Após 49 anos no poder, Fidel Castro deixa a liderança de Cuba
Líder militar afirma que não mais aceitará os cargos que ocupava e acende a expectativa sobre mudanças no cenário político-econômico do país
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2011 às 10h38.
Após 49 anos como presidente e comandante-em-chefe de Cuba, Fidel Castro anunciou nesta terça-feira (19/02) sua aposentadoria. A declaração do ditador foi publicada no jornal Granma, ligado ao Partido Comunista, pelo qual Fidel manteve-se no poder desde a revolução de 1958.
"Aos meus queridos compatriotas...eu digo que não aspirarei ou aceitarei, eu repito, eu não aspirarei ou aceitarei as posições de presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe", afirmou.
Fidel Castro estava afastado da liderança do Estado cubano desde julho de 2006, quando se submeteu a uma cirurgia de emergência para interromper uma hemorragia intestinal. Desde então, quem comanda o país é seu irmão, Raul Castro, que até o afastamento de Fidel ocupava o posto de ministro da Defesa. Havia a expectativa, no entanto, de que assim que Fidel estivesse em melhores condições de saúde, pudesse retornar - mesmo que simbolicamente - a uma das cadeiras que ocupou.
Em janeiro de 2008, já aos 81 anos, ele concorreu e ganhou acesso a uma das 614 cadeiras na Assembléia Nacional, o que o permitiria voltar à Presidência do país. Nos últimos meses, Fidel também teve reuniões com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o que reacendeu a dúvida de que ele estaria ensaiando um retorno, mesmo com a saúde claramente debilitada. O anúncio feito nesta terça-feira, porém, acabou por confirmar os rumores de que o ex-líder já não suportaria a rotina frente ao cargo.
A renúncia de Fidel a essa possibilidade ocorre às vésperas da próxima reunião da Assembléia Nacional, no próximo domingo (24/02), na qual será escolhido o novo presidente do país, e abre uma lacuna histórica para possíveis mudanças no comando e mesmo no regime do único país socialista do Ocidente, na opinião de algumas das lideranças políticas mais importantes do mundo.
"Acredito que a saída de Fidel Castro deve dar início a um período de transição democrática", afirmou o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.
O primeiro-ministro britânico Gordon Brown reagiu na mesma linha. Segundo seu porta-voz, "essa é uma oportunidade para avançar numa transição pacífica rumo a uma democracia pluralista".
Críticas mais severas partiram do ministro francês para a Europa, Jean-Pierre Jouyet. "O Castrismo tem sido um símbolo do totalitarismo. Só podemos esperar que após essa aposentadoria, um novo caminho se abrirá e que haverá democracia", disse.
O ministro da Espanha para a América Latina, por sua vez, optou por outro tom. "O presidente em exercício, Raul Castro, agora pode assumir com mais habilidade, força e confiança o projeto de reformas sobre o qual ele já se pronunciou", afirmou, em menção ao projeto do irmão de Fidel de fazer mudanças econômicas que permitam aumentar a cota de recursos com que vivem os cubanos.
Repercussão
Para o jornal britânico Financial Times (FT), mesmo diante da expectativa dos líderes políticos, a hipótese mais provável, num primeiro momento, é a de que Raul Castro permaneça no poder. A dúvida, segundo o FT, é qual será o peso da influência de Fidel e dos textos de análise do cenário político-econômico que o ex-ditador seguirá publicando nos jornais cubanos.
"Ele pode desempenhar o papel de regulador ideológico", afirmou ao periódico britânico o executivo-chefe do Caribbean Council, David Jessop.