Ataque de Israel a frota com ajuda para Gaza matou 9
Interrupção violenta de rota da ajuda humanitária causou uma imensa crise diplomática para os israelenses
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Ashdod, Israel - Pelo menos 9 ativistas pró-palestinos morreram, na maioria turcos, em um ataque das forças navais de Israel na madrugada desta segunda-feira em águas internacionais contra uma pequena frota de ajuda humanitária que seguia para Gaza, território submetido a um bloqueio pelo Estado hebreu desde 2007.
O desenlace sangrento desta missão internacional que pretendia levar mantimentos à sitiada Faixa de Gaza levou Israel a uma grave crise diplomática, na véspera de uma reunião entre o presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
A ONU reagiu imediatamente se dizendo "chocada" e a União Europeia (UE) pediu uma "investigação completa" sobre o ocorrido. A Turquia advertiu para "consequências irreparáveis" nas relações com o Estado hebreu, com o qual mantinha uma aliança estratégica na região.
O governo dos Estados Unidos lamentou a perda de vidas humanas no ataque e informou que está analisando as circunstâncias em que foi realizado.
"Os Estados Unidos lamentam profundamente a perda de vidas humanas e o saldo de feridos, e atualmente tentam entender as circunstâncias nas quais aconteceu a tragédia", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Bill Burton, em um comunicado.
Israel acusa os passageiros da "Frota da Libertade" de terem iniciado a violência ao abrir fogo, uma versão contestada pelos ativistas. A ação aconteceu em águas internacionais por volta das 5H00 locais (23H00 de Brasília, domingo).
As imagens filmadas por um barco turco, e disponibilizadas na internet, mostram oficiais israelenses vestidos com roupas negras descendo de helicópteros e enfrentando os ativistas. Também são vistos vários feridos deitados no navio.
"Na escuridão da noite, os militares israelenses desceram de um helicóptero para o barco turco de passageiros 'Mavi Marmara' e começaram a atirar quando pisaram no convés", afirma o site do Movimento Gaza Livre.
As imagens tremidas mostram cenas de caos, com sombras de navios com mísseis israelenses ao fundo.
O Exército israelense insiste que suas tropas não abriram fogo até que foram atacadas com facas, pedaços de pau e armas de fogo.
"Como consequência desta ameaça vital e das ações violentas, as forças navais empregaram meios para apaziguar os distúrbios, incluindo fogo real", afirma um comunicado do Exército.
O texto completa que os passageiros davam a impressão de querer "linchar as forças israelenses".
"Israel optou por uma resposta contundente e culpa os ativistas pelo acontecido. Eles iniciaram a violência", afirmou à AFP o porta-voz de Netanyahu, Mark Regev.
"Fizemos todo o possível para evitar este incidente", acrescentou.
"Lamentavelmente foram atacados pelas pessoas que estavam nos barcos, com barras de ferro, facas e armas de foto", completou.
Os seis barcos da operação serão escoltados até Israel. O primeiro deles já chegou ao porto de Ashdod, sul do país.
A imprensa também informou que o líder islamita árabe-israelense Raed Salah foi ferido nos confrontos.
O presidente palestino Mahmud Abbas qualificou a ação de massacre e decretou três dias de luto.
"Teremos que tomar algumas decisões difíceis esta tarde", disse uma fonte do gabinete palestino, mas sem revelar quais as medidas.
A Autoridade Palestina também pediu uma reunião de urgência ao Conselho de Segurança da ONU para "debater a pirataria, o crime e o massacre israelense", nas palavras do principal negociador palestino, Saeb Erakat.
A comunidade árabe de Israel convocou uma greve geral em resposta à operação naval israelense e pediu os protestos dos cidadãos.
Em resposta, centenas de pessoas de diversas tendências políticas saíram às ruas na cidade árabe-israelense de Nazaré para protestar contra o ataque.
O movimento radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza, reagiu com um pedido à Autoridade Palestina "para suspender as negociações, diretas ou indiretas, com Israel após este crime".
Os barcos, com mais de 700 passageiros a bordo, pretendiam levar 10.000 toneladas de ajuda a Gaza, submetida a um bloqueio israelense desde 2007.
Israel já havia advertido que a tentativa de romper o bloqueio era ilegal e que interceptaria os barcos, que seriam rebocados até o porto de Ashdod. Os ativisitas devem ser deportados.