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Saída de Raúl Casto marca o fim de uma era em Cuba

O Partido Comunista cubano se reúne a partir desta sexta-feira e deve oficializar o novo comando. Será a primeira vez sem um Castro efetivamente no poder desde a revolução de 1959

Raúl Castro (à dir.) e o presidente cubano Miguel Díaz-Canel: pupilo é o primeiro mandatário já nascido após a revolução (Alexandre Meneghini/Reuters)

Raúl Castro (à dir.) e o presidente cubano Miguel Díaz-Canel: pupilo é o primeiro mandatário já nascido após a revolução (Alexandre Meneghini/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 16 de abril de 2021 às 06h00.

Última atualização em 16 de abril de 2021 às 07h10.

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Cuba não terá mais um Castro no comando do país pela primeira vez em décadas. O mandatário Raúl Castro, de 89 anos e dirigente máximo do Partido Comunista Cubano, deve oficializar sua aposentadoria no congresso da legenda, que começa a partir desta sexta-feira, 16.

O Partido Comunista é o único autorizado em Cuba e seu primeiro secretário, cargo que Castro ocupa hoje, é de fato a fonte de poder do governo, estabelecendo diretrizes para o país.

Desde que um grupo de revolucionários cubanos derrubou o general Fulgencio Batista, o poder esteve majoritariamente nas mãos de um dos irmãos Castro. Primeiro, Fidel Castro, que ficou na presidência até 2008 e no cargo máximo do partido até 2011, passando os dois postos a seu irmão Raúl até falecer, em 2016.

A presidência de Cuba já havia sido transferida de Raúl Castro ao pupilo Miguel Diaz Canel em 2018. O próximo passo tende a ser a oficialização de Canel à frente do partido no congresso deste fim de semana.

Nascido em 1960, um ano após a revolução, Canel é o primeiro mandatário que não participou da tomada de poder em 1959. Sua chegada aos postos mais altos do governo marca o fim de uma era em Cuba, com a ascensão da geração que já nasceu sob o regime socialista.

O congresso do partido -- que acontece a cada cinco anos, e vai até segunda-feira, 19 -- deve discutir ainda outros temas urgentes do regime, como a crise do coronavírus. A economia da ilha, ainda sob embargos dos Estados Unidos, foi duramente afetada pela queda do turismo e restrições de viagens internacionais.

A população cubana enfrenta falta de itens básicos, como carne e laticínios. O país importa dois terços dos alimentos que são consumidos, além de comprar sobretudo combustível e recursos como minérios. Segundo o governo, o produto interno bruto caiu 11% em 2020.

Rua em Havana (foto de 2016): governo de Raúl Castro é criticado por lentidão das prometidas reformas de abertura da economia (Chris Arsenault/File Photo/Reuters)

A Canel caberá o desafio de balancear a crise econômica, o impacto dos embargos, a pandemia e a oposição crescente, sobretudo das novas gerações. Em sua trajetória na política cubana, e sendo vice-presidente desde 2013, Canel se mostrou fiel seguidor do regime dos Castro, mas analistas apontam que sua chegada marca o começo inevitável de uma nova fase em que Cuba terá de se transformar para seguir sobrevivendo.

O próprio Raúl Castro defendeu no último congresso do partido que todos os líderes da revolução que seguem dirigentes da legenda deveriam se aposentar junto a ele. No entanto, críticos afirmam que as reformas econômicas em Cuba têm sido mais lentas do que o prometido.

A economia cubana foi ainda duramente afetada sob governo de Donald Trump, quando os embargos contra a ilha, que haviam sido levemente relaxadas no governo Barack Obama, voltaram a ficar mais restritos. Nos últimos dias de seu mandato, Trump também colocou Cuba no grupo de "patrocinadores do terrorismo", categoria da qual o país havia sido removido em 2015. O governo cubano afirma que as medidas tiveram impacto de 20 bilhões de dólares na economia da ilha.

O presidente Joe Biden, que foi vice de Obama durante o relaxamento dos embargos, não deve ter a revisão das políticas como prioridade em meio às críticas à ditadura em Cuba. Sem dar prazos, a porta-voz da Casa Branca disse que as medidas de Trump serão revistas "cuidadosamente". A relação com os EUA sob Biden deve ser um dos temas discutidos pelos mandatários cubanos nos próximos dias. 

Com uma das piores crises da história do regime, os membros do governo socialista devem usar o espaço do congresso de hoje para exaltar as vacinas "caseiras" feitas em solo cubano. São ao menos cinco vacinas desenvolvidas, duas em fase final de ensaios clínicos: as chamadas Soberana 02 e Abdala.

Se aprovadas pelo governo do país, o que deve acontecer nos próximos meses, devem se tornar as primeiras vacinas desenvolvidas em um país da América Latina. Cuba tem histórico de desenvolvimento de vacinas, como as da hepatite B e meningite.

O objetivo da ilha é começar a partir de julho a imunizar em massa sua população de pouco mais de 11 milhões de habitantes. O governo da ilha disse também que está disposto a exportar as vacinas, e a Venezuela e países da América Central (hoje praticamente sem imunizantes) já demonstraram interesse.

Vacinas têm sido usadas como grandes armas geopolíticas por países de todos os cantos do mundo; se concluída, a vacina cubana seria uma vitória do governo do país em um momento dos mais delicados. A ver se será suficiente para manter o regime no poder.


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