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Banheiros de ouro e outros luxos marcam acusações na Turquia

A campanha eleitoral turca está sendo protagonizada por uma azeda polêmica a respeito do palácio presidencial


	Presidente turco Recep Tayyp Erdogan: bate-boca mostrou até que ponto a campanha eleitoral se transformou em um duelo entre a oposição e Erdogan
 (Osman Orsal/Reuters)

Presidente turco Recep Tayyp Erdogan: bate-boca mostrou até que ponto a campanha eleitoral se transformou em um duelo entre a oposição e Erdogan (Osman Orsal/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2015 às 21h01.

Istambul - Há realmente banheiros com tampas de ouro no palácio presidencial da Turquia? Esta pergunta protagonizou uma azeda polêmica neste terça-feira entre o presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, e a oposição, a apenas cinco dias das eleições gerais.

O líder da oposição turca, Kemal Kiliçdaroglu, dirigente do social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP), acusou em um comício da existência de banheiros de ouro para denunciar o luxo que rodeia o presidente e outros altos cargos, e ele rebateu no mesmo tom.

"Venham ver todos os banheiros! Se encontrar um só de ouro, renunciarei", prometeu Erdogan durante um discurso na segunda-feira.

"E quando soube que são de ouro? Será que estava limpando eles?", acrescentou o presidente.

Horas mais tarde a presidência turca enviou um convite formal a Kiliçdaroglu para visitar o palácio, mas este rejeitou e lembrou que o complexo presidencial foi construído ilegalmente, como confirmaram os tribunais turcos, e por isso, afirmou, não pensa em pisar nele.

O líder opositor esclareceu que a acusação de usar banheiros de ouro se referia a um governador provincial por um caso que a imprensa revelou em maio e, além disso, expressou seu profundo respeito aos trabalhadores que limpam banheiros.

Mesmo assim, o advogado de Erdogan denunciou hoje Kiliçdaroglu por calúnias e pediu uma indenização de 100 mil liras (cerca de 35 mil euros).

O bate-boca mostrou até que ponto a campanha eleitoral se transformou em um duelo entre a oposição e Erdogan, apesar de o presidente dever se manter fora da eleição geral e não poder favorecer um partido sobre outro, segundo a Carta Magna.

Mas a realidade é diferente, como a intensa atividade de Erdogan demonstrou, percorrendo diariamente diversas províncias para falar com a população nas praças públicas em eventos que em sua agenda oficial são definidos como "encontros com os cidadãos".

Nestes discursos, o líder islamita costuma lançar duras acusações contra todos os partidos, menos o de Justiça e Desenvolvimento (AKP), que ele mesmo fundou em 2001 e dirigiu até o meio do ano passado, quando renunciou para assumir a presidência.

Esta imbricação entre a presidência e o AKP faz com que a oposição colocasse Erdogan como alvo, sem quase se ocupar de Davutoglu ou de seu partido.

"A única pessoa que não tem lugar aqui é Erdogan", é uma das frases mais ditas nos comícios do Partido Democrático dos Povos (HDP), nascido do movimento marxista curdo e que se transformou na formação preferida de grande parte da esquerda turca.

O estilo autoritário de Erdogan só faz alimentar essa animosidade, ao desafiar abertamente as leis - como quando descartou acatar uma sentença que paralisava as obras de seu palácio - e seu gosto por tudo grandiloqüente, como a instauração de uma guarda de honra com trajes inspirados nos antigos reinos turcos.

A exibição de uma vida luxuosa é para muitos turcos devotos incompatível com os mandamentos islâmicos de modéstia e trabalho a favor da comunidade, cuja bandeira era levantada pelo AKP quando chegou ao poder em 2002.

Inclusive um dos fundadores do AKP, o vice-primeiro-ministro Bülent Arinç, reconheceu que a única coisa que seu partido não conseguiu em 13 anos de governo foi pôr fim ao desperdício.

"Se pudéssemos conter o desperdício, não faria falta cobrar impostos. Mas neste exame falhamos", admitiu.

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