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China e Rússia organizam exercícios militares conjuntos após cúpula da Otan

Manobras marítimas e aéreas demonstram, segundo Ministério da Defesa chinês, 'as capacidades de ambas as partes para enfrentar ameaças'

Caça J-20 é utilizado pela China em exercícios militares perto de Taiwan  (TV estatal Chinesa/Global Times/Reprodução)

Caça J-20 é utilizado pela China em exercícios militares perto de Taiwan (TV estatal Chinesa/Global Times/Reprodução)

Agência o Globo
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Publicado em 12 de julho de 2024 às 14h49.

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Um dia após o Japão alertar para a aproximação entre Moscou e Pequim na reunião de cúpula da Otan em Washington, nos Estados Unidos, a China anunciou que realiza exercícios militares com a Rússia no sul do território chinês nesta sexta-feira. Os chamados “Joint Sea-2024” começaram “no início de julho”, segundo o Ministério da Defesa da China, e continuarão até meados deste mês. Após o comunicado, Tóquio afirmou que as atividades perto de seu território levantam preocupações com sua “segurança nacional”.

As manobras, marítimas e aéreas, são realizadas em torno de Zhanjiang, cidade da província de Guangdong. Segundo o ministério, os exercícios “demonstram a determinação e capacidade de ambas as partes para enfrentar ameaças à segurança marítima e preservar a paz e estabilidade global e regional”. O órgão acrescentou que a agenda também “aprofundará ainda mais a parceria estratégica abrangente de coordenação para a nova era entre China e Rússia”.

O anúncio de Pequim coincide com o fim da cúpula da Otan, na qual os aliados ocidentais reafirmaram seu apoio à Ucrânia contra a invasão russa. Os líderes da organização militar expressaram preocupação com a ajuda chinesa à Rússia em sua guerra contra o território ucraniano. Em resposta, Pequim pediu que a Otan pare de “incitar confrontos entre blocos”. Tanto a China como a Rússia, que se reaproximaram nos últimos anos, mantêm relações hostis com a aliança militar liderada pelos EUA.

‘Facilitador decisivo’ na guerra

Pela primeira vez de forma oficial, a Otan acusou a China de atuar como um “facilitar decisivo” da guerra na Ucrânia —e exigiu que o país interrompa o envio de “componentes de armas” e outras tecnologias cruciais para a reconstrução militar de Moscou. O posicionamento foi apresentado em declaração conjunta aprovada pelos 32 líderes do grupo no segundo dia de reunião da cúpula. Pequim negou a denúncia e alertou os países ocidentais a não “mancharem a imagem” de seu país.

O texto divulgado pela aliança contém a ameaça implícita de que o crescente apoio de Pequim a Moscou terá um custo. A China, diz o documento, “não pode facilitar a maior guerra na Europa na história recente sem que isso afete negativamente seus interesses e reputação”. A declaração, contudo, não especifica quais seriam os custos, embora o primeiro passo natural seja aplicar sanções econômicas que impediriam o país a ter acesso a partes dos mercados globais.

Pequim reagiu acusando a Otan de procurar sua própria segurança às custas de outros. Em entrevista coletiva, a porta-voz do governo chinês, Lin Jian, defendeu que a China tem uma posição “justa e objetiva” sobre a questão da Ucrânia, e que as relações com a Rússia seguem parâmetros definidos pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

‘Parceria sem limites’

Líderes europeus — especialmente países como a Alemanha, que veem a china como um mercado essencial — hesitavam em desafiar Pequim. Muitos deles ignoraram a “parceria sem limites” anunciada pelos presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping, em 2022. Até mesmo o presidente americano, Joe Biden, duvidou da capacidade dos dois países, que têm uma longa história de inimizade, trabalharem juntos. A visão mudou dois anos e meio após a invasão da Ucrânia.

Ainda que a China tenha respeitado os avisos para não fornecer sistemas de armas completos à Rússia, o país fez de tudo que era permitido: forneceu chips de computador, softwares avançados e os componentes necessários para que Moscou reconstruísse uma base industrial de defesa. As evidências foram fornecidas aos países da Otan pela administração Biden, numa tentativa de convencer os céticos que ainda argumentavam que a China não era um fator central na guerra.

— A declaração demonstra que os aliados agora entendem coletivamente esse desafio e estão pedindo à República Popular da China que cesse essa atividade — disse Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden, na tarde de quarta-feira. — Se esse apoio da RPC continuar, isso prejudicará suas relações em toda a Europa, e os EUA e nossos aliados europeus continuarão a impor sanções às entidades envolvidas.

Para a China, o movimento de ajudar a invasão da Rússia à Ucrânia é relativamente novo. No fim de semana antes do início da invasão em larga escala, em fevereiro de 2022, o principal oficial de política externa da China, Wang Yi, disse à Conferência de Segurança de Munique que Pequim respeitava a soberania de nações independentes, incluindo a Ucrânia. Mas agora mantém pouco segredo de seu apoio ao esforço russo para aniquilar o país e integrar seu território.

Desde então, o número de projetos conjuntos da China com a Rússia, incluindo exercícios militares, tem sido impressionante. Xi e Putin se encontraram cerca de 50 vezes como presidentes. E seu esforço conjunto com a Europa para conter o crescimento do arsenal nuclear da Coreia do Norte e evitar que o Irã siga um caminho semelhante foi abandonado.

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