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Cidade rebelde de Masaya resiste a ataque do governo na Nicarágua

Cidade a 30 quilômetros da capital se declarou em rebeldia desde que começaram, em abril, protestos contra o governo que exigem a saída do poder de Ortega

Nicarágua: mais de 1.000 homens armados com metralhadoras entraram disparando na cidade de 100.000 habitantes (Oswaldo Rivas/Reuters)
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AFP

Publicado em 17 de julho de 2018 às 19h22.

Última atualização em 17 de julho de 2018 às 19h35.

A combativa cidade de Masaya resiste a um duro ataque das forças combinadas do governo do presidente Daniel Ortega, em uma nova tentativa de desarticular a resistência no bairro de Monimbó, símbolo dos protestos que deixaram 280 mortos em três meses na Nicarágua .

Mais de 1.000 homens fortemente armados com metralhadoras entraram disparando nesta cidade de 100.000 habitantes, localizada a 30 quilômetros ao sul da capital, indicaram moradores.

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Uma equipe da AFP tentou entrar na cidade, mas não pôde passar pois as vias foram bloqueadas por policiais de choque e paramilitares, que chegaram em 37 caminhonetes e cercaram Masaya.

Os sinos das igrejas soaram enquanto rajadas de armas de diversos calibres eram ouvidas por todos os lados de Masaya, contaram testemunhas.

"As balas estão atingindo a igreja de María Magdalena, onde o padre está refugiado", escreveu no Twitter o arcebispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, enquanto a comunidade internacional intensificava seus chamados a Ortega para deter a violência.

"Estão metralhando as casas de maneira irresponsável, a mensagem é que se você colocar a cabeça para fora te matam, é uma mensagem de terror", disse o secretário da Associação Nicaraguense de Direitos Humanos (ANPDH), Álvaro Leiva.

"Faço com todas as minhas forças humanas e espirituais um chamado à consciência de todos para alcançar uma trégua", urgiu o núncio no país, Stanislaw Waldemar Sommertag.

Dos Estados Unidos, o subsecretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Francisco Palmieri, pediu "energicamente" ao presidente Ortega "que não ataque Masaya".

"A contínua violência e o derramamento de sangue promovidos pelo governo da Nicarágua devem cessar imediatamente. O mundo está observando", tuitou Palmieri.

A ação das forças do governo fazem parte da chamada "operação limpeza" que policiais e paramilitares iniciaram semanas atrás para desobstruir as ruas, bloqueadas por manifestantes que exigem a saída de Ortega, ex-guerrilheiro de 72 anos que governa desde 2007.

"Vamos morrer aqui!"

A operação desta terça, na qual foram observados atiradores de elite, se concentrou no bairro indígena de Monimbó, onde a população ergueu barricadas de até dois metros.

"Estão nos atacando com armas de grosso calibre, é um dos ataques mais fortes que já lançaram a Masaya. É possível ouvir explosões e disparos de metralhadoras", relatou à AFP Cristian Fajardo, dirigente do Movimento Estudantil 19 de Abril.

Os jovens resistem "com morteiros e pedras", continuou.

Jovens de Monimbó com os rostos cobertos com camisas se protegiam dos disparos atrás das trincheiras, de onde disseram que estão dispostos a morrer por uma "Nicarágua livre".

"Não vamos deixar que entrem aqui, se tivermos que morrer por nossa pátria, vamos morrer", expressaram em um vídeo feito no meio do ataque.

É um "extermínio, um massacre, um genocídio que pretendem cometer contra Masaya. Ortega está travando uma guerra criminosa contra seu povo", condenou a presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez.

A cidade de Masaya se declarou em rebeldia desde que começaram, em 18 de abril, os protestos contra o governo que exigem a saída do poder de Ortega e de sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo.

Masaya é o único reduto rebelde que o governo não conseguiu dobrar nas operações feitas nas últimas semanas.

"Golpe fracassado"

O secretário da presidência da Nicarágua, Paul Oquist, assegurou nesta terça-feira que "a tentativa de realizar um golpe de Estado na Nicarágua já terminou", e advogou para que resolvam a crise mediante a retomada do diálogo.

"O golpe fracassou", disse Oquist em Bruxelas em uma entrevista à AFP.

Enquanto a vice-presidente Rosario Murillo comemorava o avanço na "libertação" das cidades das barricadas levantadas por manifestantes, os desqualificava como uma "minoria cheia de ódio".

"Vamos avançando na libertação de nosso território (...). Estamos assumindo como governo a reconstrução da paz que quiseram retirar de nós, um enorme desafio, e temos a confiança de que vamos alcançar", declarou Murillo a meios de comunicação governistas.

Em meio aos protestos, o Parlamento, controlado pelo governo, aprovou na segunda-feira uma lei que pune com 15 a 20 anos de prisão atos de terrorismo.

A tipificação inclui as pessoas que cometem atos com a intenção de "alterar a ordem constitucional ao obrigar um governo ou abster-se de fazê-lo", o que, segundo a oposição, pretende criminalizar os protestos.

Nos três meses de manifestações, 280 pessoas morreram, apesar dos chamados reiterados da comunidade internacional pelo fim da violência.

A alta representante para Assuntos Exteriores da União Europeia, Federica Mogherini, pediu nesta terça ao governo de Manágua que "acabe imediatamente com a violência, a repressão e as detenções arbitrárias, e que respeitem as liberdades fundamentais".

Também pediu "que os grupos armados irregulares se desmantelem".

A ONU acusou as autoridades da Nicarágua de graves violações aos direitos humanos e disse estar muito preocupada com o desaparecimento de dois representantes do movimento camponês, Medardo Mairena e Pedro Mena, detidos na sexta passada no aeroporto de Manágua.

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