Assange tentou criar "centro de espionagem" na embaixada, diz Lenín Moreno
Presidente equatoriano denunciou também a atitude "repreensível e escandalosa" de Assange na embaixada e seu "comportamento inapropriado de higiene"
AFP
Publicado em 15 de abril de 2019 às 08h44.
Julian Assange tentou criar um "centro de espionagem" na embaixada do Equador em Londres, afirmou no domingo, 15, o presidente equatoriano, Lenín Moreno, justificando sua decisão de retirar o asilo do fundador do WikiLeaks, que foi preso na quinta-feira.
Moreno, no poder desde 2017, lamentou em entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian que o governo anterior tenha oferecido na embaixada equipamentos que permitiram a Assange "interferir nos assuntos de outros Estados".
"Não podemos permitir em nossa casa, a casa que abriu suas portas, nos tornarmos um centro de espionagem", declarou Lenín Moreno. "Essa atividade viola as condições de asilo", acrescentou, assegurando que a decisão de retirar o asilo de Assange "não é arbitrária, mas se baseia no direito internacional".
O presidente equatoriano denunciou também a atitude "absolutamente repreensível e escandalosa" de Julian Assange na embaixada e seu "comportamento inapropriado em matéria de higiene".
Segundo Quito, Assange teria sujado as paredes com suas fezes.
Entrevistada pela Sky News na manhã deste domingo, a advogada de Julian Assange, Jennifer Robinson, negou essas acusações, que classificou de "escandalosas".
Robson afirmou neste domingo que o fundador do WikiLeaks está disposto a cooperar com as autoridades suecas caso decidam reabrir o processo de estupro contra ele, mas que sua prioridade continua sendo evitar a extradição para os Estados Unidos.
"Estamos absolutamente felizes de responder a estas perguntas se e quando forem apresentadas", declarou Jennifer Robinson ao canal Sky News.
"A questão chave no momento é (o pedido de) extradição dos Estados Unidos", completou.
Assange foi detido na quinta-feira na embaixada do Equador em Londres, onde havia obtido asilo há sete anos para escapar de uma ordem de detenção britânica por acusações de estupro e agressão sexual na Suécia, que ele sempre negou.
A denúncia por agressão sexual prescreveu em 2015. A justiça da Suécia arquivou as acusações no segundo caso em maio 2017, por falta de condições para avançar na investigação.
Mas com o anúncio de sua detenção, a advogada da denunciante pediu a reabertura da investigação.
O australiano de 47 anos foi detido também em relação a um pedido de extradição dos Estados Unidos, onde a justiça o acusa de ter ajudada a ex-analista de inteligência Chelsea Manning a obter uma senha de acesso a milhares de documentos sigilosos.
Este pedido será analisado pela justiça britânica em 2 de maio.
Se a Suécia solicitar sua extradição, "pediremos as mesmas garantias que já formulamos, que (Julian Assange) não seja enviado aos Estados Unidos", declarou Robinson.
A advogada explicou que seu cliente buscou refúgio na embaixada do Equador ante a falta de tais garantias.
Visita de deputados
"Julian nunca se preocupou em enfrentar a justiça britânica ou a justiça sueca", disse Robinson. "Este caso é e sempre foi sobre sua preocupação de ser enviado para a injustiça americana", completou.
O presidente equatoriano declarou ao The Guardian ter recebido "garantias escritas" de Londres de que Julian Assange não será extraditado a um país em que ele possa ser vítima de tortura, de maus tratos ou condenado à pena de morte.
Segundo o WikiLeaks, a cônsul australiana visitará na segunda-feira o embaixador do Equador em Londres, Jaime Marchán.
A eurodeputada espanhola Ana Miranda (do grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia) e dois deputados alemães do partido de esquerda Die Linke,Heike Hansel e Sevim Dagdelen, chegarão a Londres nesta segunda-feira, quando devem visitar Julian Assange na embaixada do Equador, informaram o Die Linke e o WikiLeaks.