Ativistas Hong Kong: líderes de protestos foram detidos (Tyrone Siu/Reuters)
AFP
Publicado em 30 de agosto de 2019 às 08h54.
Várias figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas nesta sexta-feira, incluindo Joshua Wong, uma operação denunciada por associações como uma tentativa da China de amordaçar a oposição após a proibição de uma nova grande manifestação programada para sábado.
A região semiautônoma enfrenta há quase três meses a crise mais grave desde sua devolução, por parte do Reino Unido, à China em 1997, com manifestações quase diárias, incluindo algumas que terminaram em confrontos.
Um novo protesto estava previsto para sábado para marcar o quinto aniversário da rejeição por parte de Pequim de eleições com sufrágio universal na cidade, decisão que provocou o "Movimento dos Guarda-Chuvas" em 2014, marcado por 79 dias de ocupação do centro financeiro e político de Hong Kong.
Mas após a confirmação de que o protesto foi proibido, os organizadores retiraram nesta sexta-feira a convocação para não agravar a situação. Outras iniciativas, no entanto, estariam sendo planejadas.
Dois líderes do "Movimento dos Guarda-Chuvas", Joshua Wong e Anges Chow, ambos de 22 anos e muito populares nos protestos das últimas semanas, foram detidos nesta sexta-feira, anunciou o partido Demosito.
Os dois compareceriam a uma audiência durante a tarde.
Algumas horas antes, outro ativista, Andy Chan, foi detido no aeroporto.
Chan é o fundador do Partido Nacional (HKNP), minúscula formação que defende a independência do território e que foi proibida pelas autoridades em 2018. Mencionar a independência da ex-colônia britânica é tabu absoluto para o governo central da China.
"Estas detenções mostram a propagação do 'terror branco' em relação aos manifestantes de Hong Kong", declarou Issac Cheng do partido Demosisto.
Mais de 850 pessoas foram detidas desde o início do movimento, que começou com o repúdio a um projeto de lei que pretendia autorizar extradições para a China continental.
O movimento ampliou suas reivindicações e passou a denunciar o retrocesso das liberdades, assim como a interferência crescente da China na região semiautônoma, o que viola o princípio "um país, dois sistemas" que determinou a devolução de 1997.
Um quarto manifestante pró-democracia, Rick Hui, representante do bairro popular de Sha Tin, também foi detido nesta sexta-feira, de acordo com sua página no Facebook.
A organização Anistia Internacional criticou "a operação ridícula durante o amanhecer" e condenou as detenções de Wong e Chow, que são "ataques escandalosos contra a liberdade de expressão e de reunião" e "táticas com o objetivo de espalhar o medo, retiradas dos manuais chineses".
O Executivo de Hong Kong não consegue apresentar respostas a um movimento de protesto inédito, caracterizado também por uma criatividade sem precedentes em suas ações.
A polícia decidiu proibir a manifestação de sábado alegando razões de segurança, uma medida drástica que pode ter o efeito contrário e provocar novos confrontos com ativistas radicais.
O paradoxo é que a manifestação de sábado foi convocada pela Frente Civil de Direitos Humanos (FCDH), um movimento pacífico pacífica que liderou as maiores passeatas dos últimos meses, em particular a de 18 de agosto, que reuniu 1,7 milhão de pessoas, segundo os organizadores, e terminou sem incidentes.
Em uma carta enviada ao FCDH, a polícia mencionou o temor de "atos violentos" e "atos de destruição" por alguns participantes.
Uma das líderes da Frente, Bonnie Lang, afirmou que a FCDH "não tem outra opção a não ser cancelar a manifestação de sábado", depois que o recurso apresentado contra a proibição foi rejeitado.
Mas outras iniciativas estão sendo planejadas. Alguns ativistas pró-democracia propõe uma partida de futebol, uma saída em massa para compras ou uma concentração religiosa improvisada.
É provável que a ala radical, integrada em sua maioria por estudantes muito jovens, ignore o pedido de calma, o que poderia provocar novos distúrbios.
"A polícia acredita que existem líderes no movimento e que sua decisão de proibir a manifestação vai nos deter", afirmou à AFP uma manifestante que se identificou como Kelly.
"Somos nossos próprios líderes e vamos continuar nas ruas. O governo não consegue entender", completou.
No domingo, a polícia usou jatos de água e, pela primeira vez, recorreu a um tiro de advertência com arma de fogo durante uma manifestação autorizada.
O exército chinês, que a princípio não deve atuar em Hong Kong, mas que tem uma guarnição na cidade, fez na quinta-feira uma nova advertência com a substituição de suas tropas no território.