Exame Logo

Arábia Saudita confirma que Khashoggi morreu no consulado de Istambul

A agência oficial SPA confirmou a morte da jornalista, crítico do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman e exilado nos Estados Unidos desde 2017

Jornalista morto Khashoggi: procurador-geral saudita, Sheikh al-Mojeb, publicou um comunicado sobre o caso (April Brady/Project on Middle East Democracy/Flickr)
A

AFP

Publicado em 20 de outubro de 2018 às 10h41.

Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 12h14.

A Arábia Saudita admitiu neste sábado que o jornalista saudita Jamal Khashoggi morreu dentro do consulado em Istambul , mais de duas semanas após seu desaparecimento provocar uma das piores crises internacionais do reino.

A agência oficial SPA confirmou a morte da jornalista , crítico do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman e exilado nos Estados Unidos desde 2017, e informou a destituição de dois altos funcionários sauditas, assim como a detenção de 18 suspeitos.

Veja também

O procurador-geral saudita, Sheikh al-Mojeb, publicou um comunicado sobre o caso: "As discussões entre ele e as pessoas que o receberam no consulado saudita em Istambul degeneraram para uma briga corporal com o cidadão Jamal Kashoogi, o que provocou sua morte, que sua alma descanse em paz".

Al-Mojeb não revelou onde está o corpo de Khashoggi, enquanto os investigadores turcos prosseguem com seus trabalhos, que incluem buscas em uma floresta da região de Istambul.

A Turquia prometeu divulgar todos os detalhes sobre a morte do jornalista. "A Turquia revelará o que aconteceu. Ninguém deve duvidar disso", afirmou Omer Celik, porta-voz do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), no poder, informou a agência de notícias Anadolu.

Celik destacou que a Turquia tem a "dívida de honra" de revelar o que aconteceu.

Ali Shihabi, diretor de um think tank considerado próximo à monarquia saudita, divulgou outra versão. "Khashoggi morreu estrangulado durante uma briga, não como resultado de uma luta com socos", declarou, com base nos depoimentos de uma fonte saudita de alto nível.

Mais tarde, o departamento internacional do ministério da Informação publicou uma declaração em inglês atribuída a uma "fonte oficial" na qual afirma que a discussão dentro do consulado resultou em uma briga que provocou a morte de Khashoggi e aconteceu "uma tentativa" por parte das pessoas que o interrogaram de ocultar o que aconteceu".

Demissões e detenções

Até agora, Riad alegava que o jornalista havia deixado o consulado no dia 2 de outubro. Ele compareceu ao local para cumprir os trâmites de seu casamento.

Após a confirmação da morte, Riad anunciou a destituição do vice-presidente do Serviço Geral de Inteligência, Ahmad al Asiri, e do conselheiro da corte real Saud al Qahtani.

Os dois são colaboradores próximos do príncipe herdeiro, sob pressão nos últimos dias devido ao escândalo do caso Khashoggi.

"Demitir Saud al Qahtani e Ahmad al Asiri significa ir o mais próximo possível de Mohamed bin Salman", explicou Kristian Ulrichsen, analista na Universidade de Rice, Estados Unidos.

"Será interessante ver se estas medidas são suficientes. Se o vazamento de detalhes adicionais continuar, não existirá colchão para proteger o príncipe herdeiro", completou.

Orei Salman da Arábia Saudita determinou a criação de uma comissão ministerial presidida pelo príncipe herdeiro para reestruturar os serviços de inteligência, informou a imprensa oficial.

A Associação Turco-Árabe de Meios de Comunicação (TAM) pediu uma punição aos "verdadeiros responsáveis" pela morte de Jamal Khashoggi.

"Pedimos uma punição não apenas aos 18 homens, e sim aos que deram as ordens", afirmou Turan Kislakci, diretor da TAM, da qual Khashoggi era membro.

"Devolvam o corpo de Jamal para que possamos organizar o funeral. Que o mundo inteiro possa ver o adeus a Jamal Khashoggi, que foi assassinado em um quarto escuro de forma horrível e cujo corpo tentam esconder", completou Kislakci.

Versão "crível" para Trump

O presidente americano, Donald Trump, havia admitido na quinta-feira pela primeira vez que Khashoggi provavelmente estava morto e ameaçou a Arábia Saudita com consequências "muito graves".

Na sexta-feira, Washington renovou as advertências e citou possíveis sanções.

Ao ser questionado por um repórter se considerava "crível" a versão de Riad, Trump respondeu: "Sim, sim".

"Ainda é cedo, não concluímos nossa investigação e nossa avaliação sobre o caso, mas penso que trata-se de um passo muito importante", completou.

Washington reagiu rapidamente ao anúncio de Riad.

"Estamos tristes de saber da confirmação da morte de Khashoggi e manifestamos nossas mais sentidas condolências à sua família, noiva e amigos", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Gutierres, se declarou "profundamente preocupado com a confirmação da morte de Jamal Khashoggi".

Outros políticos americanos foram muito mais duros que a Casa Branca após o anúncio saudita e expressaram dúvidas sobre a última versão de Riad.

O governo dos Emirados Árabes Unidos, aliado de Riad, elogiou as decisões e diretrizes do rei Salman a respeito do caso Khashoggi, informou a agência oficial WAM.

Hatice Cengiz, a turca que era noiva de Jamal Khashoggi, escreveu no Twitter que seu "coração está repleto de dor e os olhos de lágrimas". "Lamento a nossa separação, Jamal, meu amor".

A revista Newsweek publicou uma entrevista póstuma de Khashoggi na qual ele afirmou que não pedia a queda do governo saudita, "porque não é possível", e sim que desejava uma "reforma do regime".

Também declarou que "certamente" aceitaria um posto de conselheiro de Mohamed bin Salman, pois "quero uma Arábia Saudita melhor". No entanto, denunciou o estilo "autoritário" do príncipe herdeiro e afirmou que, apesar das reformas, dirige o reino como seu avô. "É um líder tribal que passou de moda".

Acompanhe tudo sobre:Arábia SauditaJornalistasLiberdade de imprensaMortesTurquia

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame