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Com 12 mortos em 2 dias, fóruns internacionais examinam crise na Nicarágua

As manifestações contra uma reforma do sistema de previsão social e contra o governo Ortega já mataram quase 300 pessoas desde abril

No domingo, policiais e paramilitares arremeteram comunidades para remover os bloqueios de estradas dos manifestantes contra o governo (Reuters)

No domingo, policiais e paramilitares arremeteram comunidades para remover os bloqueios de estradas dos manifestantes contra o governo (Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de julho de 2018 às 14h59.

Última atualização em 16 de julho de 2018 às 20h37.

Depois de um violento fim de semana que deixou 12 mortos na Nicarágua, a comunidade internacional começou a debater nesta segunda-feira (16) a situação no país e a repressão dos protestos que há três meses exigem a saída do poder do presidente de esquerda Daniel Ortega.

Enquanto isso, centenas de estudantes marcharam nesta segunda na capital para exigir justiça pelas 280 pessoas mortas pelas mãos das forças do governo.

"O governo impôs uma política de terror, mas iremos até o fim pelos mortos. Ortega não pode continuar governando", disse à AFP Axel Munguía, estudante de 20 anos, durante a manifestação em Manágua. "A luta é nas ruas, não vamos voltar às aulas enquanto este homem terrorista, genocida continuar no poder", afirmou Juliana Munguía, estudante de Psicologia.

No sábado, 200 estudantes conseguiram sair de um cerco de 20 horas das forças do governo na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN), em Manágua, e de um templo próximo, em uma ação que deixou dois alunos mortos: Gerald e Francisco.

"Sempre estarão em nossos corações", expressaram os estudantes no protesto, que terminou em frente à temida prisão El Chipote, onde exigiram a libertação dos jovens detidos ilegalmente nas marchas.

No domingo, policiais e paramilitares arremeteram contra Masaya (sul) e comunidades vizinhas para remover os bloqueios de estradas dos manifestantes contra o governo, operação que deixou 10 mortos, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH).

A vice-presidente e primeira-dama, Rosario Murillo, assegurou nesta segunda-feira que o governo atua para libertar o território dos bloqueios de estradas e "restaurar a paz".

Assinalou que os protestos respondem a "um plano terrorista e golpista acompanhado por uma infame e falsa campanha midiática nacional e internacional. Esse golpe que quis impor uma minoria cheia de ódio, essa minoria sinistra, maligna, mas que não conseguiram e nem conseguirão".

Inicialmente, as reivindicações eram contra uma reforma do sistema de aposentadorias, que o governo deixou sem efeito, mas derivaram em uma demanda para a saída do poder de Ortega, que governa desde 2007 pelo terceiro mandato consecutivo.

A oposição o acusa de instaurar uma ditadura e pede para antecipar para março as eleições presidenciais de 2021.

No domingo, as forças do governo retiraram com violência os bloqueios que os opositores tinham em Masaya e em outros povoados do sul do país.

Agenda internacional

Afundada na violência e sem saídas à vista, a crise da Nicarágua foi discutida em fóruns internacionais, como a reunião de chanceleres da União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), que começou em Bruxelas nesta segunda-feira.

O Brasil e outros doze países da América Latina, entre eles Chile, Argentina, Uruguai, Costa Rica e Honduras, exigiram em declaração conjunta o "fim imediato dos atos de violência" na Nicarágua e o "desmantelamento dos grupos militares".

Os treze países, que participam da reunião de chanceleres da União Europeia (UE) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) em Bruxelas, condenaram ainda a violência que provocou a "perda de mais de 300 vidas humanas e deixou centenas de feridos", assim como a "repressão" contra estudantes e civis, segundo a declaração divulgada pela chancelaria brasileira.

A nota, firmada ainda por Colômbia, Equador, Guatemala, México, Panamá, Paraguai e Peru, expressa a preocupação dos doze países com "a violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais" de destaca sua "mais firme condenação aos graves e reiterados fatos de violência que se vêm produzindo na Nicarágua e que provocaram até o momento a lamentável perda de mais de 300 vidas humanas e centenas de feridos; pela repressão e violência contra estudantes e membros da sociedade civil, bem como pelo atraso na prestação de assistência médica urgente aos feridos".

O grupo exige "o fim imediato dos atos de violência, intimidação e ameaças dirigidas à sociedade nicaraguense; e o desmantelamento dos grupos paramilitares", e insiste na "reativação do diálogo nacional.

Os Estados Unidos pediram a Ortega na Nicarágua "que pare imediatamente a repressão contra o povo da Nicarágua", em declaração da porta-voz do departamento de Estado Heather Nauert.

"As eleições antecipadas, livres, justas e transparentes são o melhor caminho para a democracia e o respeito aos direitos humanos na Nicarágua", acrescentou em comunicado, no qual pediu a Ortega que ouça as reivindicações do povo nicaraguense por reformas democráticas.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou ser "absolutamente essencial que pare imediatamente a violência e se revitalize o diálogo nacional, porque apenas uma solução política é aceitável para a Nicarágua".

O diplomata português destacou que "é uma responsabilidade essencial do Estado a proteção de seus cidadãos, e que este princípio básico não pode ser esquecido, especialmente quando temos um número de mortos absolutamente chocante".

Mais cedo, a França condenou os ataques executados nos últimos dias pelas forças da polícia e paramilitares contra responsáveis religiosos e manifestantes nicaraguenses, e advogou pela retomada do diálogo com a oposição.

O embaixador americano na Organização dos Estados Americanos (OEA), Carlos Trujillo, por sua vez, adiantou que a questão da Nicarágua voltaria esta semana à agenda do fórum continental.

"A violenta repressão do governo com o uso de turbas sandinistas é inaceitável. Os Estados Unidos ficarão responsáveis pelos violadores de direitos humanos", comentou Trujillo no Twitter.

Enquanto isso, o presidente costa-riquenho, Carlos Alvarado, adiantou que a crise na Nicarágua estará presente em suas discussões com o secretário-geral da ONU, António Guterres, com quem se reunirá nesta segunda-feira em San José.

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