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China transforma combate à corrupção em reality show

No programa, funcionários corruptos do alto escalão mostram arrependimento e confessam suas gastanças entre lágrimas

Partido Comunista da China: reality foi um sucesso entre o público nas redes sociais, mas censura tem cerceado as críticas (Getty Images)
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EFE

Publicado em 24 de outubro de 2016 às 07h51.

Pequim- A televisão chinesa, em parceria com o principal órgão anticorrupção do regime comunista, começou a transmitir um reality show que pela primeira vez exibe a vida particular de altos funcionários corruptos do país, com direito a entrevistas, e tenta mostrar como eles entraram no "mau caminho".

A série do canal público "CCTV" tem como título "Sempre no caminho", com oito episódios, e o primeiro foi exibido em 17 de outubro, atraindo milhões de telespectadores e meio milhão de comentários nas redes sociais do país.

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O primeiro capítulo mostrou a vida de três corruptos, entre eles Zhou Benshun, membro do alto escalão do Partido Comunista na província de Hebei, julgado por aceitar subornos e à espera da sentença.

"Nunca pensei em chegar a esse ponto. Venho de uma família pobre e sempre odiei os corruptos, mas agora me tornei um. É muito triste", admitiu Zhou no programa, onde os funcionários de alto escalão mostram arrependimento e, frequentemente entre lágrimas, confessam suas gastanças.

"Sempre no caminho", programa que tem o nome inspirado no lema da campanha anticorrupção do país, mostrou, por exemplo, que a casa de Zhou, de 800 metros quadrados, tinha uma secretária, um motorista, dois cozinheiros e duas empregadas, sendo uma encarregada de cuidar da tartaruga de estimação do político.

O primeiro capítulo também criticou o líder comunista por ter caído na superstição religiosa, algo igualmente reprovável pelas autoridades disciplinares do Partido Comunista, e mostrou que Zhou enterrou sua tartaruga seguindo rituais budistas quando ela morreu.

Outro protagonista do episódio foi Bai Enpei, antigo chefe do Partido na província de Yunnan, que falou abertamente das razões que o levaram a desviar dinheiro e aceitar subornos para ficar rico.

"Via homens de negócios morando em casas luxuosas, alguns tinham até avião particular. Queria uma vida como essa. Foi isso que mudou a minha forma de pensar", reconheceu Bai, condenado a mais de dez anos de prisão por práticas corruptas.

A Comissão Central de Inspeção e Disciplina, órgão anticorrupção do Partido Comunista que patrocina o programa, passou 10 dias analisando e fazendo inventário das riquezas que Bai acumulou dentro de casa, que incluíam joias de jade, luxuosos jogos de chá e móveis de mogno.

O programa faz uma abordagem pouco comum da campanha anticorrupção criada em 2012 pelo presidente da China, Xi Jinping, que só em 2015 sancionou ou puniu 336 mil altos funcionários, mas que por sua falta de transparência levanta a suspeita de o que é usado pelo líder comunista para derrubar seus adversários políticos.

O julgamento no ano passado do político mais poderoso já processado nesta campanha, o ex-ministro de Segurança Pública Zhou Yongkang, por exemplo, foi feito a portas fechadas e só foi divulgado dias depois, quando foi anunciada a sentença de prisão perpétua.

O reality foi um sucesso entre o público nas redes sociais, embora a censura tenha começado a reduzir a possibilidade de opinar sobre ele (já não é possível, por exemplo, comentar diretamente na conta oficial da série no Weibo, o Twitter chinês).

"Os casos são impactantes. Todos mostram o preço da ganância", escreveu o internauta Zhu Changyao em um dos comentários.

Outro, com o pseudônimo Huozhe Hutu, se queixava da censura: "Por um lado mostram a luta contra a corrupção, por outro proíbem falar disso. Que contraditório!".

O programa começou a ser exibido às vésperas da reunião anual do Partido Comunista da China, que acontece esta semana e a portas fechadas, no qual o combate à corrupção deve ser um dos principais temas.

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