Segundo os especialistas, a recente ofensiva militar reflete "uma adequação da força pública ao conflito", antes centrada na mais alta liderança guerrilheira (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 27 de março de 2012 às 18h45.
Bogotá - A guerrilha colombiana Farc sofreu na última semana seus dois golpes mais fortes do ano, um sinal da adequação da estratégia militar que após acabar com seus líderes máximos ataca também as estruturas intermediárias, apesar disso não afetar a anunciada libertação de dez reféns, segundo especialistas.
Em duas ofensivas, uma em Arauca (leste) e outra em Meta (centro-leste), e em menos de uma semana, as forças militares colombianas mataram ao menos 72 guerrilheiros das Farc, um saldo inédito nos anos recentes.
Isso ocorre em meio à esperada libertação de dez policiais e militares, sequestrados pelas Farc há mais de 12 anos e que a guerrilha assegura que são os últimos oficiais mantidos em cativeiro.
A entrega dos sequestrados está prevista para os próximos 2 e 4 de abril, e até agora não há sinais de que esse prazo mudará.
"A libertação é uma decisão das Farc. É uma decisão já tomada e não será suspensa. A guerrilha assume que está em uma luta, na qual atinge e é atingida, e quando é atingida não pode chorar", disse à AFP Luis Eduardo Celis, investigador da Corporação Novo Arco-Íris, especializada no conflito armado.
Para o cientista político Vicente Torrijos, professor da Universidade de Rosário de Bogotá com doutorado em Assuntos Estratégicos, Segurança e Defesa, os golpes recebidos pelas Farc "devem acelerar o processo de libertações".
"Com o apoio da máxima tecnologia norte-americana, junto com um trabalho de inteligência, puderam detectar colunas atingidas. A guerrilha deve se sentir sob observação e isso a levará a não dilatar a entrega dos sequestrados", opinou Torrijos.
Segundo os especialistas, a recente ofensiva militar reflete "uma adequação da força pública ao conflito", antes centrada na mais alta liderança guerrilheira.
"A ideia é que vai continuar trabalhando na busca dos chefes máximos, o que chamam dois objetivos de alto valor, mas não apenas eles", pois as Farc mostraram que "têm uma cultura organizacional e uma mística que lhes permite superar" a morte de seus mais altos dirigentes, afirmou Celis.
Desde 2008, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, comunistas) perderam Raúl Reyes, ex-número dois; Jorge Briceño 'Mono Jojoy', que era o chefe militar; e Alfonso Cano, seu máximo comandante.
Além disso, seu fundador e figura emblemática, Manuel Marulanda (Tirofijo), morreu de causas naturais há quatro anos.
Com a morte de Cano em novembro passado, Timoleón Jiménez, apelidado de 'Timochenko', assumiu a chefia rebelde e dirigiu várias propostas de diálogo ao presidente Juan Manuel Santos, que condicionou uma aproximação da guerrilha ao fim dos atentados, sequestros e recrutamento de menores.
Desde 2002, as Forças Armadas colombianas colocaram em prática uma política de luta frontal contra as guerrilhas que lhes isolou em zonas mais afastadas do país e limitou suas ações de combate, levando-as a privilegiar nos últimos anos os ataques com explosivos.
As Farc realizaram no ano passado 2.148 ações armadas, 10% a mais que em 2010, e mostra uma tendência de aumento progressivo, segundo um relatório da Novo Arco-Íris.