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Brasil reciclou mais de 300 mil toneladas de pneus em 2010

Produtos descartados ganham vida nova em projetos de paisagismo e como fonte de energia para indústrias de cimento e de papel e celulose

Largado na natureza, cada pneu demora em média 600 anos para se decompor. (VIMAGES/Eric Fabre)

Largado na natureza, cada pneu demora em média 600 anos para se decompor. (VIMAGES/Eric Fabre)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 22 de fevereiro de 2011 às 17h47.

São Paulo - No ano passado, o país produziu 67 milhões e 300 mil toneladas de pneus de todos os tipos e tamanhos. O volume relativo à reciclagem de inservíveis - aqueles que já não podem mais ser reaproveitados - chegou a 311 mil e 554 toneladas, o equivalente a 62 milhões de unidades de pneus de carros de passeio. Os números são da Reciclanip, entidade formada pelos fabricantes Bridgestone, Goodyear, Michelin, Pirelli e Continental e responsável pela coleta e destinação ambientalmente correta de pneumáticos.

"Representamos 70% do mercado de reposições, contra 30% de importados", diz César Saccio, gerente geral da Reciclanip, que já conta com 620 pontos de coleta em todo o Brasil. Segundo ele, a previsão de investimento no setor para 2011 é de US$ 41 milhões, o que significa um aumento de 20% em relação à verba investida em 2010, que foi de US$ 33 milhões.

Fundamental para a vida moderna, o pneu proporciona agilidade e rapidez nos deslocamentos diários, mas também representa uma ameaça potencial ao meio ambiente. Sem um descarte correto ao fim de sua vida útil, eles podem se acumular em aterros sanitários, lixões, beiras estradas e outros locais a céu aberto, facilitando a proliferação de insetos e obstruindo canais de rios. Mais grave, largado na natureza, cada pneu demora em média 600 anos para se decompor. De acordo com Resolução do Conama, os produtores de pneus são responsáveis pela destinação legal dos pneus que não podem mais ser reutilizados.

Mil e uma utilidades

No Brasil, pneus inservíveis ganham vida nova em setores tão diversos como paisagismo e indústrias produtoras de cimento e siderúrgicas. Pudera, constituído basicamente de látex, borracha sintética e aço, esse produto é 100% reciclável.

Segundo a Reciclanip, 64% do volume anual de pneus descartados seguem para as caldeiras das indústrias de cimento e de papel e celulose. "O pneu tem poder calorífico equivalente ao coque de petróleo, só que com custo zero", afirma Saccio. Os outros 36% são transformados em concreto ecológico, asfalto permeável, capachos para carro, sola de calçados e até mesmo em artefatos para paisagismo.

Pisada e seixo para jardim feitos de pneu. (Divulgação/Verdeal)

Em São Paulo, a fabricante de acessórios para jardinagem Verdeal investe no desenvolvimento de produtos que utilizam materiais derivados de plásticos reciclados e de raspas de pneus inservíveis. Entre os principais produtos, destacam-se o seixo de pneu (cascalhinhos) e os pedriscos, que substituem as tradicionais cascas de árvores usadas para forrar canteiros e jarros de plantas.

Além de evitar fungos e durar mais tempo que as coberturas usuais, os artefatos de pneu reciclado têm aparência orgânica e ajudam a manter a umidade da terra em dias quentes e proteger no inverno. O piso de pneu, outro investimento da empresa, pode ser usado para revestir o chão de condomínios, academias e áreas recreativas. "A demanda por essa alternativa ecológica cresce em sintonia com a adoção de cotas de sustentabilidade em grandes emprendimentos", afirma Maria Cristina Naghirniac de Stefani, diretora de marketing da empresa. Por ano, a Verdeal produz 10 toneladas de artefatos para jardinagem a partir da borracha de pneu reciclado.

Busca por novas aplicações

Uma parceria entre a Reciclanip e a Universidade de São Paulo (USP) pretende encontrar novas possibilidades de uso para os pneus inservíveis. Responsável pela coordenação do projeto, a professora Carmen Cecília Bueno, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, diz que a empreitada, que está em estágio inicial, promete.

"Os polímeros oferecem muitas possibilidades de pesquisas ainda não exploradas", afirma. De acordo com a pesquisadora, o grupo de trabalho vai investir em novas formas de tratamento de resíduos de pneumáticos e também em novas técnicas de transformação da borracha através de radiações nucleares.

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