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Comissão pede indenização para vítimas de pesquisas médicas dos EUA

Comissão foi feita depois da descoberta de que um médico americano infectou 1.300 guatemaltecos com sífilis e gonorreia para estudar a evolução das doenças

Barack Obama autorizou a instalação da Comissão de Bioética depois que o caso foi revelado  (Saul Loeb/AFP)

Barack Obama autorizou a instalação da Comissão de Bioética depois que o caso foi revelado (Saul Loeb/AFP)

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Da Redação

Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 12h17.

Washington - Um painel de bioética formado depois do escândalo provocado pelas pesquisas sobre doenças sexuais realizadas por médicos americanos na Guatemala nos anos 1940 recomendaram ao governo dos Estados Unidos que indenizem as vítimas de estudos futuros.

A Comissão de Bioética foi autorizada pelo presidente Barack Obama depois das revelações, ano passado, de que 1.300 guatemaltecos foram infectados com sífilis e gonorreia sem consentimento em uma macabra investigação realizada por um americano há 60 anos. Oitenta e três pessoas morreram em consequência da pesquisa.

Em seu relatório final, a comissão pede uma maior transparência e advertências de fácil compreensão sobre os potenciais perigos de participar nos estudos, assim como altos padrões éticos nas pesquisas financiadas pelo governo federal.

"A comissão confia que o que ocorreu na Guatemala nos anos 1940 não pode acontecer hoje", afirmou Amy Gutmann, titular da comissão.

No ano passado, os Estados Unidos se envolveram em 55.000 projetos de pesquisa no mundo que trabalhavam com cobaias humanas, em sua maioria com objetivos médicos.

Gutmann afirmou que se trata de uma delicada questão ética compensar as pessoas prejudicadas pelas pesquisas, mas insistiu na indenização das vítimas na Guatemala, onde recentemente foram achados cinco sobreviventes das experiências em questão.

A pesquisa realizada na Guatemala, que nunca foi publicada, foi revelada em 2010, depois que a professora Susan Reverby, do Wellesley College, encontrou documentos arquivados que descreviam a experiência liderada pelo controvertido dr. americano John Cutler.

Cutler e sua equipe de pesquisadores recrutam soldados, doentes mentais, prostitutas e presidiários na Guatemala para realizar um estudo que pretendia estabelecer se a penicilina podia ser utilizada para evitar as doenças de transmissão sexual.


Inicialmente, os investigadores infectaram as prostitutas com gonorreia e sífilis e depois a incentivaram a fazer sexo sem proteção com soldados e presidiários.

As cobaias não foram informadas do propósito da pesquisa, nem advertidos de suas consequências potencialmente fatais.

Cutler, que morreu em 2003, também esteve envolvido num controvertido estudo conhecido como Experimento Tuskegee, no qual centenas de afro-americanos que se encontravam na fase final da sífilis fossem observados, mas não tratados, entre 1932 e 1972.

O presidente da Guatemala, Alvaro Colom, classificou de "delito de lesa humanidade" essas experiências realizadas entre 1946 e 1948, e prometeu indenizar as vítimas.

O governo da Guatemala assinala que 2.082 pessoas foram infectadas - um número mais elevado que o admitido pelos Estados Unidos - no estudo conduzido por dez pesquisadores americanos e 12 guatemaltecos.

Obama se desculpou pessoalmente com Colom em 2010, antes de ordenar uma exaustiva investigação sobre o ocorrido.

A Casa Branca disse na véspera da divulgação do relatório que não podia fazer comentários sobre o tema da indenização.

A maioria dos países desenvolvidos tem políticas que obrigam os investigadores ou seus patrocinadores a proporcionar tratamento ou indenizações pelos danos sofridos pelas cobaias das experiência, explicou Gutmann.

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