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Ao anunciar saída, Raúl Castro pede "diálogo respeitoso" entre Cuba e EUA

Em seu último grande discurso, dirigido ao novo governo democrata de Joe Biden, Raúl acrescentou que não se pode exigir de Cuba renunciar "à autodeterminação dos povos"

 (Adalberto Roque/Reuters)

(Adalberto Roque/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de abril de 2021 às 20h46.

Raúl Castro, primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC, único), propôs nesta sexta-feira, 16, um 'diálogo respeitoso' com os Estados Unidos, ao anunciar que deixará o cargo, o de maior poder na ilha. Ele também criticou o aumento da hostilidade dos EUA com o país nos últimos anos.

"Ratifico neste congresso do partido a vontade de desenvolver um diálogo respeitoso e edificar um novo tipo de relação com os Estados Unidos", sem renunciar "aos princípios da revolução e do socialismo", disse no primeiro dia do oitavo congresso do Partido Comunista Cubano.

Em seu último grande discurso, dirigido ao novo governo democrata de Joe Biden, Raúl acrescentou que não se pode exigir de Cuba renunciar "à autodeterminação dos povos", um princípio da sua "política externa, comprometida com as causas justas" e com "o histórico apoio a países irmãos", destacou em alusão à Venezuela, entre outras nações.

Raúl Castro foi coautor, em 2014, do degelo entre os dois países ao lado do então presidente americano Barack Obama, que pôs fim a meio século de forte confronto e reativou as relações diplomáticas, rompidas desde 1961 e restabelecidas em 2015. No entanto, o republicano Donald Trump desmantelou boa parte dos avanços entre os dois países, e implementou um duro reforço ao embargo vigente desde 1962.

Em declarações citadas pela agência estatal de notícias Prensa Latina - o congresso partidário é realizado a portas fechadas e sem acesso para a imprensa estrangeira -, o irmão do ex-líder Fidel Castro disse que as mais de 200 medidas contra Cuba impostas durante o mandato de Trump manifestam a "natureza impiedosa do imperialismo".

Quando estava no poder, o empresário e agora ex-governante americano aboliu os canais legais para o envio de remessas, tornou mais rigorosos os requisitos para viajar para a o país caribenho, vetou cruzeiros, proibiu voos para todos os aeroportos cubanos, exceto o de Havana, e reincluiu a ilha na lista dos EUA de países patrocinadores do terrorismo.

Castro alegou que a política americana prejudica as relações econômicas de Cuba com praticamente todas as nações do planeta, falou que Cuba é alvo de uma "verdadeira caça" e criticou Washington por "sabotar o sistema empresarial, quebrar a gestão do Estado e promover o caos, estrangular o país e provocar uma explosão social".

Em Cuba, que está passando por uma grave crise econômica, esperava-se que a chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca, em janeiro, atenuasse as tensões bilaterais vividas com Trump e trouxesse uma nova aproximação. No entanto, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, ao ser questionada nesta sexta-feira sobre o congresso dos comunistas cubanos, reiterou que a mudança de política em relação a Havana não é uma prioridade para a política externa de Biden.

Simples militante

Ao apresentar seu Relatório Central ao Congresso, Castro ratificou sua vontade anunciada de deixar todo cargo de direção desta organização da qual, assegurou, permanecerá como um simples militante até o dia da sua morte. "Termina a minha tarefa como primeiro secretário (...) com a satisfação do dever cumprido e com a confiança no futuro da pátria, com a convicção meditada de não aceitar propostas para me manter nos órgãos superiores da organização partidária", destacou.

Em meio aos aplausos dos 300 delegados presentes ao evento, Castro, próximo dos 90 anos, assegurou que nada o "obriga a esta decisão". "Acredito fervorosamente na força e no valor do exemplo e na compreensão dos meus compatriotas", acrescentou.

A saída de Raúl Castro também marca a aposentadoria de outros membros do partido que fizeram parte do grupo de combatentes históricos que venceram a revolução em 1959 e que permaneceram até agora na direção do PCC. O congresso dará passagem a uma nova geração, liderada pelo presidente Miguel Díaz-Canel, de 60 anos.

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