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Como a Máfia e a Igreja resgataram o mais procurado da China

Wu’er Kaixi foi um dos organizadores do protesto de estudantes na Praça da Paz Celestial, em 1989

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2014 às 23h27.

Pequim/Hong Kong - Wu’er Kaixi já estava perdendo as esperanças.

O segundo homem mais procurado da China permaneceu na margem pela terceira noite, esperando pela lancha, que era sua única chance de escapar da prisão .

Apenas três semanas antes, tropas e tanques haviam esmagado os estudantes que protestavam sob seu comando na Praça da Paz Celestial. Ele e sua namorada fugiram, escapando da polícia ao viajar quase 2.000 quilômetros em direção ao sul.

“Eu não tinha nenhuma esperança de poder escapar”, lembrou Wu’er, 46. “Eu apenas pensava: espero ser preso em algum outro lugar pela polícia e não pelos soldados”.

De repente, luzes piscaram na escuridão. O barco que iria levá-los clandestinamente para Hong Kong, a colônia britânica onde planejavam se refugiar, estava esperando.

Os dois atravessaram as águas de uma fazenda de ostras até atingir o mar aberto. Quando chegaram ao barco, foram puxados a bordo por um homem cheio de joias. A viagem de Wu’er para o exílio tinha começado.

Cerca de 400 manifestantes foram conduzidos à liberdade pela operação secreta batizada de “Yellowbird”, auxiliada por uma improvável aliança entre gângsteres de Hong Kong, policiais e homens de negócios, os governos do Reino Unido e da França e até um pastor batista.

Eles são testemunhas de fatos que os líderes chineses ainda proíbem que sejam mencionados no país. Antes do 25º aniversário, os censores continuam vasculhando a internet em busca de referências ao ocorrido no dia 4 de junho e jornalistas e ativistas foram presos nas últimas semanas como parte de uma repressão de segurança.

‘A verdade da história’

“Eles conseguiram preservar a verdade da história”, disse Albert Ho, um dos principais políticos da cidade a favor da democracia, que ajudou na operação.

“Algum dia muitos deles terão que voltar à China e poderão contar a verdade às pessoas, como eles prometeram aos que sangravam no chão”.

Embora a existência da operação Yellowbird seja conhecida há muito tempo, vários detalhes foram mantidos em segredo para proteger os envolvidos.

Para unir as peças da operação e das vidas que ela transformou, a Bloomberg News entrevistou fugitivos, organizadores e ex-funcionários.

Entre os que escaparam está Xiong Yan, que foi liberado de uma prisão de Pequim em 1991 e agora é capelão no Exército dos EUA; Li Lu, um gestor de fundos que ajudou a Berkshire Hathaway de Warren Buffett a investir na China; e Su Xiaokang, que escreveu livros sobre sua dificuldade para se adaptar à nova vida nos EUA.

A China também mudou drasticamente desde então, pelo menos em termos econômicos. Sua economia cresceu mais de 20 vezes até se tornar a segunda maior do mundo.

Ao fazer isso, centenas de milhões de pessoas saíram da pobreza e surgiu uma classe média urbana.

Tudo isso aconteceu, segundo alguns observadores, depois que Deng Xiaoping, o supremo líder chinês, rejeitou brutalmente em 1989 a reforma política e buscou o crescimento econômico a todo custo, incluindo a restrição de liberdades individuais e a manutenção de um único partido.

No fim do dia 3 de junho de 1989, as tropas abriram fogo e mataram centenas, talvez milhares de pessoas à medida que o exército entrava em Pequim para tomar a praça dos estudantes.

Os manifestantes pediam reformas políticas, liberdade de expressão e o fim da corrupção entre os funcionários do governo.

Banquete de casamento

As notícias da carnificina chegaram rapidamente ao reverendo Chu Yiu-ming, um pastor batista magro e combativo de Hong Kong. Chu, que acabara de voltar de um encontro com os estudantes em Pequim, estava em um banquete de casamento.

“As lágrimas correram”, disse o grisalho Chu, 70, em entrevista realizada em sua igreja em abril. “Clamei em uma oração: Deus, o que podemos fazer?”.

A resposta veio alguns dias depois. Ele foi chamado por dois homens: um empresário e um gângster local. Eles queriam que Chu coordenasse um ambicioso plano de fuga.

Chu, que não se intimida ante um desafio, aceitou. Até hoje ele se recusa a falar abertamente sobre seu papel, por medo de prejudicar outras pessoas e um movimento que está liderando pela democracia plena em Hong Kong.

O plano de fuga dependia de uma rede de contrabando dirigida por pessoas como Chan Tat-ching, conhecido como Brother Six.

Cineastas locais o recrutaram para a operação Yellowbird porque ele conhecia pessoas com lanchas rápidas potentes, que eram especialistas em esquivar a polícia para contrabandear carros estrangeiros para a China.

Proprietário de boate

“Eles me levaram a um quarto de hotel, dizendo que a China agora estava tentando prender pessoas e perguntaram se eu estava disposto a ajudar a resgatá-las”, disse Chan, que era proprietário de boates, saunas e hotéis e disse que não era membro das gangues da organização criminosa Tríade da cidade.

“Não pensei muito e aceitei. Se eu tivesse analisado muito, poderia ter hesitado”.


Os cidadãos de Hong Kong, o território que o Reino Unido tinha concordado em devolver à China, estavam tão chocados com as imagens da carnificina na Praça da Paz Celestial que 1 milhão de pessoas foram às ruas para protestar. Ninguém estava preocupado com quem teria possibilitado o resgate, ou com como iria fazê-lo.

Embora muitos dissidentes, como o ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2010, Liu Xiaobo, tenham sido encontrados e presos nos dias seguintes à repressão, outros conseguiram se esconder.

Wu’er, membro da minoria étnica chinesa uigure e nascido em Pequim, ganhou destaque entre os estudantes por confrontar o então primeiro-ministro Li Peng durante uma greve de fome em maio de 1989.

Wu’er disse que foi retirado secretamente da capital no dia 7 de junho por sete simpatizantes, indo em direção ao sul de trem, ônibus e táxi. Ele chegou à cidade litorânea de Zhuhai 13 dias depois.

Mesmo tendo sido reconhecido por pessoas durante o caminho, depois que sua foto apareceu na televisão estatal, ninguém o delatou às autoridades, disse.

Ele estava em segundo lugar na lista dos 21 manifestantes mais buscados pelo governo, onde também estavam Xiong e Li.

Wu’er não sabia nada sobre a operação Yellowbird, mas os responsáveis por ela sabiam dele. Os organizadores disseram que a operação de resgate deu prioridade aos estudantes de perfil mais alto.

O custo de cada resgate variou entre 50.000 dólares de Hong Kong (US$ 6.450) e 600.000 dólares de Hong Kong, disse Szeto Wah, um político de Hong Kong que se envolveu pessoalmente na fuga de Wu’er, nas memórias que escreveu antes de morrer em 2011.

Luzes da cidade

Um simpatizante conectou Wu’er com um empresário em Zhuhai. Ele organizou para que um policial do enclave português vizinho, Macau, tirasse uma foto de Wu’er.

O policial levou a foto a Hong Kong para que Szeto confirmasse a identidade do líder estudantil antes de os resgatadores enviarem o barco.

Wu’er e sua então namorada, Liu Yan, não tinham ideia do destino que os aguardava enquanto as luzes da cidade iluminavam o céu depois de quase uma hora no mar.

Eles foram levados para a casa de um diplomata francês de língua chinesa, Jean-Pierre Montagne.

Uma semana depois, em uma reunião com a polícia, entregaram-lhe uma porção da comida chinesa dim sum e disseram-lhe que o petisco era um presente do então governador da colônia, David Wilson.

“Foi uma maneira de dizer que eu era um hóspede do governo colonial britânico'', diz Wu'er. “Foi um belo gesto”. Montagne e Wilson não responderam aos e-mails enviados para os seus escritórios em busca de comentários.

Governos estrangeiros

Funcionários da colônia em Hong Kong reuniram-se com funcionários dos consulados estrangeiros para saber se eles poderiam receber os dissidentes, disse Alistair Asprey, secretário de segurança de Hong Kong entre os anos 1990 e 1995.

“Estávamos simplesmente cumprindo nossas obrigações internacionais”, disse Asprey.

O governo francês foi o mais hospitaleiro, de acordo com os organizadores da operação Yellowbird. Ele recebeu fugitivos como Su Xiaokang e o cientista político Yan Jiaqi, que tinha sido conselheiro político de Zhao Ziyang, ex-aliado de Deng que foi expurgado por suas simpatias com os estudantes que protestavam.

Ao embarcar em um voo para Paris na semana seguinte, Wu’er usava um distintivo policial e cobria seu rosto com um walkie-talkie. Ele recebeu falsos documentos franceses para viajar.

As histórias contadas por outros fugitivos revelam o quanto a polícia e os soldados chineses também ajudaram os estudantes a escaparem, motivados por simpatia ou corrupção.

Operação secreta

A operação Yellowbird funcionou até 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China. Muitos fugitivos definharam na cidade durante anos até que os esforços diplomáticos frenéticos dos últimos meses antes da transferência da soberania deram resultado, de acordo com funcionários e organizadores.

Brother Six perdeu dois homens em uma colisão de barcos e se retirou da operação Yellowbird depois que outros dois foram detidos em uma operação secreta.

Vinte e cinco anos depois, aqueles que escaparam assistiram de longe ao crescimento da China, ponderando sobre o que o protesto, a fuga e suas vidas subsequentes conseguiram realizar.

‘Conjuntura da história’

Brother Six visitou os EUA há alguns anos, convidado por Chen Yizi, um conselheiro de Zhao Ziyang que conseguiu escapar por meio da operação Yellowbird. Chen, como outros fugitivos, devia tanto a Chan que depois lhe escreveu para agradecer. O gestor de fundos Li também escreveu palavras de gratidão a Chan, dizendo que o contrabandista foi escolhido pela história.

“Ninguém se portou de modo tão espetacular como você na conjuntura da história”, escreveu Li Lu em uma carta a Brother Six em maio de 2007. “O mundo se lembrará de sua história”.

Brother Six disse que não se vê como um herói.

“Eu esperava pela reforma e pela abertura, preservando a história, um passo de cada vez”, disse. “Eles eram acadêmicos, as mentes brilhantes. No mundo, há policiais e há foras da lei. Cada vez que alguém tentar prender pessoas, haverá gente que tentará salvá-las”.

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Pequim/Hong Kong - Wu’er Kaixi já estava perdendo as esperanças.

O segundo homem mais procurado da China permaneceu na margem pela terceira noite, esperando pela lancha, que era sua única chance de escapar da prisão .

Apenas três semanas antes, tropas e tanques haviam esmagado os estudantes que protestavam sob seu comando na Praça da Paz Celestial. Ele e sua namorada fugiram, escapando da polícia ao viajar quase 2.000 quilômetros em direção ao sul.

“Eu não tinha nenhuma esperança de poder escapar”, lembrou Wu’er, 46. “Eu apenas pensava: espero ser preso em algum outro lugar pela polícia e não pelos soldados”.

De repente, luzes piscaram na escuridão. O barco que iria levá-los clandestinamente para Hong Kong, a colônia britânica onde planejavam se refugiar, estava esperando.

Os dois atravessaram as águas de uma fazenda de ostras até atingir o mar aberto. Quando chegaram ao barco, foram puxados a bordo por um homem cheio de joias. A viagem de Wu’er para o exílio tinha começado.

Cerca de 400 manifestantes foram conduzidos à liberdade pela operação secreta batizada de “Yellowbird”, auxiliada por uma improvável aliança entre gângsteres de Hong Kong, policiais e homens de negócios, os governos do Reino Unido e da França e até um pastor batista.

Eles são testemunhas de fatos que os líderes chineses ainda proíbem que sejam mencionados no país. Antes do 25º aniversário, os censores continuam vasculhando a internet em busca de referências ao ocorrido no dia 4 de junho e jornalistas e ativistas foram presos nas últimas semanas como parte de uma repressão de segurança.

‘A verdade da história’

“Eles conseguiram preservar a verdade da história”, disse Albert Ho, um dos principais políticos da cidade a favor da democracia, que ajudou na operação.

“Algum dia muitos deles terão que voltar à China e poderão contar a verdade às pessoas, como eles prometeram aos que sangravam no chão”.

Embora a existência da operação Yellowbird seja conhecida há muito tempo, vários detalhes foram mantidos em segredo para proteger os envolvidos.

Para unir as peças da operação e das vidas que ela transformou, a Bloomberg News entrevistou fugitivos, organizadores e ex-funcionários.

Entre os que escaparam está Xiong Yan, que foi liberado de uma prisão de Pequim em 1991 e agora é capelão no Exército dos EUA; Li Lu, um gestor de fundos que ajudou a Berkshire Hathaway de Warren Buffett a investir na China; e Su Xiaokang, que escreveu livros sobre sua dificuldade para se adaptar à nova vida nos EUA.

A China também mudou drasticamente desde então, pelo menos em termos econômicos. Sua economia cresceu mais de 20 vezes até se tornar a segunda maior do mundo.

Ao fazer isso, centenas de milhões de pessoas saíram da pobreza e surgiu uma classe média urbana.

Tudo isso aconteceu, segundo alguns observadores, depois que Deng Xiaoping, o supremo líder chinês, rejeitou brutalmente em 1989 a reforma política e buscou o crescimento econômico a todo custo, incluindo a restrição de liberdades individuais e a manutenção de um único partido.

No fim do dia 3 de junho de 1989, as tropas abriram fogo e mataram centenas, talvez milhares de pessoas à medida que o exército entrava em Pequim para tomar a praça dos estudantes.

Os manifestantes pediam reformas políticas, liberdade de expressão e o fim da corrupção entre os funcionários do governo.

Banquete de casamento

As notícias da carnificina chegaram rapidamente ao reverendo Chu Yiu-ming, um pastor batista magro e combativo de Hong Kong. Chu, que acabara de voltar de um encontro com os estudantes em Pequim, estava em um banquete de casamento.

“As lágrimas correram”, disse o grisalho Chu, 70, em entrevista realizada em sua igreja em abril. “Clamei em uma oração: Deus, o que podemos fazer?”.

A resposta veio alguns dias depois. Ele foi chamado por dois homens: um empresário e um gângster local. Eles queriam que Chu coordenasse um ambicioso plano de fuga.

Chu, que não se intimida ante um desafio, aceitou. Até hoje ele se recusa a falar abertamente sobre seu papel, por medo de prejudicar outras pessoas e um movimento que está liderando pela democracia plena em Hong Kong.

O plano de fuga dependia de uma rede de contrabando dirigida por pessoas como Chan Tat-ching, conhecido como Brother Six.

Cineastas locais o recrutaram para a operação Yellowbird porque ele conhecia pessoas com lanchas rápidas potentes, que eram especialistas em esquivar a polícia para contrabandear carros estrangeiros para a China.

Proprietário de boate

“Eles me levaram a um quarto de hotel, dizendo que a China agora estava tentando prender pessoas e perguntaram se eu estava disposto a ajudar a resgatá-las”, disse Chan, que era proprietário de boates, saunas e hotéis e disse que não era membro das gangues da organização criminosa Tríade da cidade.

“Não pensei muito e aceitei. Se eu tivesse analisado muito, poderia ter hesitado”.


Os cidadãos de Hong Kong, o território que o Reino Unido tinha concordado em devolver à China, estavam tão chocados com as imagens da carnificina na Praça da Paz Celestial que 1 milhão de pessoas foram às ruas para protestar. Ninguém estava preocupado com quem teria possibilitado o resgate, ou com como iria fazê-lo.

Embora muitos dissidentes, como o ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2010, Liu Xiaobo, tenham sido encontrados e presos nos dias seguintes à repressão, outros conseguiram se esconder.

Wu’er, membro da minoria étnica chinesa uigure e nascido em Pequim, ganhou destaque entre os estudantes por confrontar o então primeiro-ministro Li Peng durante uma greve de fome em maio de 1989.

Wu’er disse que foi retirado secretamente da capital no dia 7 de junho por sete simpatizantes, indo em direção ao sul de trem, ônibus e táxi. Ele chegou à cidade litorânea de Zhuhai 13 dias depois.

Mesmo tendo sido reconhecido por pessoas durante o caminho, depois que sua foto apareceu na televisão estatal, ninguém o delatou às autoridades, disse.

Ele estava em segundo lugar na lista dos 21 manifestantes mais buscados pelo governo, onde também estavam Xiong e Li.

Wu’er não sabia nada sobre a operação Yellowbird, mas os responsáveis por ela sabiam dele. Os organizadores disseram que a operação de resgate deu prioridade aos estudantes de perfil mais alto.

O custo de cada resgate variou entre 50.000 dólares de Hong Kong (US$ 6.450) e 600.000 dólares de Hong Kong, disse Szeto Wah, um político de Hong Kong que se envolveu pessoalmente na fuga de Wu’er, nas memórias que escreveu antes de morrer em 2011.

Luzes da cidade

Um simpatizante conectou Wu’er com um empresário em Zhuhai. Ele organizou para que um policial do enclave português vizinho, Macau, tirasse uma foto de Wu’er.

O policial levou a foto a Hong Kong para que Szeto confirmasse a identidade do líder estudantil antes de os resgatadores enviarem o barco.

Wu’er e sua então namorada, Liu Yan, não tinham ideia do destino que os aguardava enquanto as luzes da cidade iluminavam o céu depois de quase uma hora no mar.

Eles foram levados para a casa de um diplomata francês de língua chinesa, Jean-Pierre Montagne.

Uma semana depois, em uma reunião com a polícia, entregaram-lhe uma porção da comida chinesa dim sum e disseram-lhe que o petisco era um presente do então governador da colônia, David Wilson.

“Foi uma maneira de dizer que eu era um hóspede do governo colonial britânico'', diz Wu'er. “Foi um belo gesto”. Montagne e Wilson não responderam aos e-mails enviados para os seus escritórios em busca de comentários.

Governos estrangeiros

Funcionários da colônia em Hong Kong reuniram-se com funcionários dos consulados estrangeiros para saber se eles poderiam receber os dissidentes, disse Alistair Asprey, secretário de segurança de Hong Kong entre os anos 1990 e 1995.

“Estávamos simplesmente cumprindo nossas obrigações internacionais”, disse Asprey.

O governo francês foi o mais hospitaleiro, de acordo com os organizadores da operação Yellowbird. Ele recebeu fugitivos como Su Xiaokang e o cientista político Yan Jiaqi, que tinha sido conselheiro político de Zhao Ziyang, ex-aliado de Deng que foi expurgado por suas simpatias com os estudantes que protestavam.

Ao embarcar em um voo para Paris na semana seguinte, Wu’er usava um distintivo policial e cobria seu rosto com um walkie-talkie. Ele recebeu falsos documentos franceses para viajar.

As histórias contadas por outros fugitivos revelam o quanto a polícia e os soldados chineses também ajudaram os estudantes a escaparem, motivados por simpatia ou corrupção.

Operação secreta

A operação Yellowbird funcionou até 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China. Muitos fugitivos definharam na cidade durante anos até que os esforços diplomáticos frenéticos dos últimos meses antes da transferência da soberania deram resultado, de acordo com funcionários e organizadores.

Brother Six perdeu dois homens em uma colisão de barcos e se retirou da operação Yellowbird depois que outros dois foram detidos em uma operação secreta.

Vinte e cinco anos depois, aqueles que escaparam assistiram de longe ao crescimento da China, ponderando sobre o que o protesto, a fuga e suas vidas subsequentes conseguiram realizar.

‘Conjuntura da história’

Brother Six visitou os EUA há alguns anos, convidado por Chen Yizi, um conselheiro de Zhao Ziyang que conseguiu escapar por meio da operação Yellowbird. Chen, como outros fugitivos, devia tanto a Chan que depois lhe escreveu para agradecer. O gestor de fundos Li também escreveu palavras de gratidão a Chan, dizendo que o contrabandista foi escolhido pela história.

“Ninguém se portou de modo tão espetacular como você na conjuntura da história”, escreveu Li Lu em uma carta a Brother Six em maio de 2007. “O mundo se lembrará de sua história”.

Brother Six disse que não se vê como um herói.

“Eu esperava pela reforma e pela abertura, preservando a história, um passo de cada vez”, disse. “Eles eram acadêmicos, as mentes brilhantes. No mundo, há policiais e há foras da lei. Cada vez que alguém tentar prender pessoas, haverá gente que tentará salvá-las”.

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