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Baltasar Garzon é julgado por investigar passado franquista

Juiz que liderou processos contra Augusto Pinochet e Osama Bin Laden pode ter a careeira interrompida devido a sua atuação no julgamento de casos da ditadura espanhola

O juiz Baltasar Garzon, durante seu julgamento: ele pode ser proibido de atuar por 20 anos (Javier Soriano/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2012 às 15h34.

Madri - Ele caçou Augusto Pinochet, perseguiu autoridades da ditadura argentina, condenou Osama Bin Laden e desmantelou o grupo armado basco ETA, mas, ao atacar o passado franquista de seu país, o juiz espanhol Baltasar Garzon precipitou sua queda.

Cabelos brancos com uma mecha grisalha e óculos, a imagem deste magistrado de 56 anos, o "vigilante internacional", sentado no banco dos réus poderá marcar o fim da brilhante carreira de uma personalidade tão admirada na Espanha.

Suspenso de suas funções na Audiência Nacional (correspondente ao Supremo Tribunal) em maio de 2010, Baltasar Garzon se defende desde o dia 17 de janeiro em dois julgamentos.

O famoso juiz corre o risco de não poder exercer suas funções por 20 anos. Uma sentença de morte para a carreira deste que é descrito por seus detratores como "um astro" que está mais preocupado em aparecer nas manchetes dos jornais do que com seus processos.

Mas, para seus partidários, não resta dúvida alguma: o magistrado paga por sua coragem de querer investigar o passado franquista da Espanha.

Sem esperar o veredicto, Baltasar Garzon já se exilou, segundo pessoas próximas: primeiro em Haia, depois na Colômbia, onde trabalha atualmente como consultor enviado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

Ele continua a perseguir seu ideal de uma "justiça universal" a milhares de quilômetros de Torres, pequena cidade na zona rural da Andaluzia, onde nasceu em 26 de outubro de 1955.

Filho de um funcionário de posto de combustível, cresceu na pobreza dos anos 1950 na Espanha rural. Construiu sua carreira como magistrado graças aos estudos: primeiro com uma bolsa no ensino médio, depois em um Seminário até escolher o seu caminho, o direito.


Chegou a Audiência Nacional em 1988, e logo se engajou em casos sensíveis e midiáticos.

Se suas investigações sobre terrorismo islâmico e traficantes de cocaína têm sido prejudicadas pelos tribunais, conseguiu alcançar inegável êxito em 22 anos de luta contra a organização basca ETA.

Sua fama internacional explodiu em 1998, quando ordenou a prisão em Londres do ex-ditador chileno Augusto Pinochet.

A simpatia pela esquerda o impulsionou na política e o fez ser eleito deputado do Partido Socialista em 1993. Mas, isso não o impediu de investigar, por exemplo, na década de 1980 os Grupos Anti-terroristas de Libertação (GAL), uma organização secreta criada durante o governo socialista de Felipe Gonzalez para eliminar membros do ETA.

Esta investigação fez, em seguida, com que ganhasse admiradores da direita e inimizades na esquerda.

Desde o início de sua carreira, seus inimigos foram muitos. Contudo, o juiz nunca precisou enfrentar um tiroteio como este, desencadeado por sua decisão em 2008 de abrir a primeira instrução sobre os "crimes contra a Humanidade" cometidos pelo franquismo.

Sua abordagem era consistente com sua trajetória. Depois de uma longa caçada aos ex-torturadores das ditaduras sul-americanas dos anos 1960-70, como ignorar os crimes impunes da ditadura espanhola?

O juiz Garzon fracassou em seu país. Mas suas investigações sobre a América Latina plantaram as sementes do reconhecimento, em 2005, pela justiça espanhola, de sua competência para processar e julgar crimes contra a Humanidade e genocídio no mundo inteiro.

Seu antigo sonho de uma "justiça universal" foi revisto em 2009 na Espanha, um dos poucos países que a implementou por pouco tempo, como resultado do conflito diplomático com Israel e China.

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Suspenso de suas funções na Audiência Nacional (correspondente ao Supremo Tribunal) em maio de 2010, Baltasar Garzon se defende desde o dia 17 de janeiro em dois julgamentos.

O famoso juiz corre o risco de não poder exercer suas funções por 20 anos. Uma sentença de morte para a carreira deste que é descrito por seus detratores como "um astro" que está mais preocupado em aparecer nas manchetes dos jornais do que com seus processos.

Mas, para seus partidários, não resta dúvida alguma: o magistrado paga por sua coragem de querer investigar o passado franquista da Espanha.

Sem esperar o veredicto, Baltasar Garzon já se exilou, segundo pessoas próximas: primeiro em Haia, depois na Colômbia, onde trabalha atualmente como consultor enviado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

Ele continua a perseguir seu ideal de uma "justiça universal" a milhares de quilômetros de Torres, pequena cidade na zona rural da Andaluzia, onde nasceu em 26 de outubro de 1955.

Filho de um funcionário de posto de combustível, cresceu na pobreza dos anos 1950 na Espanha rural. Construiu sua carreira como magistrado graças aos estudos: primeiro com uma bolsa no ensino médio, depois em um Seminário até escolher o seu caminho, o direito.


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Esta investigação fez, em seguida, com que ganhasse admiradores da direita e inimizades na esquerda.

Desde o início de sua carreira, seus inimigos foram muitos. Contudo, o juiz nunca precisou enfrentar um tiroteio como este, desencadeado por sua decisão em 2008 de abrir a primeira instrução sobre os "crimes contra a Humanidade" cometidos pelo franquismo.

Sua abordagem era consistente com sua trajetória. Depois de uma longa caçada aos ex-torturadores das ditaduras sul-americanas dos anos 1960-70, como ignorar os crimes impunes da ditadura espanhola?

O juiz Garzon fracassou em seu país. Mas suas investigações sobre a América Latina plantaram as sementes do reconhecimento, em 2005, pela justiça espanhola, de sua competência para processar e julgar crimes contra a Humanidade e genocídio no mundo inteiro.

Seu antigo sonho de uma "justiça universal" foi revisto em 2009 na Espanha, um dos poucos países que a implementou por pouco tempo, como resultado do conflito diplomático com Israel e China.

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