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Confrontos pró e contra Mubarak deixam três mortos e 639 feridos

Um dia depois de Mubarak se negar a deixar o poder, protestos e violência continuam

Manifestantes em frente a tanques do Exército, durante manifestação no Cairo (Suhaib Salem/REUTERS)
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Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2011 às 00h48.

Cairo - Partidários e adversários do presidente egípcio, Hosni Mubarak, se enfrentaram violentamente, nesta quarta-feira, no Cairo, em uma batalha campal que deixou três mortos e 639 feridos, um dia depois de o chefe de Estado se negar a deixar o poder de imediato, como exigem os manifestantes em protestos multitudinários.

Durante a noite, o Exército havia se mobilizado de forma massiva na praça Tahrir (Libertação, em árabe), uma imensa esplanada no centro do Cairo que se tornou, desde o dia 25 de janeiro, na base dos manifestantes opostos a Mubarak.

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Um jornalista da AFP escutou pelo menos cinco tiros e viu um homem ferido à bala, sem conseguir determinar de onde vinham os disparos e o tipo de arma utilizada.

Segundo o ministro da Saúde, Ahmed Hosni Farid, citado pela rede de televisão pública, três pessoas morreram e outras 639 ficaram feridas nesta quarta-feira na praça Tahrir, em sua maioria por pedradas.

Milhares de partidários de Mubarak haviam participado de várias concentrações pela manhã nesta praça. Em questão de minutos, os dois grupos começaram a atirar pedras uns nos outros.

Após o cair da noite, os partidários de Mubarak lançaram coquetéis molotov e também foram disparadas bombas de gás lacrimogêneo.

Duas destas garrafas incendiárias caíram no pátio do museu arqueológico egípcio, que contém riquezas inestimáveis da época dos faraós, mas os soldados formaram uma corrente humana para protegê-lo.

Os jornalistas não se livraram dos ataques. O Exército precisou intervir na praça Tahrir para socorrer um cinegrafista canadense que a multidão queria linchar. E, segundo testemunhas, os partidários de Mubarak atacaram jornalistas que abandonavam a praça. Vários repórteres foram detidos, além disso, por não respeitar o toque de recolher.

Os partidários de Mubarak entraram por um acesso vigiado na véspera por soldados que controlavam o acesso à praça, onde meio milhão de pessoas se concentraram para pedir a renúncia imediata do presidente, de 82 anos, no poder desde 1981.

A oposição acusou policiais à paisana de terem se infiltrado na praça, mas o ministério do Interior negou.

Com exceção de alguns disparos de advertência ao ar, nesta quarta-feira os militares não se interpuseram nos atos.

Horas antes dos confrontos, o Exército, que na segunda-feira havia conquistado a simpatia dos manifestantes ao considerar "legítimas" suas reivindicações, pediu o fim da mobilização.

E durante a noite, o vice-presidente Omar Suleimán reiterou o mesmo chamado e advertiu que o diálogo com a oposição não pode começar enquanto houver manifestações.

Mubarak anunciou na terça-feira a decisão de deixar o poder em setembro, quando termina seu mandato. E na manhã desta quarta-feira, o regime tomou medidas que pareciam destinadas a a acalmar os ânimos, como a de diminuir em três horas o toque de recolher (que agora vigora entre as 17H00 e as 08H00) e a restabelecer parcialmente as conexões da internet.

Mas os opositores ignoraram o apelo do Exército e não se deram por satisfeitos com a decisão de Mubarak de não disputar a reeleição em setembro, confirmando a convocação na próxima sexta-feira, dia de oração para os muçulmanos, de uma manifestação em todo o país.

A situação no Egito é seguida com preocupação em todo o mundo. O país é um aliado do Ocidente, um dos únicos países árabes a assinar um tratado de paz com Israel, além da Jordânia, e controla o Canal de Suez, por onde passa a maior parte da provisão de petróleo com destino aos países industrializados.

Mas as capitais do Ocidente parecem cada vez mais resignadas a abandonar Mubarak à sua própria sorte, condenando a agressão aos manifestantes e pedindo ao presidente egípcio que inicie um verdadeiro período de transição que vá além do mero anúncio de que deixará o poder em setembro.

A chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, pediu uma investigação sobre a violência, e o porta-voz do departamento de Estado, Philip Crowley, disse esperar que o Egito mantenha "um papel construtivo" no processo de paz no Oriente Médio.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reivindicou ainda a Mubarak que aja "o mais rapidamente possível" na "transição" política reivindicada pelos manifestantes.

Israel, por sua vez, advertiu que os protestos no Egito podem desencadear um período de "instabilidade e incerteza" na região durante "muitos anos".

Segundo um balanço da ONU não confirmado, os protestos iniciados na terça-feira da semana passada já teriam deixado 300 mortos em todo o país.

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