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Argentina corre para não decretar nono default com credores

A economia da Argentina está em recessão desde 2018 e a crise do novo coronavírus deve agravar a situação

Argentina: termina hoje (22) o prazo de carência do governo para honrar o pagamento da dívida de US$ 503 milhões (Esteban Collazo/Argentina Presidency/Handout/Reuters)

Argentina: termina hoje (22) o prazo de carência do governo para honrar o pagamento da dívida de US$ 503 milhões (Esteban Collazo/Argentina Presidency/Handout/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2020 às 06h38.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 12h04.

Termina nesta sexta-feira, 22, o prazo de carência do governo da Argentina para honrar o pagamento de uma dívida de 503 milhões de dólares com investidores credores do país. O valor se refere a juros de três títulos públicos que tinham vencimento em abril e que não foram pagos pelo governo do presidente Alberto Fernández. Se o governo argentino perder o prazo final do pagamento nesta sexta-feira – como diz que pretende fazer –, o país pode entrar em um default técnico, o nono em sua história.

O vencimento da dívida nesta sexta ocorre em meio a uma negociação com os credores internacionais para estender o prazo de pagamento e reduzir os valores de uma dívida de 65 bilhões de dólares.

A Argentina alega que o valor é impagável nas condições atuais por causa da profunda crise econômica vivida pelo país. A pandemia do novo coronavírus tornou ainda mais difícil honrar os pagamentos, uma vez que o governo foi obrigado a adotar medidas de confinamento e a aumentar os gastos para socorrer a população vulnerável e as empresas, com sérias consequências para as contas públicas.

As negociações com os credores tinham prazo para terminar também nesta sexta. Mas, às vésperas, o governo decidiu estender as negociações até o próximo dia 2 de junho. É a segunda vez que o prazo é adiado. A primeira foi no último dia 8 de maio.

A primeira proposta da Argentina não foi aceita pelos credores. O governo desejava congelar o pagamento da dívida por três anos e fazer uma redução de 62% na taxa de juro pré-fixada dos títulos, o que equivaleria a uma redução de 37,9 bilhões de dólares, entre outras medidas. Mas a expectativa é que o governo e os credores cheguem a acordo até o fim das negociações.

“A Argentina crê firmemente que uma reestruturação da dívida contribuirá para estabilizar a condição econômica atual, aliviando as restrições a médio e longo prazo sobre a economia da Argentina devida à carga atual da dívida, permitindo redirecionar a trajetória econômica do país rumo ao crescimento de longo prazo”, diz um comunicado do Ministério da Economia.

Ontem à noite, a imprensa argentina noticiou que o governo de Alberto Fernández decidiu não pagar os 503 milhões de dólares que vencem nesta sexta-feira porque a dívida está incluída nos títulos que o governo espera renegociar com os credores. Se isso de fato ocorrer ao fim do prazo limite hoje, isso levará o país a uma espécie de “default temporário”, até que o governo chegue a um acordo com os investidores.

Ontem, o presidente Alberto Fernández buscou minimizar a situação dizendo que o país já está em moratória desde o governo do ex-presidente Mauricio Macri e fez ataques à imprensa. “Leio nos jornais que corremos o risco de cair em um default amanhã (sexta-feira) e eu me pergunto porque eles mentem assim, se já estamos em default há meses. Desde antes de dezembro estamos em default, mas isso não é publicado, é ocultado”, disse.

A economia da Argentina está em recessão desde 2018 e a crise do novo coronavírus deve agravar a situação. Como mostra uma reportagem da publicada na edição impressa da EXAME nesta semana, as medidas de quarentena adotadas pelo presidente ajudaram a conter a propagação do novo coronavírus no país. A pandemia, entretanto, deve provocar um tombo ainda maior na economia este ano, prejudicando as receitas do governo e a sua capacidade de pagar os credores.

A Argentina tem um número baixo de vítimas da doença comparado ao Brasil. No total, são 9.931 casos confirmados e 416 mortes, a maioria na capital e na província de Buenos Aires. Entretanto, o surto da doença ainda não havia dado trégua. Ontem, o país registrou 668 novos casos, um recorde diário desde o início da epidemia. Com isso, o governo decidiu endurecer as medidas de quarentena na região metropolitana de Buenos Aires e adiou a flexibilização do confinamento, que deveria ser ampliada na semana que vem. Um default neste momento é tudo que o país não precisava.

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