Mundo

Ativista que investigava a marca Ivanka Trump é detido na China

Ativista analisava as condições de trabalho em uma fábrica que produz sapatos para a marca Ivanka Trump

Ivanka Trump: no cargo de "primeira filha"  (Kevin Lamarque/Reuters)

Ivanka Trump: no cargo de "primeira filha" (Kevin Lamarque/Reuters)

A

AFP

Publicado em 31 de maio de 2017 às 07h52.

Um ativista que investigava as condições de trabalho em uma fábrica que produz sapatos para a marca Ivanka Trump foi detido, informou nesta quarta-feira a ONG China Labor Watch (CLW).

Outros dois homens que auxiliavam na investigação estão desaparecidos desde domingo, indicou a CLW, organização que tem sede em Nova York.

"Em 17 anos realizamos muitas investigações e nunca tivemos nenhum problema", disse à AFP Li Qiang, diretor da ONG.

"Mas esta foi a primeira vez que investigávamos a (os fornecedores de) Ivanka Trump, então, talvez, esteja relacionado com a marca", completou.

Ivanka Trump é a filha mais velha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e assessora na Casa Branca. Seu marido, Jared Kushner, também é assessor do presidente.

A filha de Trump vende com seu nome vários produtos, incluindo peças de roupa, bolsas, sapatos e acessórios de moda, alguns deles fabricados na China.

"Pedimos ao presidente Trump, a Ivanka Trump e a sua empresa que defendam e pressionem pela libertação de nossos ativistas", disse Li.

O detido, Hua Haifeng, que ao lado de outras duas pessoas investigava de modo incógnito duas fábricas, foi detido sob a acusação de utilizar ilegalmente um aparelho de interceptação de comunicações.

A mulher de Hua, Deng Guilian, recebeu uma notificação de sua detenção na terça-feira. O paradeiro de Li Zhao e Su Heng é desconhecido desde domingo.

Durante a campanha eleitoral, Trump fez muitas críticas à política comercial da China, mas as relações entre os dois países melhoraram desde abril, quando o republicano se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida.

"Muito preocupante"

De acordo com Li Qiang, a acusação da polícia de Jiangxi "não tem base factual". Ele explicou que as duas fábricas - uma na cidade de Dongguan, na província de Guangdong, e outra em Ganzhou, em Jiangxi - pertencem à fabricante de calçados Huajian Group.

Os ativistas descobriram que os trabalhadores das fábricas são obrigados a cumprir horas extras e recebem menos que o salário mínimo legal. Além disso, de acordo com Li, as fábricas divulgam relatórios falsos, com salários maiores que os reais.

A ONG afirmou que vários "estudantes" trabalham nas unidades.

Além de sapados para a marca Ivanka Trump, o Huajian Group produz sapatos para marcas ocidentais como Coach, Nine West, Karl Lagerfeld e Kendall + Kylie

Vários membros do governo Trump foram criticados por seus negócios na China.

No mês passado, a irmã de Jared Kushner, Nicole Kushner Meyer, participou em vários eventos em Pequim e Xangai para arrecadar 150 milhões de dólares para um projeto de apartamentos de luxo nos Estados Unidos, promovido pela imobiliária da família Kushner.

De acordo com dados obtidos pela AFP a partir de registros da Alfândega, mais de 50 toneladas de sapatos, bolsas e roupas da marca Ivanka Trump saem regularmente da China em direção aos Estados Unidos.

A detenção do ativista da China Labor Watch é parte da política de linha dura com a sociedade civil do presidente Xi Jinping desde que chegou ao poder, em 2012.

De acordo com Patrick Poon, investigador da Anistia Internacional na China, este caso é "muito preocupante" porque até agora o ativismo sobre as condições de trabalho nos grandes grupos "era considerado menos sensível que outro tipo de ativismo político e de direitos humanos".

"Se até este tipo de ativismo está sob ameaça agora, isto pode significar que o governo de Xi Jinping mão tolera mais nenhuma demanda para melhorar os direitos, incluindo direitos sociais e econômicos", disse Poon à AFP.

Acompanhe tudo sobre:ChinaEstados Unidos (EUA)Ivanka TrumpPrisões

Mais de Mundo

Mais de 60 são presos após confronto entre torcedores de Israel e manifestantes na Holanda

Milei tira monopólio em aeroportos e alerta Aerolíneas: “ou privatiza ou fecha”

Sinos da Notre Dame tocam pela primeira vez desde o incêndio de 2019

França busca aliados europeus para ativar veto ao acordo UE-Mercosul