará seu direito a veto diante de qualquer tentativa de levar esse caso ao TPI.

O embaixador francês na organização, François Delattre, também denunciou uma "mecânica terrível, a do regime de Pyongyang para submeter seu povo".

Para o embaixador britânico nas Nações Unidas, Mark Lyall Grant, a comissão de investigação da ONU "abriu os olhos" da comunidade internacional.

Pyongyang ameaça com represálias

A Coreia do Norte rebateu as críticas, ameaçando adotar represálias. Pyongyang não enviou representante para a reunião do Conselho.

O embaixador sul-coreano na organização, Oh Joon, considerou a reunião importante.

"Milhões de sul-coreanos têm parentes que vivem no norte", lembrou. "Ficamos com o coração partido ao ler os testemunhos compilados pela ONU", completou.

Para ele, ir à CPI "não é o único caminho" possível, devendo-se buscar "uma cooperação sobre os direitos humanos com a Coreia do Norte".

A China tentou, sem sucesso, opor-se a esta reunião inédita do Conselho de Segurança da ONU, mas ficou em minoria durante a votação do procedimento que permitia o encontro. Com 11 votos a favor, dois contra (China e Rússia) e duas abstenções (Chade e Nigéria) entre os 15 países-membro, a reunião aconteceu.

Na votação, o embaixador chinês na ONU, Liu Jieyi, argumentou que o tema de direitos humanos não é de responsabilidade do Conselho.

Embora o órgão não tenha tomado qualquer decisão, associações de defesa dos direitos humanos acreditam que essa iniciativa marca um ponto de inflexão.

"Hoje, o Conselho advertiu Pyongyang que as décadas de crueldade contra seu povo devem terminar", disse o diretor-executivo da ONG Human Rights Watch, Kenneth Roth.

A Coreia do Norte já foi alvo de sanções internacionais, após ter realizado três testes nucleares e o lançamento de mísseis balísticos, mas esta é a primeira vez que o Conselho de Segurança se reúne para tratar, especificamente, do tema.

A embaixadora americana se referiu brevemente ao ataque cibernético à Sony Pictures, pelo qual Washington responsabiliza a Coreia do Norte. Pyongyang nega qualquer envolvimento no episódio.

"Não satisfeito com negar a liberdade de expressão a seus próprios cidadãos, o regime da Coreia do Norte agora parece estar decidido a impedir que nossa nação usufrua dessa liberdade fundamental", declarou.

São Paulo –Conhecida por manter a sua população isolada do contato com o mundo exterior e pela forma exagerada com a qual cultua os seus líderes, a Coreia do Norte sempre surpreende o mundo com a excentricidade de seus decretos e atitudes. Por exemplo, antes da morte do “querido líder” Kim Jong-il em 2011, o governo proibiu que pessoas fossem registradas com o nome do atual chefe do país, Kim Jong-un, o “líder supremo”. O decreto deixou ainda uma observação: quem já se chamasse assim deveria realizar a troca voluntariamente.  Em 2014 não foi diferente. Veja nesta galeria de imagens algumas das coisas inusitadas que a Coreia do Norte fez ao longo do ano.
  • 2. A vida do “líder supremo” é disciplina obrigatória nas escolas

    2 /14(Reuters)

  • Veja também

    O currículo escolar ganhou uma nova disciplina obrigatória: a vida de Kim Jong-un. Segundo informações da imprensa da Coreia do Sul, a matéria será lecionada nos três anos do ensino médio no país. É um mistério a forma como tantas aulas serão preenchidas. Com idade estimada de 31 anos,  Jong-un nunca teve os detalhes sobre a sua vida divulgados e não há notícias sobre fatos extraordinários realizados por ele.
  • 3. Foi lançado um manual de etiqueta para celulares

    3 /14(REUTERS/Jacky Chen)

  • Uma revista estatal publicou um manual de etiqueta para que os norte-coreanos usem os celulares de forma adequada. As dicas do manual consideram, por exemplo, que as pessoas não devem falar alto ou discutir assuntos íntimos ao telefone e em público. Para as autoridades do país, este comportamento é “impensado e rude”.
  • 4. O acesso gratuito de estrangeiros à rede Wi-Fi foi cortado

    4 /14(Reprodução/ Vimeo)

    Desde agosto, os estrangeiros na Coreia do Norte perderam o benefício de usar a rede Wi-Fi gratuita oferecida pelo governo. E a justificativa para tal foi a de que o uso deste tipo de conexão “produz alguns efeitos”. Contudo, de acordo com a revista The Diplomat, a verdadeira razão parece ser o encarecimento dos imóveis localizados próximos aos órgãos que contavam com esta vantagem.
  • 5. Mr. Bean foi destaque em Festival de Cinema

    5 /14(Kyodo / Reuters)

    A 7ª edição do maior festival de cinema do país aconteceu em setembro e teve como lema “independência, paz e amizade”. Para marcar as festividades, a organização destacou duas importantes produções britânicas: "Mister Bean: O Filme", de 1997, e "Driblando o Destino", comédia de 2002 estrelada por David Beckham.
  • 6. O regime baniu as vendas do delicioso Choco Pie

    6 /14(Wikimedia Commons)

    Como tantas outras populações do planeta, os norte-coreanos também são loucos por doces. Gostam tanto que um suculento bolinho de chocolate recheado com marshmallow chamado “Choco Pie” se tornou uma valiosa moeda no país. Fábricas até pagaram seus funcionários com a guloseima, pois era possível conseguir um bom dinheiro com a venda dela no mercado paralelo. A alegria durou pouco: o regime não gostou da valorização exacerbada de um produto capitalista e baniu o bolinho do país.
  • 7. Oficiais ganharam carne e drogas de presente

    7 /14(Divulgação/KCNA)

    Em setembro, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul comemoram um feriado similar ao de Ação de Graças nos EUA. No sul, as famílias celebram a colheita e fazem homenagens aos seus ancestrais. Já no norte, informou o jornal britânico The Guardian, além destas celebrações, os oficiais do alto escalão aproveitam para trocar presentes luxuosos e receber propina. Dentre os itens mais populares em 2014, relatou a publicação, estão carne bovina e metanfetamina, uma poderosa e viciante droga.
  • 8. Corte ousado no cabelo? Só se for igual ao do líder supremo

    8 /14(AFP)

    Até o início do ano, os norte-coreanos contavam com um “amplo” catálogo de cortes de cabelo permitidos pelo governo do país. Em março, contudo, uma portaria passou a exigir que os homens adotassem o mesmo visual de Kim Jong-un e que mulheres usassem o cabelo tal qual o da primeira-dama Ri Sol-ju.  Segundo o site NK News, muitas pessoas que visitaram o país depois que esta notícia veio à tona relataram não ter notado mudanças nos cortes de cabelo dos locais. Uma fonte ouvida pela publicação informou, contudo, que as regras existem, porém a fiscalização não é rígida.
  • 9. Por medo do ebola, as fronteiras foram fechadas

    9 /14(Roman Harak/Flickr/Creative Commons)

    Apavorada com a epidemia de ebola, a Coreia do Norte fechou as fronteiras do país para a entrada de turistas. Além disso, informou o jornal britânico The Guardian, foi alertado que os estrangeiros vivendo no país seriam colocados em quarentena, independente de seu país de origem. O ebola aterrorizou a África. Fora do continente, contudo, foram registrados poucos casos nos EUA e na Europa. O exagero da medida foi visto por analistas como mais uma tentativa do regime de tentar amedrontar a população sobre os perigos que existem fora da Coreia do Norte.
  • 10. Não enviou líderes de torcida aos Jogos Asiáticos por birra

    10 /14(Stephan/Flickr/Creative Commons)

    A edição 2014 dos Jogos Asiáticos, que foi realizada na cidade de Incheon (Coreia do Sul) causou um incidente diplomático entre as Coreias. Segundo o jornal The Wall Street Journal, depois que o governo sul-coreano se negou a bancar a ida dos atletas do norte e seu “staff” para o evento, os norte-coreanos retaliaram e cancelaram a participação de suas líderes de torcida.
  • 11. Desenvolveu uma bebida energética à base de cogumelos

    11 /14(Reuters)

    Um problema de atletas é se recuperar adequadamente depois da prática esportiva. Por isto, cientistas norte-coreanos aproveitaram a abundância de cogumelos no país para desenvolver uma bebida energética. Segundo o jornal britânico The Guardian, há anos o governo incentiva a inovação com espécies de fungos e até criou um centro de pesquisa. A ideia é a de tornar a Coreia do Norte uma potência mundial produtora de cogumelos.
  • 12. O país ficou profundamente chateado com o filme “A Entrevista”

    12 /14(Divulgação/A Entrevista/Facebook)

    A comédia americana “A Entrevista” conta a história de dois homens que são recrutados pelo governo dos EUA para matar Kim Jong-un. Bem, naturalmente, o enredo causou a revolta de autoridades do país. Para o governo norte-coreano, o longa é o “terrorismo mais indisfarçável" e, por isto, resolveu registrar uma queixa contra os EUA perante a ONU, classificando o episódio como um “ato de guerra” por parte dos americanos.
  • 13. Se ofendeu com piada sobre o cabelo de Kim Jong-un

    13 /14(AFP)

    Um salão de beleza em Londres teve a ideia de brincar em uma série de anúncios com o visual de autoridades políticas para promover descontos. E em uma das peças zombou o corte do “líder supremo”.  A embaixada da Coreia do Norte pediu que o anúncio fosse retirado de circulação, mas não foi atendida. Apelou então para o governo britânico, que confirmou ao site The Huffington Pos t ter recebido uma notificação dos norte-coreanos e declarou que avaliaria uma resposta.
  • 14. Agora veja quais são os países mais corruptos do mundo

    14 /14(Kcna/AFP)

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