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Chile passa da euforia do resgate na mina aos conflitos sociais

No aniversário de um ano do resgate dos mineiros, governo perde popularidade e enfrenta revolta estudantil

Protestos no Chile: governo enfrenta dificuldades (Martin Bernetti/AFP)

Protestos no Chile: governo enfrenta dificuldades (Martin Bernetti/AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2011 às 15h09.

Santiago - O Chile viveu há um ano um dos episódios mais memoráveis de sua história ao resgatar sãos e salvos 33 mineiros soterrados a 700 metros de profundidade, mas hoje pouco resta da euforia e do otimismo no país, convulsionado por numerosos conflitos sociais.

No dia 13 de outubro de 2010, 1 bilhão de pessoas acompanharam emocionadas como após 69 dias os trabalhadores emergiam um por um do fundo da jazida de cobre.

O sucesso da operação foi fruto do esforçado trabalho de técnicos, engenheiros e voluntários que, desde 5 de agosto, dia do desmoronamento, nunca se deram por vencidos.

A operação de busca e resgate, primeiro com sondas e depois com três perfuradoras que rompiam simultaneamente a rocha, foi decisão do presidente Sebastián Piñera, que contra a opinião majoritária, não expressou dúvidas de que era possível resgatar com vida 'os 33 de Atacama'.

A popularidade de Piñera, que tinha chegado à Presidência do Chile sete meses antes em meio a um devastador terremoto, disparou rapidamente e alcançou 63%.

A capacidade da sociedade chilena para superar as adversidades fortaleceu a imagem internacional de um país que, em fevereiro, tinha sofrido um dos piores terremotos da história. O país deixou de ser 'o Chile de Pinochet' para se transformar em um exemplo de unidade, liderança e coragem.

Piñera exibia por todo o mundo a mensagem 'Estamos bem no refúgio, os 33', o papa divulgava em seu departamento a bandeira que recebeu de presente dos mineiros, enquanto o presidente americano, Barack Obama, elogiava o 'chilean way'.

A maior odisseia da história da mineração, pensavam os mais otimistas, podia fazer do Chile 'um polo de atração' de investimentos e talentos, um modelo de eficiência e solidariedade.

Mas já naqueles dias houve quem previsse um efeito prejudicial ao país quando passasse o patriotismo transitório e se caísse na realidade da precariedade laboral e das desigualdades sociais.

Hoje a euforia se desvaneceu e o Chile parece imerso em um enxame de conflitos políticos e sociais, como aquele protagonizado pelos estudantes de ensino médio e superior, que reivindicam uma reforma educacional.


'O Governo não soube capitalizar a valorização que os cidadãos fizeram do resgate dos mineiros, e cometeu muitos erros no manejo de conflitos como o do movimento estudantil', explica à Agência Efe o radialista chileno Sergio Campos, prêmio nacional de Jornalismo 2011.

'A oposição também não teve a capacidade de criar propostas políticas, e isso enfraquece toda a institucionalidade', acrescenta um dos locutores mais influentes do Chile.

De fora é difícil compreender o porquê de conflitos sociais em um país que goza de estabilidade política e que registra crescimento econômico de 6%, com um nível de desemprego em torno de 7%, e que, segundo a revista 'Forbes', é o melhor país da América Latina para se fazer negócios e um dos 25 melhores no mundo (24ª de 134 colocações).

'O momento que vivemos não é apocalíptico, mas preocupante. Observamos uma deterioração crescente', e há muitas coisas que fizeram- se mal, como a reconstrução após o terremoto, sustenta Campos.

Mas há quem pensa que as mobilizações dos estudantes não necessariamente prejudicam a projeção exterior do Chile.

'É a reivindicação de uma sociedade com um nível de sofisticação superior. O mundo olha para o Chile porque demonstrou ser um país que dá soluções criativas a muitos problemas, como a crise econômica e o acidente na mina', diz à Agência Efe a analista Jennyfer Salvo, diretora de comunicação da Fundación Imagen de Chile.

Segundo ela, o resgate dos '33 de Atacama' 'não transformou a imagem do país, mas deu reconhecimento e uma maior visibilidade ao país'. Enquanto isso, durante os quatro meses de conflito estudantil, foram publicados no mundo 18 mil artigos sobre o assunto.

'A imprensa no mundo todo se pergunta se a mobilização dos universitários chilenos tem a ver com a Primavera Árabe, com os indignados da Espanha ou com os protestos em Nova York contra Wall Street', destaca.


'Há elementos positivos, como a criatividade e a liderança juvenil. O outro lado da moeda é a violência', reconhece a porta-voz da Fundación Imagen de Chile.

Alguns analistas, como o advogado, doutor em filosofia e ex-dirigente democrata-cristão Sergio Mico, indicam que, apesar dos problemas sociais e do temor de uma crise, a confiança dos chilenos em seu futuro pessoal e no do país continua em alta.

'Piñera criou uma grande expectativa. Os chilenos pensavam que ele, como homem de negócios, seria um grande gerente que resolveria os desafios que o país tem há muito tempo', comenta Mico à Efe.

'Essas esperanças se viram ratificadas com o resgate dos mineiros', ressalta o analista. 'Essa ilusão se diluiu com o tempo'. EFE

mf/sa

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