Bernardo Arévalo: em 28 de agosto, o partido foi desabilitado pelo diretor do Registro de Cidadãos (registro eleitoral), que acatou uma ordem judicial (Johan Ordonez/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 21 de agosto de 2023 às 11h12.
Neste domingo, 20, Bernardo Arévalo venceu a eleição presidencial da Guatemala com a promessa de empreender um combate frontal à corrupção, um problema endêmico no país.
O sociólogo e deputado social-democrata de 64 anos é filho de Juan José Arévalo (1945-1951), o primeiro presidente democrata da Guatemala e que estimulou reformas sociais. Como presidente eleito, promete seguir os passos de seu pai com um forte agenda social e de mudanças.
"Há anos somos vítimas, presas de políticos corruptos", disse Arévalo ao encerrar sua campanha, ocasião em que evocou a "primavera" democrática de 1944 encabeçada por seu pai na Guatemala. "Não sou meu pai, mas sigo o mesmo caminho."
Seu pai, Juan Arévalo, foi o primeiro presidente democrático do país, entre 1945 e 1951, após décadas de ditaduras. Ele encerrou os 13 anos de poder de Jorge Ubico, um admirador de Hitler que submeteu indígenas maias a trabalhos forçados.
Na década da "primavera democrática" nos anos 1940, o governo criou o Instituto Guatemalteco de Previdência Social, deu autonomia à Universidade de San Carlos e às prefeituras e permitiu o voto a mulheres e analfabetos. Construiu um porto no Caribe, outro no Pacífico, uma rodovia para unir a capital com o Atlântico e competir com a poderosa United Fruit Company, que, junto com uma reforma agrária, afetavam os interesses da empresa americana.
Agora, mais de 60 anos depois, Bernardo Arévalo precisou superar uma série de obstáculos antes de saborear a vitória. O Ministério Público tentou afastá-lo das eleições e inabilitar o Semilla com o pretexto de irregularidades em sua formação como partido em 2017. A Corte Suprema guatemalteca decidiu esta polêmica na sexta-feira ao anular a ordem de um juiz, mas o MP continuará a investigação.
Vestido quase sempre de azul, com bigode e barba aparados, o líder do Semilla superou amplamente a ex-primeira-dama Sandra Torres, que perdeu sua terceira eleição, apesar do apoio do governo, de vários partidos de direita, de grandes empresários e de pastores evangélicos.
Arévalo nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1958, devido ao exílio de seu pai, logo depois que Jacobo Árbenz foi deposto em 1954 por uma rebelião militar arquitetada pelos Estados Unidos. Também viveu na Venezuela, México e Chile antes de chegar à Guatemala aos 15 anos. Estudou Sociologia em Israel, foi vice-chanceler em 1994-1995 e embaixador na Espanha entre 1995 e 1996, durante o governo do falecido presidente Ramiro de León Carpio.
Em um país fortemente conservador e religioso, Arévalo disse que não legalizará o aborto nem o casamento LGBT, mas garante que não permitirá a discriminação por gênero ou religião. Ele assumirá o poder em 14 de janeiro de 2024 para suceder Alejandro Giammattei (direita), que tem 62% de rejeição entre a população, segundo pesquisas recentes.
Com AFP.