Escócia seria o 1º Estado independente europeu após a desintegração da Iugoslávia (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2014 às 14h52.
Londres - Dias antes do referendo de 18 de setembro, e com as pesquisas revelando um empate técnico, o Reino Unido começava a questionar o que poderá acontecer se a Escócia se tornar independente.
Uma das consequências poderia ser um pedido de demissão do primeiro-ministro britânico David Cameron, assim como um período confuso e de complexas negociações entre os governos britânico e escocês para a separação das duas economias e de sistemas políticos profundamente interrelacionados depois de três séculos de história compartilhada.
O Partido Nacional Escocês (SNP) já fixou a data de 24 de março de 2016 — 309° aniversário das Atas de União entre Inglaterra e Escócia - para completar o processo e declarar uma secessão que reduzirá a superfície do Reino Unido em um terço.
A Escócia seria o primeiro Estado independente criado na Europa desde a sangrenta desintegração da Iugoslávia, embora fosse mais comparável à partição, em 1993, da Tchecoslováquia em dois países, a República Tcheca e a Eslováquia, de maneira pacífica e consensual.
Grande parte do que aconteceria entre o "Sim" do referendo e 2016 ainda é incerto, como a questão de se a Escócia poderá continuar como membro da União Europeia como uma entidade independente ou teria de entrar na fila para solicitar seu reingresso como um novo país.
A data das eleições gerais da Grã-Bretanha - atualmente previstas para maio de 2015 - poderão ser adiadas porque os deputados britânicos que a Escócia elege ficariam menos de um ano no parlamento.
O consenso entre os analistas é que as eleições não serão adiadas, mas que não se permitirá que os deputados escoceses recém-eleitos votem a respeito de qualquer legislação relativa à Inglaterra e a Gales.
Estes são os aspectos mais importantes a serem negociados:
- Petróleo e gás: o tesouro da Escócia - as jazidas do Mar do Norte - provavelmente ficarão divididas geograficamente.
No total, 85% das reservas conhecidas da zona estão no que seria o território escocês e o setor pode constituir 15% da economia da nova Escócia.
- Compartilhar moeda e dívida. Uma questão econômica-chave será como compartilhar a dívida da Grã-Bretanha, de £1,4 trilhão (€1,8 trilhão, 2,3 trilhões de dólares). O governo escocês disse que poderá dividir proporcionalmente de acordo com a população.
A Escócia continuaria usando a libra nos próximos meses, mas o que aconteceria depois da plena independência ainda é dúvida, já que o governo britânico descarta compartilhar a moeda.
A opção mais provável seria a Escócia utilizar a libra sem um acordo formal com a Grã-Bretanha - como o Panamá ou o Equador com o dólar americano ou o Kosovo com o euro.
- Constituição: o governo escocês também disse que quer uma convenção que reúna as empresas, a sociedade civil e os sindicatos para ter uma Constituição por escrito, algo de que carece o Reino Unido.
Também pretende que a Constituição proíba as armas nucleares na Escócia e a saída, em 2020, dos submarinos nucleares britânicos Trident, atualmente na base naval de Faslane, perto de Glasgow.
- Fronteiras: o campo pró-independência pretende que a fronteira continue sendo invisível, mas sua ideia de abrandar a política de imigração poderá levar o Reino Unido a implantar controles.
O SNP também diz que não serão necessários passaportes para os visitantes do Reino Unido à Escócia e vice-versa, assim como com a Irlanda.
- A rainha: o Partido Nacional Escocês (SNP) disse que quer que a nova Escócia seja uma monarquia constitucional, com a rainha Elizabeth II como sua soberana - como acontece com a Austrália ou o Canadá - e que se unirá à Commonwealth.
A rainha está neutra no debate e não sofrerá qualquer mudança em relação a sua amada residência de veraneio de Balmoral, no nordeste da Escócia, porque é uma propriedade privada da família real.