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Caso Strauss-Kahn: um tema espinhoso para a imprensa francesa

A notória discrição da imprensa do país diante da vida pessoal dos homens públicos ganha prova de fogo com o escândalo do presidente do FMI

"A imprensa francesa carece de lucidez sobre sua sociedade dominantemente masculina", disse escritor (Getty Images / Sean Gallup)
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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2011 às 19h40.

Paris - O caso Strauss-Kahn estremeceu os meios de comunicação franceses, que costumam silenciar sobre a vida particular dos políticos, uma atitude determinada pela "sacralização" do poder, que deveria mudar, segundo vários de seus representantes.

"É uma bofetada e já era hora!" exclamou Jean Quatremer, correspondente do jornal Libération em Bruxelas e autor, em 2007, de uma nota em seu blog sobre o "ponto fraco" de Dominique Strauss-Kahn com as mulheres, na qual escrevia: é "insistente demais (...)" e "com frequência esbarra no assédio".

"Na época em que eu escrevi isto, todo mundo sabia que DSK (como Strauss-Kahn é conhecido na França) - detido no domingo em Nova York e acusado de agressão sexual - podia aprontar nos Estados Unidos, mas ninguém investigou (e) os jornalistas americanos estavam estupefatos" com isto, acrescentou.

Quatremer denunciou os "tabus" e a "pusilanimidade" de jornalistas franceses, que "não se atreveram a falar disso por medo de desagradar" e usaram a "vida privada como a desculpa por sua covardia".

O caso DSK dá argumentos aos que desejam que os meios de comunicação franceses mudem neste aspecto.A

"A proteção da vida privada não deve servir de pretexto para ocultar os traços completos da personalidade dos políticos que são candidatos a dirigir o país. Esta deve ser a lição do caso DSK", sentenciou o jornalista Pierre Haski, autor de um editorial muito crítico no site "rue 89", do qual é cofundador.

"A imprensa francesa carece de lucidez sobre sua sociedade dominantemente masculina e branca, que sacraliza o mundo do poder, seus preconceitos imperantes e minimiza as violências que as mulheres sofrem", comentou, por sua vez, Edwy Plenel, ex-chefe de redação do jornal Le Monde e fundador do site de informações Médiapart.

Embora "cada qual tenha direito a que se respeite sua vida privada, existe uma necessidade absoluta de revelar fatos de interesse público. É uma questão de cultura democrática", acrescentou.

Olivier Royan, diretor de redação da revista Paris Match, lamenta, por sua vez, a "extraordinária sacralização da política na França: o político só representa suas ideias".

"Esse tabu veio à tona pela primeira vez com a revelação de Mazarine" (em 1994), a filha "oculta" do presidente socialista François Mitterrand (1981-1995), lembrou.

"Lamento que não tenhamos falado disso então", confessou Michel Gaillard, diretor do semanário satírico Le Canard Enchainé. "Mas pensamos que se o fizermos, tudo estará permitido", explicou.

"A atitude da imprensa não mudou muito desde então (...) A imprensa francesa se orgulhava de fechar os olhos para a vida privada, quando esta não tinha repercussão na vida do Estado", acrescentou.

Para Christophe Deloire, autor em 2006 com Christophe Dubois do livro "Sexus politicus", que dedica um capítulo a Strauss-Kahn, o chefe do FMI "foi objeto de análises muito elogiosas, mas de muito poucas investigações". Em uma tribuna publicada no Le Monde, lamentou a existência de "uma classe midiática que não atua, que não busca a liberdade" e se limita a "elocubrar".

Por sua vez, Henry Samuel, correspondente do inglês Daily Telegraph em Paris, considera que a atitude da imprensa francesa mudou um pouco após as eleições presidenciais francesas de 2007, quando foi eleito presidente o conservador Nicolas Sarkozy.

"Com Sarkozy, as revistas e os jornais se atrevem um pouco mais. Mas na Inglaterra continuamos nos surpreendendo com a maneira como vocês (os jornallistas franceses) costumam deixar em paz os políticos e as personalidades", afirmou.

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"É uma bofetada e já era hora!" exclamou Jean Quatremer, correspondente do jornal Libération em Bruxelas e autor, em 2007, de uma nota em seu blog sobre o "ponto fraco" de Dominique Strauss-Kahn com as mulheres, na qual escrevia: é "insistente demais (...)" e "com frequência esbarra no assédio".

"Na época em que eu escrevi isto, todo mundo sabia que DSK (como Strauss-Kahn é conhecido na França) - detido no domingo em Nova York e acusado de agressão sexual - podia aprontar nos Estados Unidos, mas ninguém investigou (e) os jornalistas americanos estavam estupefatos" com isto, acrescentou.

Quatremer denunciou os "tabus" e a "pusilanimidade" de jornalistas franceses, que "não se atreveram a falar disso por medo de desagradar" e usaram a "vida privada como a desculpa por sua covardia".

O caso DSK dá argumentos aos que desejam que os meios de comunicação franceses mudem neste aspecto.A

"A proteção da vida privada não deve servir de pretexto para ocultar os traços completos da personalidade dos políticos que são candidatos a dirigir o país. Esta deve ser a lição do caso DSK", sentenciou o jornalista Pierre Haski, autor de um editorial muito crítico no site "rue 89", do qual é cofundador.

"A imprensa francesa carece de lucidez sobre sua sociedade dominantemente masculina e branca, que sacraliza o mundo do poder, seus preconceitos imperantes e minimiza as violências que as mulheres sofrem", comentou, por sua vez, Edwy Plenel, ex-chefe de redação do jornal Le Monde e fundador do site de informações Médiapart.

Embora "cada qual tenha direito a que se respeite sua vida privada, existe uma necessidade absoluta de revelar fatos de interesse público. É uma questão de cultura democrática", acrescentou.

Olivier Royan, diretor de redação da revista Paris Match, lamenta, por sua vez, a "extraordinária sacralização da política na França: o político só representa suas ideias".

"Esse tabu veio à tona pela primeira vez com a revelação de Mazarine" (em 1994), a filha "oculta" do presidente socialista François Mitterrand (1981-1995), lembrou.

"Lamento que não tenhamos falado disso então", confessou Michel Gaillard, diretor do semanário satírico Le Canard Enchainé. "Mas pensamos que se o fizermos, tudo estará permitido", explicou.

"A atitude da imprensa não mudou muito desde então (...) A imprensa francesa se orgulhava de fechar os olhos para a vida privada, quando esta não tinha repercussão na vida do Estado", acrescentou.

Para Christophe Deloire, autor em 2006 com Christophe Dubois do livro "Sexus politicus", que dedica um capítulo a Strauss-Kahn, o chefe do FMI "foi objeto de análises muito elogiosas, mas de muito poucas investigações". Em uma tribuna publicada no Le Monde, lamentou a existência de "uma classe midiática que não atua, que não busca a liberdade" e se limita a "elocubrar".

Por sua vez, Henry Samuel, correspondente do inglês Daily Telegraph em Paris, considera que a atitude da imprensa francesa mudou um pouco após as eleições presidenciais francesas de 2007, quando foi eleito presidente o conservador Nicolas Sarkozy.

"Com Sarkozy, as revistas e os jornais se atrevem um pouco mais. Mas na Inglaterra continuamos nos surpreendendo com a maneira como vocês (os jornallistas franceses) costumam deixar em paz os políticos e as personalidades", afirmou.

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