Caracas tem manifestação pró-Maduro após invasão hacker
Hackers invadiram dezenas de sites estatais para mostrar apoio à uma investida armada contra uma base militar no dia anterior
Reuters
Publicado em 7 de agosto de 2017 às 19h04.
Caracas - Apoiadores do presidente Nicolás Maduro fizeram uma passeata em Caracas nesta segunda-feira a favor da Assembleia Constituinte, após hackers invadirem dezenas de sites estatais para mostrar apoio à uma investida armada contra uma base militar no dia anterior.
O grupo que atacou a base militar próxima à cidade de Valencia disse que a "Operação Davi", em referência à história bíblica de Davi e Golias, tinha objetivo de começar uma insurgência contra o impopular Maduro. Mas nenhuma outra investida foi feita após isto e protestos anti-governo em Valencia foram rapidamente controlados com uso de gás lacrimogêneo.
A nova e poderosa Assembleia Constituinte planeja manter a "revolução bolivariana", que começou há quase 20 anos com o ex-presidente Hugo Chávez, mentor e antecessor de Maduro.
Maduro chamou a Assembleia de única esperança de paz da Venezuela, mas adversários dizem que o plano irá cimentar uma ditadura no país.
"Mais que nada, esta passeata é um pedido por paz", disse uma ativista pró-Maduro à TV estatal, dizendo se chamar Ana.
Cerca de 2 mil pessoas foram às ruas em frente ao complexo parlamentar da Venezuela, onde a Assembleia Constituinte irá realizar suas sessões. Elas gritaram em apoio à Assembleia e pediram o fim de mais de 4 meses de protestos e agitações da oposição, nos quais mais de 120 pessoas morreram.
A nova Assembleia possui poder de reescrever a Constituição, alterar instituições estatais e pode permitir que o presidente governe por decretos no país, que é rico em petróleo mas vem sofrendo uma grave crise econômica.
A oposição diz que a Assembleia tem o objetivo de manter Maduro no cargo, apesar de índices de aprovação afetados por uma profunda recessão e escassez de alimentos e remédios.
"O grande ditador"
Um grupo autointitulado Os Guardiões Binários disse ter hackeado cerca de 40 sites estatais --e acrescentou que foram surpreendentemente fáceis de ser invadidos.
"Nossa intenção é dar esperança ao povo, não importando o quão forte o inimigo pareça, sempre há força na união", disse o grupo à Reuters em entrevista por e-mail.
Um representante, que disse ser venezuelano mas se negou a dar mais detalhes sobre o grupo ou sua localização, disse que o grupo não é afiliado à "Operação Davi", mas que apoia a operação.
A autoridade eleitoral da Venezuela, o CNE, que comandou a votação de 31 de julho para nova Assembleia Constituinte de 545 membros, estava entre as instituições que tiveram sites hackeados. A página invadida apresentava uma nota a favor da Operação Davi e um vídeo mostrando um pedaço do filme "O Grande Ditador", de Charlie Chaplin.
No vídeo, Chaplin dá um vibrante discurso contra o autoritarismo.
"Soldados! Não se entreguem aos brutos, homens que desprezam vocês e escravizam vocês, que regem suas vidas, dizem o que fazer, o que pensar e o que sentir", diz Chaplin no discurso.
A oposição da Venezuela há tempos se refere a Maduro como um ditador, especialmente desde que seu leal Tribunal Supremo de Justiça começou a rejeitar leis aprovadas pelo Congresso, controlado pela oposição.
Desde a votação da Assembleia Constituinte, presidentes como Donald Trump, dos Estados Unidos, e Manuel Santos, da Colômbia, também chamaram a Venezuela de uma ditadura.