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Bolívia sob tensão máxima após rebelião de policiais, que se estende

Evo Morales convocou partidos políticos para dialogar, mas não os comitês cívicos que impulsam os protestos

Bolívia: Manifestantes protestam contra presidente Evo Morales (Luisa Gonzalez/Reuters)

Bolívia: Manifestantes protestam contra presidente Evo Morales (Luisa Gonzalez/Reuters)

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AFP

Publicado em 9 de novembro de 2019 às 17h25.

Última atualização em 9 de novembro de 2019 às 17h26.

A Bolívia está neste sábado (9) sob tensão máxima, com uma convocatória do partido governante a ocupar as ruas de La Paz para defender a reeleição do presidente Evo Morales, enquanto se estendiam os motins policiais que começaram na véspera.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, convocou neste sábado a um diálogo os partidos políticos que ganharam assentos no Congresso nas eleições de 20 de outubro, mas não os comitês cívicos que impulsam os protestos para que renuncie.

"Convoco ao diálogo os partidos que obtiveram congressistas nas últimas eleições nacionais, são quatro partidos", disse Morales em uma mensagem à nação, na qual pediu também aos policiais que ponham fim a seus motins e retomem os trabalhos de preservação da segurança.

"Convoco com uma agenda aberta para pacificar a Bolívia. Convoco de forma urgente, imediata, depois desta coletiva de imprensa", acrescentou.

A rebelião começou na sexta-feira à tarde nas forças especiais (UTOP) da polícia na cidade central de Cochabamba e se expandiu inicialmente aos comandos da polícia de Sucre (sul, a capital da Bolívia) e Santa Cruz, a rica região do leste do país e bastião opositor.

Durante a noite de sexta-feira até sábado a rebelião dos agentes se estendeu às demais regiões (são nove), salvo La Paz e Pando (norte, na fronteira com Brasil e Peru), segundo a imprensa local.

No entanto, os agentes da UTOP de La Paz que mantinham restrito há semanas o acesso à Plaza Murillo, onde fica a casa de governo, se retiraram a seu quartel no sábado em sinal de apoio aos motins, observou um repórter da AFP. O setor seguia custodiado apenas por oficiais e sub-oficiais da unidade.

Os motins policiais começaram enquanto a oposição estava nas ruas exigindo a renúncia de Morales após sua reeleição para um quarto mandato nos questionados comícios de 20 de outubro.

O presidente respondeu denunciando um golpe de Estado "em marcha".

"Nossa democracia está em risco pelo golpe de Estado colocado em marcha por grupos violentos que atentam contra a ordem constitucional", tuitou na sexta à noite.

O ministro de Governo (Interior), Carlos Romero, disse no sábado que está em marcha uma "mobilização de caráter político (que) transcende a ordem constituinte e pretende vulnerar a institucionalidade", enquanto a chancelaria publicou um comunicado denunciando que os líderes opositores "impulsam um plano de golpe de Estado".

O governo descartou enviar tropas militares para submeter os policiais rebeldes, anunciou o ministro da Defesa, Javier Zavaleta, enquanto a oposição saudou a insubordinação dos agentes e pediu às Forças Armadas que sigam seus passos.

"Defesa do voto"

O governante Movimiento al Socialismo (MAS) convocou "toda a militância, organizações sociais e simpatizantes" dos nove departamentos a "se fazer presentes em La Paz" neste sábado para "defender" o "voto do campo e da cidade em favor do binômio ganhador" das eleições: Morales e o vice-presidente Álvaro García Linera.

Camponeses que apoiam Morales fizeram uma emboscada neste sábado na localidade rural de Vila Vila (a 165 km de La Paz) contra vários ônibus que trasladavam opositores desde o sul do país até La Paz para engrossar o movimento que pressiona pela renúncia de Morales, disse o dirigente Rodrigo Echalar à televisão universitária.

Até agora, as ruas de La Paz estiveram principalmente ocupadas por manifestantes opositores, que confraternizaram na sexta-feira à noite com os mesmos policiais que durante as três noites anteriores os haviam reprimido.

Os ex-presidentes Carlos Mesa (2003-2005, segundo lugar nas eleições de 20 de outubro), Jaime Paz Zamora (1989-1993) e Jorge "Tuto" Quiroga (2001-2002) pediram às Forças Armadas que não reprimam os opositores.

"Lembrem que há colegas de vocês no presídio de San Roque presos", disse Quiroga em alusão aos cinco chefes militares condenados pelas mortes de manifestantes em 2003 sob o governo de Gonzalo Sánchez de Lozada, que depois fugiu para os Estados Unidos.

A rebelião policial começou enquanto o líder regional Luis Fernando Camacho, o rosto mais visível e radical da oposição, buscava aliados para ir na segunda-feira levar uma carta de renúncia a Morales, que espera que assine.

Camacho, advogado de 40 anos e líder do Comitê Cívico Pro Santa Cruz, agradeceu aos agentes e pediu à "família militar" que cumpra seu "compromisso com o povo boliviano".

O governador e o prefeito da região mineradora de Potosí, no sul, renunciaram neste sábado em meio à onda de violência.

"Não vou me agarrar ao cargo", disse o governador do departamento de Potosí, Juan Carlos Cejas, acrescentando que não quer colocar sua família em risco.

O prefeito da cidade de Potosí, Williams Cervantes, renunciou horas depois, afirmado que é preciso "pacificar o país".

Em La Paz dezenas de manifestantes foram ao Colégio Militar pedir aos uniformados que se unam à cruzada para conseguir a renúncia de Morales, enquanto em alguns bairros as pessoas comemoraram o motim policial.

Os protestos contra a reeleição de Morales deixaram três mortos e cerca de 250 feridos, e restringiram a circulação e o comércio.

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