Diretor da COP28, Majid al Suwaidi, faz balanço e fala sobre negociações na reta final da Conferência (Luciano Pádua/Exame)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 06h31.
Última atualização em 12 de dezembro de 2023 às 09h10.
DUBAI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS - A divulgação na segunda-feira, 11, de rascunho de texto final da Conferência das Nações Unidas para o clima, a COP28, foi uma estratégia para que os países se posicionassem e as negociações pudessem avançar, informou nessa terça-feira, 12, Majid Al Suwaidi, diretor da COP28, em coletiva de imprensa. Segundo ele, um novo texto está sendo rascunhado e será entregue hoje. EXAME apurou que o novo rascunho é esperado por diplomatas por volta das 18h do horário local dos Emirados Árabes Unidos (11h no horário de Brasília).
LEIA MAIS: Na COP28, Brasil foca na COP30
"Ontem publicamos um texto. Como é sabido, muitas partes sentiram que não endereçava totalmente suas preocupações. Esperávamos isso. Na verdade, queríamos que o texto iniciasse conversas, e isso aconteceu", disse. "O que vimos desde então é que as partes têm visões divididas, especialmente na linguagem em torno dos combustíveis fósseis. O texto que publicamos foi um ponto de partida para discussões."
Essa é a maior expectativa nessa terça-feira, 12, dia em que a conferência se encerra formalmente -- as negociações diplomáticas podem seguir após essa data.
O diretor da COP28 garante que a organização sabia que as opiniões estavam polarizadas antes da publicação do rascunho. "Mas o que não sabíamos era onde estavam as 'linhas vermelhas' de cada país", afirmou.
De acordo com o diplomata, o texto inclui todos os elementos para um plano abrangente para 2030. "Está tudo lá: mitigação, adaptação, meios de implementação e perdas e danos. Estamos buscando equilíbrio entre esses elementos", afirmou. "Mas esse é um processo das partes. É uma questão de quão ambiciosas as partes verdadeiramente estão e onde querem que a balança esteja."
Em um balanço da conferência até aqui, Suwaidi contextualizou que a presidência da COP28 trabalhou em uma estratégia de duas frentes: a agenda de ação e a de negociação entre as partes.
"A primeira foi tocada pela presidência, a agenda de ação. Fizemos isso porque o momento requer ação, de resultados reais. Foi um grande sucesso: temos mais de 83 bilhões de dólares em novos compromissos financeiros, 130 nações assinaram para triplicar as energias renováveis e a indústria de óleo e gás pela primeira vez assumiu metas para atacar emissões de metano", afirmou.
Nesse aspecto, ele destacou a criação do fundo para financiar as perdas e danos dos países vulneráveis. A decisão foi, de fato, histórica, e concretizou o principal resultado da COP27, realizada ano passado no Egito, onde foi aprovado o princípio da criação do fundo, mas sem definir os detalhes.
"Tivemos sucesso ao operacionalizar o [fundo] de perdas e danos. E fomos além disso ao mobilizar 800 milhões dólares", afirmou o diretor da COP28.
Agora, na parte das negociações, o esforço por um consenso seguirá. Suwaidi, porém, tentou contextualizar o tamanho do desafio.
"Estamos enfrentando a agenda mais demandante de uma COP. Estamos tentando fazer algo nunca feito: um acordo abrangente para fechar a lacuna entre onde o mundo está e para onde precisa ir para manter a meta de 1,5 grau [de aquecimento] dentro do alcance", disse. "Parte disso é trabalhar para incluir os combustíveis fósseis na linguagem do texto. Se conseguirmos, será histórico."
Apesar do pessimismo entre os presentes na COP28 sobre a possibilidade de incluir uma linguagem mais assertiva sobre os combustíveis fósseis, seria, de fato, histórico.
Na noite de ontem, como mostrou EXAME, a do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, não disfarçou o descontentamento com o trecho que trata dos combustíveis fósseis.
“Essa ideia do combustível fóssil desapareceu em termos de linguagem. Nós vamos continuar trabalhando para ter essa clareza", afirmou.