Para Cristina, os erros cometidos pelos militares argentinos não justificam a posição britânica de não querer negociar a posse das Malvinas (Jeff Zelevansky/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2012 às 07h49.
Buenos Aires – A Argentina denunciará o Reino Unido ao Conselho de Segurança e à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pela “militarização do Atlântico Sul” e buscará o apoio dos vizinhos, entre eles o Brasil, para a “causa regional”. O anúncio foi feito nessa terça-feira (7) pela presidente Cristina Kirchner, em um ato político na Casa Rosada (palácio presidencial), diante de governistas e da oposição: representantes de todos os partidos políticos, sindicatos, empresários, organizações de direitos humanos, militares e veteranos da Guerra das Malvinas.
Cristina acusou o governo britânico de colocar em risco a paz regional ao enviar um navio de guerra às Ilhas Malvinas. O envio do destróier HMS Dauntless coincide com a chegada do príncipe William, segundo na linha de sucessão do trono britânico, que passará seis semanas no arquipélago fazendo treinamento militar.
O governo britânico assegura que a presença do navio e do príncipe nas Malvinas faz parte da rotina. Piloto de helicóptero da RAF (a Força Aérea Real britânica), William treina técnicas de busca e resgate. O HMS Dauntless é uma arma de guerra a ser testada.
No próximo dia 2 de abril, os dois países comemoram o 30º aniversário da Guerra das Malvinas. A ditadura militar argentina, que estava por cair, achava que podia conquistar a simpatia popular ocupando as ilhas, a 500 quilômetros da costa argentina que, desde 1833, foram anexadas pelo Reino Unido. A primeira-ministra à época, Margareth Thatcher, reagiu. Antes de entregar o poder aos civis, o governo militar da Argentina encomendou uma investigação sobre os erros e acertos ao general Benjamin Rattenbach.
O Relatório Rattenbach, considerado segredo militar, condena os responsáveis pela guerra a penas de prisão perpétua e de morte. Mas os detalhes do documento foram mantidos em segredo até agora, quando a presidente Cristina Kirchner resolveu torná-los públicos. Segundo ela, os erros cometidos pelos militares não justificam a posição britânica de não querer negociar a posse das Malvinas na ONU.
A polêmica sobre as Malvinas coincide com a crise econômica europeia e a estreia, em Buenos Aires, do filme A Dama de Ferro, sobre a primeira-ministra conservadora Margareth Thatcher. Segundo a imprensa britânica, o primeiro-ministro David Cameron (como Thatcher em 1982) está usando as Malvinas para angariar o sentimento nacionalista e desviar a atenção dos eleitores da crise econômica europeia. Antes da ida de William às Malvinas, Cameron acusou a Argentina de “colonialista” porque, segundo ele, o país quer forçar os habitantes das ilhas a serem argentinos – apesar de se considerarem britânicos.
Cristina reagiu nessa terça-feira (7), lembrando que neste século existem apenas 16 casos de colônias cujo destino está sendo discutido pelas Nações Unidas: dez são do Reino Unido, entre eles as Ilhas Malvinas. Mas os britânicos nunca aceitaram sentar-se para negociar. A alegação, nos últimos 30 anos, foi a guerra de 1982. Por isso, a presidente assinou um decreto tornando pública uma investigação secreta realizada pelo general Benjamin Rattenbach.
“Tenho a sensação de que tanto a presidente Cristina Kirchner quanto o primeiro-ministro David Cameron estão usando as Malvinas como arma politica, para conseguir apoio do eleitorado em um momento de crise econômica”, disse à Agencia Brasil, Juan Bautista Jofre, autor do livro 1982 sobre as Malvinas.