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Comerciantes de Aleppo tentam fazer mercado reviver

"Fiquei muito feliz quando vi que minha loja seguia de pé entre os escombros, apesar de alguns danos", explicou Antoun Baqqal, de 66 anos

Aleppo: desde 2011, quando o conflito na Síria começou, o local se converteu em um front da batalha entre as forças do regime e os rebeldes (Khalil Ashawi/Reuters)

Aleppo: desde 2011, quando o conflito na Síria começou, o local se converteu em um front da batalha entre as forças do regime e os rebeldes (Khalil Ashawi/Reuters)

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AFP

Publicado em 27 de janeiro de 2017 às 20h57.

Empoleirados nos telhados de um dos mercados históricos de Aleppo, muito danificado por quatro anos de guerra, vários homens jogam escombros em um pátio enquanto, no chão, os comerciantes supervisionam a tarefa, impacientes para voltar ao trabalho.

O objetivo é fazer reviver este mercado coberto, incluído na lista do patrimônio mundial da Unesco e que durante séculos foi um dos corações da cidade.

No entanto, desde 2011, quando o conflito na Síria começou, se converteu em um front da batalha entre as forças do regime e os rebeldes.

"Fiquei muito feliz quando vi que minha loja seguia de pé entre os escombros, apesar de alguns danos", explicou Antoun Baqqal, de 66 anos, um comerciante do mercado Khan Khayr Beyk, na cidade velha, onde muitos mercados foram destruídos.

No interior do edifício de dois andares apenas as fachadas estão muito danificadas. O resto está mais ou menos bem conservado, sobretudo em comparação com outros mercados da cidade que, assim como outras joias do patrimônio sírio, não sobreviveram ao conflito.

"Enviei fotos aos meus amigos comerciantes para encorajá-los a voltar", disse Baqqal.

Durante os combates de Aleppo, que terminaram em dezembro com a reconquista da parte oriental da cidade pelo regime após quatro anos de luta, "os soldados (do exército sírio) dormiam nas lojas", explica.

Agora que as armas silenciaram, Antoun Baqqal quer relançar o comércio de roupas que herdou de seu pai. Quando voltou encontrou uma foto dele no chão, tirou a poeira e a pendurou na parede.

"Vou colocar tudo em ordem para que meu filho possa retomar o negócio. Um dia também poderá pendurar minha foto ao lado da de meu pai e se lembrar de mim com afeto", espera.

Negócio familiar

No pátio do mercado, Zakaria Aziza, de 55 anos, mostra seu telefone celular com fotos de lojas de sua propriedade. São imagens de antes da guerra, muito diferentes do que tem agora diante de seus olhos.

"O mercado estava repleto de mercadorias, era difícil andar de tanta gente que havia", lembra. "Hoje quase não se pode andar, mas por culpa dos escombros".

Em meio às ruínas sobrevive um limoeiro e uma amoreira, assim como um cofre oxidado e uma grande geladeira branca.

Puxando uma corda, dois jovens conseguem arrastar alguns escombros para colocá-los em uma pilha.

As autoridades prometeram recolher os sacos de escombros e ajudar a colocar novamente de pé o mercado, mas, segundo Aziza, será necessário ao menos um ano.

Não muito longe dali, sentado em um velho sofá vermelho, seu sobrinho Mazen descansa depois de ter descido do telhado, onde ajuda nos trabalhos de limpeza.

Este homem de 35 anos, nascido em Aleppo, conta como quando era pequeno brincava no mercado. "Para a família é como uma casa", diz.

Mas os anos de bombardeios deixaram marcas nas paredes, onde o sol continua entrando apesar de tudo através do teto abobadado.

Na entrada do edifício, Mohamed Nur Mimi, de 60 anos, busca instrumentos de música entre a poeira.

Durante os anos de guerra conservou a chave que abre a enorme porta de madeira do mercado coberto e agora espera que os demais comerciantes também voltem.

"Abrindo ou não novamente, os comerciantes voltarão ao mercado para conversar tomando um café e um narguilé", afirma.

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