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Brexit: o fim de um casamento de conveniência que durou 46 anos

Esta semana o Parlamento britânico tenta novamente aprovar um acordo para o Brexit, após difíceis negociações com a União Europeia

Brexit: "Desde 1973, foi uma relação utilitarista com o foco voltado para a dimensão econômica", diz Schnapper (Toby Melville/Reuters)

Brexit: "Desde 1973, foi uma relação utilitarista com o foco voltado para a dimensão econômica", diz Schnapper (Toby Melville/Reuters)

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AFP

Publicado em 11 de março de 2019 às 10h51.

Última atualização em 11 de março de 2019 às 12h25.

O Parlamento britânico volta a tentar, nesta terça-feira, ratificar um acordo para o Brexit, fruto de árduas negociações com a União Europeia, para acabar com 46 anos de um casamento de conveniência, em que as questões econômicas sempre se sobrepuseram ao projeto político.

"Desde 1973, foi uma relação utilitarista com o foco voltado para a dimensão econômica", disse Pauline Schnapper, professora de estudos da civilização britânica na Universidade de Sorbonne de Paris. "A dimensão sentimental foi quase inexistente", acrescentou, em declarações à AFP.

"Foi uma relação transacional", estimou, na mesma linha, Anand Menon, professor britânico de política europeia do King's College de Londres. "Consequentemente, o divórcio é bastante lógico".

O Reino Unido não quis se somar inicialmente ao projeto europeu, concebido após a Segunda Guerra Mundial em um espírito de reconciliação.

"Não nos sentíamos vulneráveis o bastante para nos somarmos", resumiu Menon. No fim, os britânicos ganharam a guerra, e se sentiam fortes com sua relação especial com os Estados Unidos e com o que restava de seu Império.

Isso não significa que se opusessem ao projeto, lembrou John Springford, diretor de pesquisas do Centro para a Reforma Europeia, de Londres. Como prova disso há o discurso que Winston Churchill pronunciou em 1946, em Zurique, convocando a criação dos "Estados Unidos da Europa".

"O clube dos outros"

No início de 1960, a situação mudou: o crescimento econômico britânico estava abaixo do registrado por seus vizinhos franceses e alemães e o mercado comum se tornou mais atrativo.

Mas a adesão do Reino Unido não foi fácil. Sua primeira candidatura, em 1961, se deparou com o veto do presidente francês Charles de Gaulle, que via nos britânicos um Cavalo de Troia americano e questionava seu espírito europeu.

Depois de outro veto de De Gaulle, em 1967, o Reino Unido finalmente entrou na Comunidade Econômica Europeia em 1973.

No entanto, a entrada coincidiu com o impacto da primeira crise do petróleo, e o impulso econômico esperado não ocorreu.

Em 1975, apenas dois anos depois de sua entrada, os britânicos celebraram o primeiro referendo sobre a Comunidade Econômica Europeia, no qual a permanência se impôs com um apoio de 67%.

Este resultado não acabou com as reticências, e é difícil lembrar algum político britânico que tenha defendido entusiasticamente os benefícios da adesão, além, talvez, de Tony Blair.

"Entrar tarde reforçou a sensação de mal-estar (...) de que havíamos nos unido a um clube moldado por outros", explicou Menon.

A primeira crise não demorou a aparecer. Em 1979, Londres se negou a participar do sistema monetário europeu em nome da soberania nacional e monetária.

E também se opôs a qualquer iniciativa para fortalecer a integração política, reforçando a impressão de que Londres tinha um pé dentro e um pé fora.

Em 1985, também se negou a participar de Schengen - desaparecimento dos controles fronteiriços - e em 1993 do euro.

"Devolvam meu dinheiro"

As reticências se cristalizaram no discurso de Margaret Thatcher de 1988 no qual ela rejeitou a ideia "de um superestado europeu".

Quatro anos antes, a líder conservadora havia obtido finalmente uma diminuição da contribuição britânica ao orçamento da UE ao famoso grito de "Devolvam meu dinheiro".

A desconfiança em relação a Bruxelas se acentuou em meados dos anos 90, com a criação do UKIP, o Partido para a Independência do Reino Unido, que defendia a saída da UE.

Seu êxito eleitoral, particularmente nas eleições europeias de 2014, levou o Partido Conservador, que já tinha seu próprio setor eurocético, a endurecer seu discurso.

A crise na Eurozona e a imigração europeia - que contribuiu para o crescimento do Reino Unido, lembrou Schnapper - radicalizaram o debate, levando o primeiro-ministro, David Cameron, a convocar o referendo de 23 de junho de 2016 que colocou o último prego no caixão de uma relação de conveniência.

Os pró-Brexit afirmam que o Reino Unido finalmente será capaz de "recuperar o controle" de suas fronteiras, suas leis, suas finanças.

Uma aposta que até agora se mostrou "ilusória", considera Thierry Chopin, professor da Escola de Ciências Políticas de Lille, no norte da França.

Porque não só o país está profundamente dividido sobre a futura relação com a UE, como também percebe que, mesmo fora do bloco, deverá continuar a respeitar um certo número de regras europeias para continuar negociando com os 27 países.

"Eles tinham uma situação bastante ideal porque estavam dentro da união, mas com derrogações em um certo número de coisas", resume Pascale Joannin, diretora da Fundação Robert Schuman.

"Agora eles estarão fora da união institucional, sem voz ou voto, e terão que cumprir uma parte do regulamento europeu", acrescenta.

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