Chile: mais de 11 milhões de eleitores votaram em plebiscito neste domingo (Miguel SANCHEZ/AFP)
AFP
Publicado em 4 de setembro de 2022 às 20h38.
Última atualização em 4 de setembro de 2022 às 20h45.
Teve início a apuração dos votos do plebiscito realizado neste domingo (4) no Chile para aprovar ou rejeitar uma nova Constituição que busca mudar o modelo ultraliberal herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1989) e estabelecer mais direitos sociais. As primeiras seções de votação começavam a fechar na cidade de Punta Arenas, no extremo sul do Chile, após um dia transcorrido "com absoluta normalidade", segundo o diretor-geral da polícia, Ricardo Yañez.
Às 20h30, com 23% das urnas apuradas, o placar era de 62,98% pela reprovação da nova carta constitucional e de 37,02% pela aprovação, segundo informações do G1.
O plebiscito, para o qual mais de 15 milhões de eleitores estavam convocados na primeira votação obrigatória em uma década, contou com uma alta taxa de participação em todo o país.
No exterior, onde há cerca de 100 mil chilenos registrados e o voto é voluntário, os primeiros resultados mostraram uma pequena diferença entre as opções de apoio e rejeição à proposta constitucional, segundo a mídia chilena com base em dados consulares.
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O presidente chileno, Gabriel Boric, assegurou que, seja qual for o resultado do plebiscito deste domingo, ele pedirá "unidade nacional" em um exercício com "mais democracia" para superar as fraturas sociais, disse ele ao votar sob aplausos de simpatizantes em sua cidade natal Punta Arenas, extremo astral do Chile, em frente ao Estreito de Magalhães.
A ex-presidente Michelle Bachelet, muito popular neste país, disse que se a opção Rechazo vencer, como antecipam as pesquisas, "as demandas dos chilenos não serão atendidas" e um novo processo deve ser convocado. A ex-presidente votou em Genebra, na Suíça, onde acaba de deixar o cargo de Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
A opção "Rechazo" à nova Constituição lidera todas as pesquisas há mais de um mês, mas a campanha "Apruebo" mobilizou multidões, especialmente em Santiago, alimentando a ilusão de vitória.
Os atos de encerramento da campanha na quinta-feira na capital deste país de quase 20 milhões de habitantes geraram duas fotos muito diferentes que contrastam com as previsões. A festa de rua "Apruebo" reuniu entre 250.000 e 500.000 pessoas, segundo os organizadores, enquanto a cerimônia de encerramento "Rechazo" consistiu em um evento de não mais de 400 pessoas em um anfiteatro em Santiago.
"O que se vê nas pesquisas é confirmado, que a vantagem do 'Apruebo' em Santiago será muito importante sobre o 'Rechazo'", diz a socióloga Marta Lagos, fundadora do instituto Mori. "Mas isso não significa que 'Apruebo' vai ganhar, tem uma grande desvantagem no sul e no norte do país", áreas que sofrem com a violência e a insegurança, acrescenta.
Enquanto no sul há conflitos por terras reivindicadas por grupos indígenas mapuches, no norte há um fluxo incessante de imigrantes sem documentos que vivem nas ruas e que tem gerado o surgimento de máfias de tráfico humano e crimes violentos.
"Por aqui, as pessoas vão mais pela rejeição (...) elas acreditam que é o melhor caminho, porque têm medo de mudanças. Têm que comer, têm trabalho e acham que vão perder, " disse à AFP Alfredo Tolosa, um trabalhador de 47 anos de uma empresa madeireira em Tucapel, uma cidade de 13.000 habitantes na região de Biobío (sul).
A obrigatoriedade do voto, sob pena de uma multa máxima de 180.000 pesos (cerca de US$ 200), junto com o comparecimento dos jovens, pode inclinar a balança entre os eleitores habilitados.