No segundo dia da primeira etapa das eleições egípcias, a praça continuou interditada ao tráfego e os manifestantes lutam para que o ânimo não diminua no local (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2011 às 05h24.
Cairo - Embora o início das eleições egípcias tenha deixado o acampamento da praça Tahrir em segundo plano, os ativistas mantêm sua disputa contra a Junta Militar e se mostram dispostos a continuar com os protestos até que o poder seja transferido aos civis.
A frequência na praça diminuiu, mas milhares de pessoas transitam entre as barracas do acampamento com o objetivo de contestar o poder dos dirigentes militares e desconcentrar a atenção posta na votação.
No segundo dia da primeira etapa das eleições egípcias, a praça continuou interditada ao tráfego e os manifestantes lutam para que o ânimo não diminua neste emblemático local, conhecido no mundo todo graças à revolução que, em 11 de fevereiro, derrubou o presidente Hosni Mubarak.
'Os egípcios em breve voltarão a estar aqui. Sei que há um problema, que não somos tão fortes como há poucos dias. Mas as eleições não farão diminuir a pressão na praça', diz à Agência Efe o advogado Mohammed al Hamidi, membro do chamado Movimento 6 de Abril.
Sentado próximo a sua barraca, Hamidi explica que os manifestantes não sairão da Tahrir, pois, das outras vezes que o acampamento foi levantado, perdeu-se o espírito de protesto e os objetivos não foram atingidos. 'Não vamos a lugar algum'.
Embora o desejo dos acampados na praça seja resistir o maior tempo possível, apesar da queda do número de manifestantes, alguns não conseguem disfarçar o medo de serem removidos à força, como já ocorreu em abril.
O estudante Ramy Hateta, usando uma 'kufiya' (lenço palestino) no pescoço, afirma à Efe que acredita que a polícia e os chamados baltaguiya (grupos de pistoleiros leais à Junta) 'irromperão na praça nos próximos dias e destruirão o acampamento'.
Abstenção ou participação, este é o dilema de muitos dos ativistas em relação às eleições, mas todos desconfiam se o voto realmente fará com que o novo Parlamento represente a voz das ruas.
Hamidi se negou a legitimar com o voto a tutela da Junta Militar, enquanto Hateta votou nesta terça-feira para evitar a multa estipulada àqueles que não votarem. Afirmou ter votado na coalizão Bloco Egípcio, cujo partido mais importante é Egípcios Livres e reúne forças laicas, porque, segundo ele, é 'liberal'.
Apesar de essa ter sido a primeira vez que votou na vida, ele diz não se importar com o resultado, pois acredita que 'o Parlamento não terá autoridade'.
Enquanto os ativistas se reúnem em círculos e discutem sobre o presente e o futuro do Egito, dezenas de vendedores ambulantes se apropriam da praça com pipocas, sucos, bandeiras egípcias e fotografias do falecido presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, que governou o país nos anos 1950 e 1960.
Há um denominador comum entre ambulantes e ativistas: a política está na boca de todos, da mesma forma que nos colégios eleitorais muitos eleitores estão pendentes da Tahrir e dos jovens da revolução.
Em um centro de votação do bairro nobre de Zamalek, a jovem Alia Khaled expressa seu apoio ao acampamento, mas reconhece que as eleições enfraquecerão os protestos. 'A Tahrir perderá força'.
'Quando percebermos que o Parlamento eleito não terá poder para pressionar a Junta Militar e que a democracia obtida não é real, e sim uma farsa, voltaremos a sair às ruas em massa', destaca.