Asia Bibi: o advogado não soube dizer para qual país ela iria, mas afirmou que Paquistão não é seguro (HazteOir.org/Flickr)
EFE
Publicado em 1 de novembro de 2018 às 10h34.
Islamabad- Saif ul Malook, advogado da cristã Asia Bibi, absolvida ontem pelo Supremo Tribunal do Paquistão de uma condenação à morte por blasfêmia, afirmou nesta quinta-feira que sua cliente deve deixar o país por questões de segurança, já que teme por sua vida.
"Ela não está segura no Paquistão e terá que deixar o país", disse Malook, que informou que Asia ainda não foi libertada da prisão de Multam, onde está detida, já que o processo para a soltura demora vários dias.
"Não sei para onde iria", reconheceu Malook, a respeito de uma possível busca de asilo político para sua cliente em outro país.
O próprio advogado teme por sua vida, apesar de contar com a proteção de dois guarda-costas.
"Não me arrependo de ter representado Asia, mas estou assustado", ressaltou Malook, ao afirmar que "não acredita" que está seguro no Paquistão atualmente.
O Supremo Tribunal alegou em sua sentença de absolvição que, desde 1990, pelo menos 62 pessoas foram assassinadas por acusações de blasfêmia, inclusive antes de responderem à Justiça pelo crime de supostamente insultar o Islã.
Pelo menos duas figuras públicas foram assassinadas em 2011 por defender Asia Bibi: Salmaan Taseer, ex-governador de Punjab, e o ex-ministro de Minorias, o cristão Shahbaz Bhatti.
Após a decisão de ontem do Supremo, radicais islâmicos do partido Tehreek-e-Labbaik Pakistan (TLP) começaram a protestar por todo o país, com bloqueios de estradas e aglomerações diante de instituições públicas.
A sentença foi defendida ontem pelo primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, que fez um discurso transmitido pela televisão para garantir que "a decisão do Supremo ocorreu de acordo com a Constituição" e pediu aos manifestantes que não confrontem o Estado.
A dura lei antiblasfêmia no Paquistão foi estabelecida na época colonial britânica para evitar conflitos religiosos, mas nos anos 80 várias reformas promovidas pelo ditador Zia-ul-Haq favoreceram o abuso desta norma.
Desde então, houve mil acusações por blasfêmia, um crime que no Paquistão pode levar à pena de morte, embora nenhum condenado tenha sido executado.