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Como um patrocínio pode manchar a reputação verde das Olimpíadas de Londres

Contrato com a Dow Chemical, dona da empresa que causou um dos maiores desastres industriais da história, é alvo de crítica de ambientalistas e ativistas de direitos humanos

Andrew Liveris, CEO da Dow, durante anúncio de patrocínio ao COI em 2010 (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Publicado em 16 de fevereiro de 2012 às 10h04.

São Paulo – Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres prometeram que o evento esportivo seria o mais verde de que se tem notícia. Mas um contrato de patrocínio fechado em janeiro com a empresa do setor químico Dow Chemical para o Estádio Olímpico tem gerado polêmica e colocado em xeque as credenciais sustentáveis da competição.

Por trás do alvoroço está o fato da Dow ser dona da Union Carbide, empresa responsável pelo acidente de Bophal, na Índia, em 1984, que entrou pra história como um do maiores desastres industriais. Na ocasião, 45 toneladas de gases tóxicos vazaram de um tanque da fábrica de pesticidas da Union Carbide, matando por intoxicação ao menos 25 mil pessoas, sendo que mais de 500 mil, a sua maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. Estima-se que 150 mil pessoas ainda sofrem as consequências do acidente tóxico, que tem efeito cancerígeno sobre a saúde e gera deformações físicas em fetos.

Sete anos mais tarde, em 1991, a Union Carbide foi comprada pela Dow Chemical e uma parte da compensação do trágico incidente foi pago, algo em torno de 470 milhões de dólares. Entretanto, o governo indiano e a própria população exigem mais 1,7 bilhões de dólares em indenizações para as vítimas.

Frascos de químicos na fábrica desativada (imagem de 2009) (Getty Images)

A aquisição póstuma à tragédia é usada pela Dow como uma espécie de carta-coringa contra críticas que tentam culpá-la pelo acidente, que culminou com o banimento de comercialização no território indiano de produtos da Union Carbide. No entanto, revelações recentes publicadas pelo jornal britânico The Independent puseram mais lenha na fogueira.

O periódico afirma ter acessado documentos que indicam no mínimo uma falha de reponsabilidade sócio-ambiental, para não entrar nos méritos legais. Segundo reportagem publicada em sua edição online, o periódico afirma que a Dow teria comercializado produtos da Union Carbide por meio de empresas intermediárias na Índia, apesar da proibição da justiça.


A associação entre os jogos e a multinacional virou objeto de protestos e críticas de organizações não-governamentais ligadas ao meio ambiente e direitos humanos, como o Greenpeace e a Anistia Internacional (AI). As vozes contrárias ao acordo pedem aos organizadores de Londres 2012 para dispensar o patrocínio de 7 milhões de libras (cerca de 11 milhões de dólares), alegando que a empresa tem dívidas pendentes relacionados com o desastre em Bhopal.

Em comunicado, a AI pediu ao presidente do comitê organizador dos jogos, Sebastian Coe, que 'reconheça publicamente que não foram levados em conta os direitos humanos ao conceder um contrato à Dow, uma empresa que se negou a assumir suas responsabilidades em relação às vítimas de Bhopal (Índia)'.

Polêmica, a presença da Dow Chemical entre os patrocinadores gerou reações de repulsa mesmo entre as pessoas mais envolvidas com as Olimpíadas. Meredith Alexander, membro do Comitê por uma Londres Sustentável, renunciou ao cargo em protesto. A equipe do comitê é responsável por garantir que a organização dos Jogos siga preceitos éticos e de sustentabilidade ambiental.

Protesto em parede na India: "Chega de Bhopal. Chega de Dow" (Getty Images)

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São Paulo – Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres prometeram que o evento esportivo seria o mais verde de que se tem notícia. Mas um contrato de patrocínio fechado em janeiro com a empresa do setor químico Dow Chemical para o Estádio Olímpico tem gerado polêmica e colocado em xeque as credenciais sustentáveis da competição.

Por trás do alvoroço está o fato da Dow ser dona da Union Carbide, empresa responsável pelo acidente de Bophal, na Índia, em 1984, que entrou pra história como um do maiores desastres industriais. Na ocasião, 45 toneladas de gases tóxicos vazaram de um tanque da fábrica de pesticidas da Union Carbide, matando por intoxicação ao menos 25 mil pessoas, sendo que mais de 500 mil, a sua maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. Estima-se que 150 mil pessoas ainda sofrem as consequências do acidente tóxico, que tem efeito cancerígeno sobre a saúde e gera deformações físicas em fetos.

Sete anos mais tarde, em 1991, a Union Carbide foi comprada pela Dow Chemical e uma parte da compensação do trágico incidente foi pago, algo em torno de 470 milhões de dólares. Entretanto, o governo indiano e a própria população exigem mais 1,7 bilhões de dólares em indenizações para as vítimas.

Frascos de químicos na fábrica desativada (imagem de 2009) (Getty Images)

A aquisição póstuma à tragédia é usada pela Dow como uma espécie de carta-coringa contra críticas que tentam culpá-la pelo acidente, que culminou com o banimento de comercialização no território indiano de produtos da Union Carbide. No entanto, revelações recentes publicadas pelo jornal britânico The Independent puseram mais lenha na fogueira.

O periódico afirma ter acessado documentos que indicam no mínimo uma falha de reponsabilidade sócio-ambiental, para não entrar nos méritos legais. Segundo reportagem publicada em sua edição online, o periódico afirma que a Dow teria comercializado produtos da Union Carbide por meio de empresas intermediárias na Índia, apesar da proibição da justiça.


A associação entre os jogos e a multinacional virou objeto de protestos e críticas de organizações não-governamentais ligadas ao meio ambiente e direitos humanos, como o Greenpeace e a Anistia Internacional (AI). As vozes contrárias ao acordo pedem aos organizadores de Londres 2012 para dispensar o patrocínio de 7 milhões de libras (cerca de 11 milhões de dólares), alegando que a empresa tem dívidas pendentes relacionados com o desastre em Bhopal.

Em comunicado, a AI pediu ao presidente do comitê organizador dos jogos, Sebastian Coe, que 'reconheça publicamente que não foram levados em conta os direitos humanos ao conceder um contrato à Dow, uma empresa que se negou a assumir suas responsabilidades em relação às vítimas de Bhopal (Índia)'.

Polêmica, a presença da Dow Chemical entre os patrocinadores gerou reações de repulsa mesmo entre as pessoas mais envolvidas com as Olimpíadas. Meredith Alexander, membro do Comitê por uma Londres Sustentável, renunciou ao cargo em protesto. A equipe do comitê é responsável por garantir que a organização dos Jogos siga preceitos éticos e de sustentabilidade ambiental.

Protesto em parede na India: "Chega de Bhopal. Chega de Dow" (Getty Images)

Em entrevista ao site RT, Meredith defendeu que o patrocínio vai de contra ao espírito do evento “Os jogos olímpicos devem ser uma oportunidade para mostrar o que há de melhor na cidade anfitriã e no esporte. Em vez disso, todos nós vamos carregar o legado tóxico da Dow Chemicals em nossa consciência", disse ela.

Além do apoio as jogos de Londres, a Dow possui ainda um acordo milionário de patrocínio a parte com Comitê Olímpico Internacional (COI),entidade que administra os jogos e que tem a palavra final na decisão de onde eles se realizarão. Em entrevista à Reuters, publicada no The Guardian, George Hamilton, vice-presidente da Dow para Operações Olímpicas não se intimidou com a má publicidade e reforçou a parceria da empresa não só com as Olimpíadas de Londres, mas também com outros eventos como os Jogos de Inverno de Sochi, em 2014, e até mesmo com os jogos olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

O patrocínio da Dow para os eventos esportivos foi assinado em 2010, com duração de dez anos e valor de 100 milhões de dólares – uma quantia irrisória para quem quer associar sua marca a um dos maiores e mais bem quistos eventos mundiais, na tentativa de, ao que parece,  se livrar de um passado obscuro e de uma indenização bilionária.

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