PEQUIM: Até hoje, não há números oficiais sobre a quantidade de manifestantes mortos. / REUTERS/Arthur Tsang
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2019 às 05h53.
Última atualização em 4 de junho de 2019 às 18h13.
Há exatos 30 anos, centenas de estudantes chineses foram massacrados a mando do Partido Comunista Chinês (PCC) na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Embora notícias e, sobretudo, imagens do evento tenham circulado em todo o mundo, o assunto permanece sendo tratado como um tabu dentro do país, que continua classificando o episódio como um ‘incidente’ a ser esquecido pela população.
Em tempos de intensos debates sobre o revisionismo histórico, a começar pelo atual governo brasileiro, relembrar o massacre em Pequim é uma oportunidade de mostrar como os fantasmas do passado, de uma forma ou de outra, sempre voltam.
Censurando parte da história do país em livros escolares e até mesmo em redes sociais, o massacre que aconteceu em 4 de julho de 1989 é pouco lembrado pelos cidadãos mais novos da China, e apenas Hong Kong possui um museu que relembra os acontecimentos daquele ano. Na época, a Praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, foi palco de imensos protestos que reivindicavam o fim da corrupção e a instauração da democracia para a sociedade chinesa. Durante sete semanas, as marchas promovidas por estudantes inflaram os ânimos e fizeram o PCC temer um colapso político. Para conter a rebelião, o governo orientou o exército a usar a força, o que resultou em centenas de mortos — números oficiais nunca foram divulgados — e no fim de qualquer nova faísca de manifestações democráticas.
Mesmo após 30 anos, a China continua evitando ao máximo falar sobre o massacre, e quando fala, não faz qualquer tipo de mea culpa. No último domingo, o ministro da Defesa Chinês, Wei Fenghe, disse que a decisão de reprimir as manifestações da época foi uma “política correta” e que, naquele cenário, “o governo central adotou medidas para deter as turbulências”, declarou, completando que, graças às medidas da época, “o país desfrutou de estabilidade e desenvolvimento” que perdura até os dias atuais.
Segundo um editorial do jornal estatal chinês Global Times, publicado nesta semana, o evento de 1989 “imunizou” o país contra novos atos políticos. O periódico ainda diz que o 4 de junho “se tornou um fato esquecido” no país, e que esse esquecimento ajudou no desenvolvimento econômico da China. Na última sexta-feira, a organização não-governamental Human Rights Watch pediu ao governo chinês para que admita a responsabilidade pelo massacre e que acabe com a perseguição e violação de direitos contra ativistas.
O debate sobre liberdade política volta a crescer na China com o arrefecimento do crescimento econômico e a guerra comercial com os Estados Unidos. Para manter o ritmo de crescimento, dizem observadores internacionais, o país terá que liderar a corrida da inovação. E não há na história país reconhecidamente inovador que não tenha estimulado a livre circulação de ideias.