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Chávez tende a ficar isolado, dizem analistas

Especialistas acreditam que estratégia usada pelo presidente venezuelano afastará possíveis aliados políticos e empresariais

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

A trajetória que Hugo Chávez traçou rumo ao que chama de "socialismo do século 21" acabará levando o presidente venezuelano ao isolamento, de acordo com Roberto Romano, professor de ética e política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo o analista, decisões como as anunciadas nesta segunda-feira (8/1) - de que a Venezuela deve nacionalizar as empresas privadas dos setores de telefonia e eletricidade e manter maior controle estatal sobre a exploração de petróleo na bacia do rio Orinoco - deixarão o país cada vez mais distante não só da democracia, mas também de países que defendem o regime democrático e de empresas que se sentirão ameaçadas pelo autoritarismo.

No anúncio de ontem, dia em que tomaram posse os novos ministros que auxiliarão Chávez em seu próximo mandato, o presidente venezuelano afirmou que a nacionalização das elétricas e telefônicas privadas ocorre porque estas são consideradas meios estratégicos de segurança e defesa. "Tudo o que foi privatizado será nacionalizado", afirmou Chávez. Na opinião de Romano, este foi mais um passo em direção a uma animosidade internacional, que pode deixar Chávez cada vez mais sozinho - até mesmo na América Latina. "Se a situação chegar a um ponto de radicalização, países como o Brasil e Argentina vão privilegiar seus próprios interesses, e não devem assumir o lado da Venezuela", diz o analista.

Como agravante, Chávez não se cansa de exibir uma postura de enfrentamento frente a outros chefes de estado e representantes de organismos internacionais. O bate-boca mais recente ainda está em curso e vem sendo travado com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza. O motivo do entrevero é a não renovação da concessão de uma empresa de comunicação oposicionista da Venezuela, fato visto com preocupação por Insulza. O secretário da OEA chegou a dizer que o cancelamento da concessão geraria implicações políticas, declaração prontamente respondida por Chávez: "Que implicações políticas, doutor Insulza?", perguntou Chávez, para acrescentar: "Deveria renunciar. Um secretário-geral que chega a esse nível deveria sair do cargo por dignidade".

Pedir a cabeça do secretário-geral da OEA, da qual a aVenezuela faz parte, é só mais uma das afrontas de Chávez a que o mundo assistiu, afirma Romano. "Ele tem se notabilizado por insultar presidentes de países como México, Peru, Estados Unidos. A questão de Chávez é muito própria do governante que se tornou tão arrogante que imagina que pode tratar representantes de países estrangeiros com a mesma desenvoltura que trata os cidadãos", diz. Segundo o analista, o ataque é a estratégia adotada pelo venezuelano para arregimentar aliados: criticando aqueles que considera oposicionistas e taxando-os de inimigos, o presidente pretende criar um bipolarismo mundial, tal qual o clima que Fidel Castro viveu logo ao assumir o comando de Cuba: "Para Chávez, no entanto, as consequências dessa tática serão mais danosas do que as que Fidel enfrentou. Fidel chegou a esse ponto porque de fato havia a luta cotidiana entre americanos e soviéticos, e Cuba era simplesmente uma peça de xadrez no jogo internacional. Já a Venezuela está forçando uma situação que não existe".

O maior risco para os venezuelanos, na opinião de Romano, seria a falta de estrutura em que o país se encontraria no caso de as relações internacionais realmente se desgastarem. Com a incerteza quanto ao poder das instituições democráticas e às relações de mercado, empresários e nações fugiriam de negócios com a Venezuela, e deixariam o país à própria sorte. "E aí é preciso ver como Chávez produziria alguma coisa além do petróleo para satisfazer as necessidades básicas do povo, como conduziria a política de ciência e tecnologia, os laboratórios, a produção de alimentos".

Mas há, sim, aliados que se manterão fiéis a Chávez no caso de tamanho desgaste entre a Venezuela e a comunidade internacional, afirma Rogério Schmitt, cientista político da consultoria Tendências. Evo Morales, presidente da Bolívia, e Rafael Correa, recém-eleito presidente do Equador, têm mostrado fidelidade ao venezuelano. "Eles foram inspirados pelo tipo de liderança de Chávez, estão alinhados", diz o analista. Schmitt, contudo, não traça um cenário positivo ao venezuelano ao comentar a possível reação de empresas estrangeiras, incluindo brasileiras, às vontades do presidente: "As decisões de estatização criam um ambiente de insegurança política, o que as empresas devem estar vendo de forma bastante negativa. E essa situação provavelmente só vai chegar ao fim quando uma de duas coisas acontecer: ou o preço do petróleo despencar, já que é a cotação que dá poder de fogo a Chávez, ou quando houver uma sucessão na presidência - o que vier primeiro".

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