É 2010, mas parece 2006: Dilma e Serra debatem sobre privatização (Edu Moraes/Record)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2010 às 06h42.
São Paulo - O ano é 2010 mas a agenda da privatização repete 2006. Noves fora as acusações sobre auxiliares corruptos de parte a parte, a desestatização deu o tom no debate realizado pela TV Record na noite de segunda-feira entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
O grau foi tão elevado, a ponto de o próprio Serra se adiantar em tal momento ao dizer que não, não vai desestatizar, que é mentira e fábula da adversária, que ela sim desestatizou ao patrocinar concessões na área de petróleo.
Dilma, que vem apontando a venda do petróleo do pré-sal se Serra for eleito, lembrou que no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso até o nome da Petrobras pretenderam mudar para Petrobrax e "você ficou caladinho", disse, referindo-se a Serra e afirmando que a sociedade rechaçou a mudança.
Na plateia de convidados, o governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB) disse que não está em cogitação privatizar estatais, citando o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. Há quatro anos, ele concorreu e perdeu a eleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também utilizou o tema na campanha.
"Na eleição passada, se dizia que a questão da privatização teve efeito. Eu não acredito, o Lula ganhou a eleição por causa da reeleição, como o Fernando Henrique Cardoso. O mandato é de oito anos", afirmou o tucano, que há quatro anos chegou a vestir jaqueta repleta de adesivos de estatais como forma de tentar passar ao eleitor que rechaçava a iniciativa.
Questionado sobre o motivo da recorrência do tema por parte do PT, Alckmin se esquivou e não respondeu. O governo de FHC promoveu privatizações nas áreas de telecomunicações e financeira, além de grandes empresas como a Vale.
O senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) limitou-se a dizer que "o PT inventou essa história".
Questionada pela Reuters, logo após o debate, se este tema será repetido no próximo embate, o último, a ser realizado na Rede Globo, Dilma deixou a questão em aberto.
"Não me pergunte. Eu não controlo os debates. O debate é uma faixa de duas mãos", disse a candidata que lidera as pesquisas de intenção de voto no segundo turno.
No balanço do debate, venceu o bate-boca. Às acusações de mentira, fábula e invenção por parte de Serra no debate, Dilma revidou com ataques sobre soberba e autosuficiência contra o tucano.
Os candidatos vivenciaram também uma falha técnica que apagou os cronômetros e impediu que fossem informados sobre a duração do tempo de perguntas e respostas. O problema levou Serra a reclamar duas vezes e fez com que o ex-ministro Antonio Palocci, conselheiro de Dilma, deixasse seu lugar para obter informações com os técnicos da emissora.
Por um período, a informação foi feita em papel, antes que tudo fosse restabelecido. Segundo a emissora, uma falha de energia causou o transtorno, que não deve ter sido sentido pelo público de casa.
O debate, que teve início por volta das 23h e tinha como regra apenas perguntas entre os candidatos, alcançou média de 9 pontos no Ibope.