Nancy Pelosi, presidente democrata da Câmara: pacote de estímulo do governo Biden é alvo de debates com os rebublicanos (Win McNamee/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 27 de fevereiro de 2021 às 08h36.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2021 às 08h51.
Após uma novela de meses, a Câmara dos Estados Unidos aprovou na manhã deste sábado, 27, um pacote de 1,9 trilhão de dólares do governo para estimular a economia americana em meio à crise do coronavírus. O estímulo havia sido proposto pelo presidente Joe Biden ainda antes de sua posse em janeiro, mas é alvo de debate entre democratas e republicanos pelo alto valor.
Embora a aprovação do pacote na Câmara seja uma vitória legislativa para o governo Biden, o pacote passou por uma margem apertada: 219 a 212 votos, praticamente se apoiando na maioria democrata na Casa (que é de 221 a 211).
"A população americana precisa saber que seu governo está lá por elas", disse neste sábado a presidente democrata da Câmara, Nancy Pelosi, ao aprovar o projeto, batizado de Plano de Resgate Americano.
O texto vai agora ao Senado, onde o governo terá desafio maior. Democratas e republicanos têm cada qual 50 cadeiras, mais o voto da vice-presidente Kamala Harris, concedendo ligeira vantagem aos democratas (pelas regras americanas, o vice é também presidente do Senado). Assim, para fazer o pacote passar, democratas terão de convencer uma parcela dos republicanos a votar a favor do estímulo.
O plano é que o pacote trilionário pague pela compra de mais vacinas e investimento na saúde contra a pandemia, além de uma nova rodada de auxílio financeiro a famílias americanas, pequenas empresas e estados. Outro objetivo democrata é aumentar o salário mínimo nacional, dos atuais 7,25 dólares para 15 dólares por hora (valor já praticado em alguns estados).
Republicanos questionam o alto valor do plano e o amplo rol de gastos. Um dos argumentos contrários é que só 9% do valor iria diretamente para o combate ao vírus. Democratas argumentam que o objetivo é estimular a economia no pós-pandemia e afirmam que os próprios republicanos apoiaram pacotes de estímulo dessa envergadura no passado.
O mercado financeiro nos EUA e ao redor do mundo têm observado atentamente as negociações pelo pacote, com bolsas de valores mostrando altas ancoradas na expectativa pelo estímulo americano e no crescimento induzido pela injeção financeira.
Em 2020, ainda sob o governo de Donald Trump, os Estados Unidos já haviam passado um pacote de 2 trilhões de dólares no começo da pandemia, com pagamentos a famílias e estímulos a pequenas empresas. No fim do ano, já em dezembro, o Congresso aprovou ainda outro pacote, de 900 bilhões de dólares.
O PIB americano fechou 2020 com queda de 3,5%. O Fundo Monetário Internacional projeta crescimento de 5,1% para o país neste ano, mas afirma que a retomada da economia mundial virá sobretudo da China, mais do que de EUA e Europa.
O desemprego nos EUA bateu 6,3% em fevereiro, com pouco mais de 10 milhões de pessoas desempregadas. Embora a taxa seja menor do que os picos de abril, de quase 15%, está ainda muito acima dos níveis pré-pandemia, em que o desemprego estava em mínimas históricas, em 3,5%.
O pacote de estímulo é um dos principais objetivos dos primeiros 100 dias de governo Biden. A meta dos democratas no Congresso é que o pacote esteja aprovado até meados de março, mas a batalha no Senado será dura.
O tema do aumento do salário mínimo é ainda mais complicado, uma vez que consultores legislativos no Senado já apontam que o aumento não pode ser passado em meio à mesma legislação e que exigiria dois terços dos votos, em vez de maioria simples -- o que dificultaria ainda mais a aprovação. Assim, uma possibilidade é que o salário mínimo, que é uma prioridade para os democratas e promessa à sua base de apoio, seja retirado do texto e votado separadamente.
O sucesso ou não da aprovação do pacote vai, também, traçar a linha para as próximas votações desejadas pelo governo Biden, de investimento em economia verde a temáticas sociais e outras promessas de campanha que precisem do apoio do Congresso. Apesar da nova maioria democrata no Senado obtida na eleição de novembro passado, a leitura é que Biden terá dificuldade para passar projetos que não sejam amplamente aceitos pelos dois lados, podendo enfrentar oposição mesmo dentro do Partido Democrata. O pacote de estímulo é só a primeira batalha.